sábado, 3 de janeiro de 2015

Capítulo 25

Eu estava deitada com os olhos fechados, as costas apoiadas no peito de Joseph, ouvindo o som da água se agitando enquanto ele passava as mãos sobre meu corpo na banheira com pés de bronze. Ele havia lavado meu cabelo e meu corpo.

Estava me fazendo um mimo, um agrado. Sabia que precisava se redimir da noite anterior, da maneira como havia me feito encarar a verdade — uma verdade que ele conhecia, mas precisava confirmar de uma vez por todas. Como Joseph era capaz de me entender tão bem, algo que eu mesma não conseguia?

"Me conta sobre ele", murmurou, abraçando-me pela cintura. Respirei fundo, mas aquela pergunta sobre Brett não me pegou de surpresa. Eu também conhecia muito bem meu amante.

"Primeiro me diz se ele está bem." Joseph fez uma pausa antes de responder.

"Não sofreu nenhum ferimento grave. Você se importaria se ele estivesse muito machucado?"

"Claro que me importaria." Ouvi seus dentes rangerem.

"Quero saber sobre vocês dois", Joseph exigiu, muito sério.

"Não."

"Demetria..."

"Não fale assim comigo, Joseph. Estou cansada de ser um livro aberto enquanto você guarda um monte de segredos." Virei a cabeça para o lado e apoiei a bochecha em seu peito.

"Se tudo o que você tem a me oferecer é seu corpo, eu aceito. Mas não vou dar mais nada em troca."

"Ou seja, você não quer. Vamos tentar ser..."

"Eu não consigo." Inclinei-me para a frente para poder virar e encará-lo. "Olha só o que está acontecendo comigo! Eu magoei você ontem à noite. De propósito. Sem nem me dar conta disso, porque estava remoendo um ressentimento terrível enquanto tentava me convencer de que consigo viver sem saber de todas essas coisas que você não quer me contar."

Ele se sentou e abriu os braços. "Estou me abrindo com você, Demetria! Você age como se não me conhecesse... como se tudo se resumisse ao sexo... mas você sabe mais sobre mim que qualquer outra pessoa."

"Vamos falar sobre o que eu não sei. Por que você é praticamente o dono da Vidal Records? Por que odeia a casa em que foi criado? Por que tem uma relação tão distante com sua família? O que você tem contra o doutor Terrence Lucas? Aonde tinha ido naquela noite em que tive um pesadelo? O que está por trás dos seus pesadelos? Por quê..."

"Já chega!", ele gritou, passando as mãos pelos cabelos molhados.

Eu me recostei, observando-o enquanto claramente lutava para se controlar. "Você devia saber que pode me contar qualquer coisa", eu disse baixinho.

"Ah, posso?" Ele me lançou um olhar penetrante. "O que sabe já não é suficiente para atormentar você? Quanto mais é capaz aguentar antes de sumir de vez da minha vida?"

Apoiei os braços nas bordas da banheira, encostei a cabeça e fechei os olhos. "Muito bem, então. Vamos ser meros companheiros de cama que discutem uma vez por semana na terapia. Que bom que esclarecemos isso."

"Eu trepei com ela", ele confessou. "Pronto. Está feliz agora?"

Sentei tão depressa que até derramei água para fora da banheira. Meu estômago deu um nó. "Com Corinne?"

"Não, porra." Ele ficou vermelho. "Com a mulher de Lucas."

"Ah..."

Eu me lembrei da foto que tinha visto na pesquisa que fiz no Google. "Ela é ruiva." Foi a única coisa que consegui dizer.

"Minha atração por Anne se baseava inteiramente na relação dela com Lucas." Franzi a testa, confusa. "Mas você e o doutor Lucas já tinham uma inimizade antes desse lance com a mulher dele? Ou começou por causa disso?" Joseph apoiou o cotovelo na borda da banheira e esfregou o rosto.

"Ele me afastou da minha família. Só retribuí a gentileza."

"Você fez com que eles se separassem?"

"Fiz com que ela quisesse a separação." Joseph suspirou, tenso.

"Ela veio falar comigo em um evento. Nem dei muita bola, pelo menos até descobrir quem era. Sabia que Lucas ficaria arrasado se a levasse pra cama. Então, quando a oportunidade surgiu, aproveitei. Era para ser só uma transa, mas Anne me ligou no dia seguinte. Como eu sabia que ele ficaria ainda mais magoado ao descobrir que ela quis mais, deixei acontecer. Quando estava a ponto de largar o marido por minha causa, mandei Anne de volta para ele."

Fiquei olhando para Joseph, para seu embaraço um tanto relutante. Ele certamente faria tudo de novo, caso tivesse a chance, mas não sentia orgulho daquilo.

"Diga alguma coisa!", ele gritou.

"Ela achou que você estava apaixonado?"

"Não. Porra, posso até ser um canalha por ter comido a mulher de outro, mas nunca prometi nada. Queria atingir Lucas através dela, não esperava esse efeito colateral. Se fosse hoje, não teria deixado a coisa chegar a esse ponto."

"Joseph", suspirei e sacudi a cabeça negativamente.

"O quê?" Ele estava inquieto, tenso, exalando uma energia nervosa. "Por que você disse meu nome desse jeito?"

"Porque você é ingênuo demais para a inteligência que tem. Você dormiu com essa mulher um monte de vezes e ainda fica surpreso por ela se apaixonar?"

"Deus." Ele jogou a cabeça para trás com um grunhido. "Lá vem você de novo com essa história."

Ele se endireitou de maneira abrupta. "Quer saber de uma coisa? Pode continuar pensando que eu sou um presente de Deus para as mulheres, meu anjo. Vou ficar mais tranquilo se você achar que nunca vai conseguir encontrar alguém igual a mim."

Joguei água nele. A facilidade com que desdenhava de seus atributos físicos era bem parecida com a minha. Ambos conhecíamos nossos pontos fortes e sabíamos tirar proveito deles. Só não éramos capazes de entender o que nos tornava tão especiais a ponto de as pessoas se apaixonarem por nós.

Joseph se inclinou para a frente e segurou minhas mãos. "Agora me conta sobre você e Brett Kline."

"Você não me contou o que o doutor Lucas fez pra te deixar tão irritado."

"Contei, sim."

"Não em detalhes", argumentei.

"É sua vez. Desembucha."

Precisei de um longo tempo para escolher bem as palavras. Homem nenhum queria uma vadia em recuperação como namorada. Mas Joseph esperou com toda a paciência. E obstinação. Eu sabia que só sairia daquela banheira depois de contar a ele sobre Brett.

"Para Brett eu era só uma transa fácil e garantida", fui logo confessando, querendo encerrar a conversa o mais depressa possível.

"E aceitei essa situação, me sujeitei a um monte de coisas por isso. Nessa época, o sexo era a única forma que eu conhecia de me sentir amada."

"Ele fez uma canção de amor pra você, Demetria."

Olhei para o outro lado. "Mas a verdade sobre nós daria uma música nem um pouco romântica, sabia?"

"Você era apaixonada por ele?"

"Eu... não."

Olhei para Joseph quando ele soltou um suspiro audível, como se estivesse prendendo a respiração até então.

"Eu sentia atração por ele, pelo jeito como cantava, mas era uma coisa totalmente superficial. Nem conhecia o cara direito, na verdade."

Seu corpo inteiro relaxou visivelmente.

"Então era meio que... uma fase? É isso?"

Confirmei com a cabeça e tentei soltar as mãos, queria pelo menos poder me esconder atrás da minha vergonha. Eu não culpava Brett nem nenhum dos outros caras com quem me envolvi pelo que minha vida sem tornou naquela época. A culpa era minha e de mais ninguém.

"Vem cá." Joseph me pegou pela cintura e me puxou para mais perto, juntando-me ao seu peito de novo. Seu abraço era a sensação mais maravilhosa do mundo.

Suas mãos acariciavam minhas costas, reconfortando-me."Não vou mentir pra você. Tenho vontade de encher de porrada todos os homens que passaram pela sua vida e seria bom se você os mantivesse bem longe de mim, mas nada a respeito do seu passado vai mudar o que sinto por você. Além disso, sei que também não sou nenhum santo..."

"Eu queria esquecer tudo isso", murmurei.

"Não gosto de me lembrar da pessoa que já fui."Joseph apoiou o queixo na minha cabeça.

"Eu sei como é. Por mais que me lavasse depois de transar com Anne, nada era capaz de impedir que me sentisse sujo."

Apertei seus braços ao redor da minha cintura, um sinal de que o entendia e queria reconfortá-lo. Para a minha felicidade, eu também me sentia aceita e reconfortada.

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