segunda-feira, 30 de junho de 2014

Capítulo 3

Senti meu corpo todo se aliviar, e minhas mãos desceram pela lapela de seu paletó. Talvez ele não estivesse mesmo procurando por ela e, ainda que estivesse, eu não poderia ser mais diferente de Corinne, tanto em termos deaparência como de temperamento. Eu era uma novidade. Uma mulher diferente de todas as outras, em todos os sentidos. Como eu queria que isso bastasse para
aplacar meu ciúme...
“Talvez fosse mais um padrão do que uma preferência.” Alisei a ruga que havia se formado em sua testa com a ponta do dedo. “Converse sobre isso com o doutor Petersen na consulta de hoje à noite. Eu queria ter mais a dizer depois de
tantos anos de terapia, mas não tenho. Existe um monte de coisas sem explicações entre nós, não é mesmo? Ainda não faço ideia do que foi que você viu em mim.”
“O grande mistério é o que você viu em mim, meu anjo”, ele respondeu em

voz baixa, amenizando a expressão do rosto. “Você sabe quem eu sou e me quer tanto quanto eu quero você. Todas as noites vou dormir com medo de que você
não esteja lá quando eu acordar. Ou que assuste você... com os meus sonhos...”
“Não, Joseph.” Meu Deus. Aquilo era de cortar o coração. Acabava comigo.
“Posso até não falar dos meus sentimentos da mesma maneira que você,
mas sou seu. Você sabe disso.”
“Sim, eu sei que você me ama.” Loucamente. Absurdamente. Obsessivamente.
Assim como eu.
“Sou louco por você, Demetria.” Com a cabeça inclinada para trás, ele me puxou
para me dar o mais doce dos beijos, seus lábios se movendo suavemente junto
aos meus. “Eu mataria por você”, ele sussurrou. “Abriria mão de tudo o que
tenho... mas não desistiria de você. Esses dois dias são o limite. Não me peça
mais que isso. Não consigo ceder mais.”
Eu sabia qual era o peso exato daquelas palavras. Sua riqueza era seu escudo, sua possibilidade de exercer o poder e o controle que havia perdido em algum momento da vida. Joseph tinha sido violado e brutalizado, assim como eu. O fato de preferir perder sua paz de espírito a abrir mão de mim significava
mais do que qualquer declaração de amor.
“Só preciso de dois dias, garotão, e vou te recompensar muito bem por eles.”
O brilho afetuoso de seu olhar foi substituído pelo desejo carnal. “Ah, é?
Está querendo compensar sua ausência com sexo, meu anjo?”
“Sim”, admiti sem a menor vergonha. “Muito sexo. Parece funcionar muito bem com você.”
Ele abriu um sorriso, mas seu olhar penetrante me fez perder o fôlego.
Aquele olhar me fazia lembrar que Joseph não era um homem que pudesse ser
manipulado ou domado — como se fosse possível esquecer.
“Ah, Demetria”, ele sussurrou, ajeitando-se no assento com a confiança indiferente
de um grande felino que tinha conseguido atrair um ratinho para sua toca.
Um tremor delicioso se espalhou por meu corpo. Quando se tratava de Joseph Jonas, o que eu mais queria no mundo era ser devorada.
Pouco antes de sair do elevador para o hall de entrada da Waters Field &
Leaman, a agência de publicidade em que eu trabalhava, no vigésimo andar do
edifício Crossfire, Joseph sussurrou no meu ouvido: “Pense em mim o dia todo”.
Apertei sua mão discretamente no elevador lotado. “É o que eu sempre
faço.”
Ele continuou subindo até o último andar, que abrigava a sede das
Indústrias Jonas. O Crossfire era uma de suas muitas propriedades na cidade,
que incluíam o prédio onde eu morava.
Eu tentava não dar muita bola para isso. Minha mãe era o protótipo da esposa troféu. Havia aberto mão do amor do meu pai em troca de um estilo de vida luxuoso, coisa com a qual eu não me identificava nem um pouco. Trocaria a riqueza pelo amor sem pensar duas vezes, mas acho que para mim era fácil dizer
isso, porque tinha dinheiro, distribuído em uma considerável carteira de investimentos.
Não que algum dia tivesse recorrido a ele. Aquela fortuna era fruto de muito sofrimento, a um custo inimaginável. Megumi, a recepcionista, destravou a porta de vidro da entrada e me cumprimentou com um enorme sorriso no rosto. Era linda e jovem, com os cabelos bem pretos emoldurando seus admiráveis traços asiáticos.
“Oi.” Eu parei em sua mesa. “Tem compromisso para o almoço?”
“Agora tenho.”
“Ótimo.” Abri um sorriso largo e sincero. Por mais que adorasse Cary e passasse ótimos momentos com ele, precisava ter amigas também. Além disso, Cary já estava começando a criar uma rede de conhecidos na cidade, e eu tinha sido sugada para o universo de Joseph praticamente no momento em que chegara. Por mais que gostasse de passar todo o meu tempo livre com ele, sabia que não era saudável. Amigas são fundamentais para oferecer uma nova perspectiva quando necessário, e eu precisava criar esses laços de amizade se quisesse me beneficiar deles mais tarde.
Depois de combinar o almoço, entrei pelo corredor, a caminho da minha baia. Quando cheguei à mesa, guardei a bolsa e a mala da ginástica na última gaveta e peguei o celular para pôr no silencioso. Vi que havia uma mensagem de
Cary: Desculpa, gata.
“Cary Taylor”, suspirei. “Eu te adoro... mesmo quando você me irrita.”
E daquela vez ele tinha me irritado pra valer. Mulher nenhuma gostaria de
entrar em casa e dar de cara com uma suruba bem no meio da sala. Muito menos depois de ter acabado de brigar feio com o novo namorado.
Respondi à mensagem: Reserve o fim de semana p/ mim.
A mensagem seguinte demorou a chegar, o que me fez pensar que ele estava
pensando a respeito. "Nossa, vc deve estar planejando me dar uma baita
surra".
“Talvez”, murmurei, estremecendo com a lembrança daquela... orgia que
encontrei em casa. Mas, acima de tudo, o que eu achava era que precisávamos
passar mais tempo juntos. Estávamos em Manhattan fazia pouco tempo. A cidade
era uma novidade para nós, tínhamos um apartamento novo, empregos novos
e namorados novos. Estávamos fora da nossa zona de conforto, o que não era nada fácil considerando nosso passado, e não sabíamos muito bem como lidar com tudo aquilo. Geralmente recorríamos um ao outro para restabelecer o equilíbrio, mas nos últimos tempos não vinha sendo esse o caso. Precisávamos
recuperar o tempo perdido.
Que tal uma viagem p/ Vegas? Só eu e vc?
Porra, fechado!
Ok. Conversamos mais tarde.
Depois de pôr o celular no silencioso e guardá-lo, passei os olhos pelos porta-retratos ao lado do meu monitor — um com fotos dos meus pais e de Cary, outro com fotos minhas com Joseph. Ele mesmo havia feito aquela colagem,
para que eu me lembrasse dele enquanto trabalhasse. Como se fosse preciso...
Eu adorava ter a imagem das pessoas que amava por perto: minha mãe com seus cabelos loiros ondulados, seu sorriso irresistível e seu corpo curvilíneo coberto apenas por um biquíni pequeno enquanto curtia o verão na Riviera
Francesa no iate do marido; Richard Stanton, meu padrasto, com sua postura imponente e distinta, seus cabelos brancos criando uma combinação curiosa com a juventude da esposa; e Cary, capturado em toda a sua glória fotogênica, com seus cabelos castanhos brilhantes, olhos verdes faiscantes, e um sorriso largo e malicioso. Aquele rosto de um milhão de dólares estava começando a ser presença constante nas revistas, e em pouco tempo estaria em outdoors e pontos
de ônibus, em anúncios da grife Grey Isles.
Através do corredor estreito, olhei para a parede de vidro do pequeno escritório
de Mark Garrity e vi seu paletó pendurado na cadeira, mas nem sinal
dele. Não foi nenhuma surpresa encontrá-lo na máquina de café, preparando
uma caneca para viagem — éramos ambos viciados em cafeína.
“Pensei que você já tivesse pegado o jeito”, comentei, referindo-me à sua
dificuldade com a nova cafeteira.
“Peguei, obrigado.” Mark ergueu a cabeça e abriu um sorriso charmoso.
Ele tinha a pele escura e reluzente, um cavanhaque bem aparado e olhos castanhos
que exalavam simpatia. Além de ser bonito, era um ótimo chefe — sempre disposto a me ensinar coisas valiosas sobre o mercado publicitário e ciente de
que para mim não era preciso pedir nada duas vezes. Trabalhávamos muito bem
juntos, e minha vontade era que essa parceria continuasse por muito tempo.
“Experimente”, Mark ofereceu, pegando outro copo fumegante no balcão.
“Experimente”, Mark ofereceu, pegando outro copo fumegante no balcão.
Aceitei de bom grado, notando que ele havia sido atencioso a ponto de acrescentar
creme e adoçante, exatamente como eu gostava.
Dei um gole cauteloso, já que a bebida estava quente, e fui obrigada a
tossir ao sentir um sabor inesperado e nada agradável. “O que é isso?”
“Café sabor blueberry.”
Não resisti à tentação de reclamar um pouco mais. “E por que alguém beberia
isso?”
“Ah, então... seu trabalho é descobrir, e depois posicionar isso no mercado.”
Ele levantou a caneca. “Um brinde à nossa nova conta.”
Sentindo um calafrio, respirei fundo e dei mais um gole.
Tinha certeza de que aquele sabor doce e enjoativo de blueberry artificial só sairia da minha boca várias horas depois. Como já estava na hora do intervalo,
fiz uma busca rápida na internet pelo dr. Terrence Lucas, que havia deliberadamente
provocado e irritado Joseph no jantar da noite anterior. Mal tinha
digitado o nome dele e o telefone da minha mesa começou a tocar.
“Escritório de Mark Garrity. Demetria Lovato falando.”
“É sério esse negócio de Las Vegas?”, perguntou Cary.
“Claro que é.”
Ele fez uma pausa. “É assim que você vai me contar que está indo morar
com seu namorado bilionário e que eu estou sozinho?”
“Quê? Não. Está maluco?” Fechei bem os olhos, tentando compreender a
insegurança de Cary, mas ao mesmo tempo pensando que éramos amigos havia tempo demais para esse tipo de dúvida existir. “Você não vai se livrar de mim tão cedo, pode ter certeza.”
“E você decidiu ir para Vegas do nada?”
“Mais ou menos. Achei que seria uma boa ficar na beira da piscina virando uns mojitos e usar e abusar do serviço de quarto por uns dias.”
“Não sei se posso me dar a esse luxo.”
“Não se preocupe, é tudo por conta de Joseph. No avião dele, no hotel dele.
A gente só precisa pagar o que consumir.” Não era verdade, já que eu pretendia pagar tudo, menos o transporte aéreo, mas Cary não precisava saber disso.
“E ele não vai?”
Recostei-me na cadeira e fiquei olhando para as fotos de Joseph. Eu já estava com saudades, e fazia apenas umas duas horas que tínhamos nos despedido.
“Ele tem que ir para o Arizona a trabalho, então vamos dividir o avião com ele, mas em Vegas vamos ser só nós dois. Acho que estamos precisando disso.”
“É verdade.” Ele respirou fundo. “Acho que seria bom respirar outros ares
e passar um tempo com minha melhor amiga.”
“Muito bem, então. Ele quer sair amanhã à noite, às oito.”
“Vou começar a arrumar a mala. Quer que eu prepare a sua?”
“Você faria isso? Seria ótimo!” Cary poderia ser estilista ou assessor de
moda. Ele tinha muito talento no que dizia respeito a roupas.
“Demi?”
“Oi?”
Ele suspirou. “Obrigado por aturar as merdas que eu faço.”
“Para com isso.”
Depois de desligar, fiquei olhando para o telefone por um bom tempo, lamentando
o fato de Cary estar tão infeliz em um momento em que as coisas começavam a caminhar bem em sua vida. Ele era especialista em se sabotar,
porque nunca tinha acreditado que merecia ser feliz.
Quando tentei voltar minha atenção para o trabalho, a página do Google aberta no monitor me fez lembrar que estava tentando descobrir mais sobre o dr. Terry Lucas. Havia alguns artigos sobre ele na internet, com fotos que comprovavam se tratar dele mesmo.
Pediatra. Quarenta e cinco anos. Casado há vinte. Já um pouco tensa, fiz uma nova busca por “dr. Terrence Lucas e esposa”, morrendo de medo de ver surgir na tela uma morena com longos cabelos negros. Para meu alívio, a sra. Lucas era uma mulher bem branquinha, com cabelos ruivos curtinhos.
Mas isso só fez crescer minha dúvida. Eu achava que uma mulher era a causa da briga dos dois.
No fundo, a verdade era que eu e Joseph não sabíamos muita coisa um sobre o outro. Só os podres. Bom, pelo menos ele sabia dos meus; os dele eu
havia apenas suposto, com base nas evidências mais óbvias. Dispúnhamos
somente do conhecimento obtido com base nas muitas noites em que dormimos
juntos. Ele conhecia metade da minha família e eu conhecia metade da dele.
Mas não estávamos juntos havia tempo suficiente para absorver todas as informações
periféricas. E, sendo bem sincera, acho que evitávamos um pouco
ficar interrogando um ao outro, como se tivéssemos medo de que mais alguma
coisa aparecesse para atrapalhar um relacionamento cujas bases já não eram tão
sólidas assim para começo de conversa.
Estávamos juntos porque éramos viciados um pelo outro. Nunca tinha me sentido tão inebriada como quando estávamos felizes juntos, e sabia que o mesmo valia para ele. Estávamos sacrificando muita coisa em troca desses momentos
de perfeição, tão fugazes que só por pura teimosia e determinação — e pelo amor que sentíamos — continuávamos lutando por eles.
Agora já chega de me torturar.
Abri meu e-mail e recebi meu alerta diário do Google sobre Joseph Jonas.
A maior parte dos links eram fotos de nós dois no jantar de caridade realizado no Waldorf-Astoria na noite anterior. Joseph aparecia vestido a rigor, mas sem
gravata.
“Meu Deus.” Não consegui evitar pensar na minha mãe ao me ver naquelas
fotos, bebendo champanhe e usando um vestido Vera Wang. E não só porque eu
era muito parecida com ela — com exceção dos cabelos longos e lisos —, mas
também por estar acompanhada de um multimilionário. Dianna Lovato Barker Mitchell Stanton era muito, muito boa na função
de esposa troféu. Sabia exatamente o que se esperava dela e executava seu papel à perfeição, embora já tivesse se divorciado duas vezes, ambas por iniciativa própria e para desgosto do ex-marido. Eu não fazia um mau juízo da minha mãe, porque sabia que ela era uma esposa dedicada e sincera, mas durante toda a minha vida quis ser independente. Meu direito de dizer não era a coisa que eu mais valorizava no mundo.
Minimizei a janela do e-mail, deixei minha vida pessoal de lado e comecei a pesquisar sobre cafés com sabor. Tratei também de marcar as primeiras reuniões com o pessoal do setor de estratégia de marketing e ajudei Mark com algumas ideias para a campanha de uma rede de restaurantes cuja bandeira era servir comida sem glúten. A hora do almoço estava chegando, e meu apetite só aumentava quando o telefone tocou. Atendi com a saudação habitual.
“Demetria?” Era uma voz feminina do outro lado da linha. “É Magdalene. Você tem um minutinho?”
Eu me recostei na cadeira, cautelosa. Magdalene e eu havíamos nos identificado
brevemente uma com a outra quando da chegada de Corinne, mas nunca esqueci como ela me tratou mal quando nos conhecemos. “Estou meio sem tempo, mas tudo bem. O que foi?”
Ela suspirou e começou a falar bem depressa, soltando uma avalanche de palavras. “Eu estava sentada bem atrás de Corinne ontem à noite. Consegui ouvir algumas coisas que ela e Joseph disseram durante o jantar.”
Senti um frio na barriga, preparando-me para um tremendo baque emocional.
Magdalene sabia muito bem como explorar minha insegurança em relação
a Joseph. “Dizer esse tipo de coisa enquanto estou trabalhando é um golpe muito baixo”, fui logo dizendo. “Não estou nem um pouco...”
“Ele não estava ignorando você.”
Fiquei de boca aberta por um instante, mas Magdalene logo preencheu o silêncio.
“Ele estava se esquivando dela. Corinne estava fazendo sugestões de lugares de Nova York para levar você, já que é nova na cidade, mas sua verdadeira intenção era fazer aquele velho jogo do lembra-quando-a-gente-foi-emtal-lugar?”
“Uma celebração dos velhos tempos”, murmurei, sentindo-me feliz por não ter conseguido ouvir os cochichos de Joseph e sua ex.
“Isso.” Magdalene respirou fundo. “Você foi embora porque pensou que ele estava te ignorando. Só queria que você soubesse que ele estava tentando impedir que Corinne te magoasse.”
“E por que você faria isso?”
“Não sou exatamente boazinha, mas me sinto em dívida com você, pela maneira como me comportei daquela vez.”
Parei um pouco para pensar a respeito. Ela de fato tinha uma dívida
comigo, por ter me seguido até o banheiro e dito um monte de besteiras típicas
de mulher ciumenta e invejosa. Não que eu acreditasse que aquela era sua única
motivação. Talvez eu fosse a opção menos desagradável entre as duas que se
desenhavam no horizonte. Talvez ela gostasse de manter os inimigos sempre por
perto. “Certo. Obrigada.”
Não havia como negar que eu estava me sentindo melhor. Um peso do qual
eu nem me dava conta de que estava carregando havia sido removido dos meus
ombros.
“Só mais uma coisa”, continuou Magdalene. “Ele foi atrás de você.”
Segurei o telefone com ainda mais força. Joseph sempre ia atrás de mim... porque eu estava sempre fugindo. Meu equilíbrio psicológico era algo tão frágil que aprendi que deveria mantê-lo a qualquer custo. Quando algo ameaçava
minha estabilidade emocional, eu dava no pé.
“Outras mulheres já tentaram esse tipo de ultimato antes, Demetria. Ficaram
entediadas, ou queriam uma demonstração grandiosa da parte dele... Viraram as
costas e saíram andando, esperando que ele fosse atrás. Sabe o que ele fez?”
“Nada”, respondi sem me alterar, sabendo com quem estava lidando: um homem que nunca interagia socialmente com mulheres com quem transava e que não transava com as mulheres com quem interagia socialmente. Corinne e eu éramos a única exceção a essa regra, mais um motivo para eu morrer de ciúmes dela.
“Nada além de mandar Angus levá-las para casa em segurança”, confirmou
Magdalene, fazendo-me pensar que ela também já havia tentado essa tática em algum momento. “Mas, quando você saiu, ele não teve tempo de te alcançar. E, quando veio se despedir, ele estava muito estranho. Parecia... fora de si.”
Porque ele estava com medo. Fechei os olhos enquanto me punia mentalmente.
Joseph já havia me dito mais de uma vez que ficava apavorado quando eu fugia, porque não suportava a ideia de nunca mais me ver. De que adiantava dizer que não conseguia me imaginar vivendo sem ele quando minhas ações
mostravam o contrário? Não era à toa que ele ainda não tinha conseguido se abrir comigo sobre seu passado.
Eu precisava parar de fugir. Joseph e eu teríamos que segurar a barra —por nós — se quiséssemos que nosso relacionamento desse certo.
“E agora estou em dívida com você, é isso?”, perguntei sem nenhuma emoção na voz, acenando para Mark, que saía para o almoço.
Magdalene soltou um suspiro. “Joseph e eu nos conhecemos há muito tempo. Nossas mães são muito amigas. Eu e você vamos nos encontrar o tempo todo, Demetria, e precisamos arrumar um jeito para que isso aconteça sem nenhum
constrangimento.”
Aquela mulher tinha ido atrás de mim no banheiro e dito sem cerimônias
que, assim que Joseph enfiasse o pau em mim, nossa relação estaria acabada. E isso em um momento em que eu me sentia particularmente vulnerável.
“Escuta só, Magdalene, se você parar com esse drama, vai ficar tudo bem.”
E, aproveitando a sinceridade dela... “Sou capaz de arruinar meu relacionamento com Joseph sozinha, pode acreditar. Não preciso de ajuda pra isso.”
Ela deu uma risadinha amena. “Foi o que eu fiz. Fui cuidadosa e acomodada demais. Mas agora é entre vocês dois. Enfim... já ocupei você por bem mais de um minuto. Vou desligar.”
“Bom fim de semana”, eu disse, em vez de agradecer. Ainda não confiava
nas boas intenções dela.
“Pra você também.”
Quando pus o telefone no gancho, bati o olho nas minhas fotos com Joseph. De repente, senti-me dominada por uma sensação de paixão e desejo.
Ele era meu, ainda que eu não soubesse até quando isso duraria. E a ideia de que
terminaria nos braços de outra mulher me deixava maluca.
Abri a gaveta e procurei meu celular dentro da bolsa. Motivada pela vontade
de fazê-lo pensar em mim com a mesma intensidade, escrevi uma mensagem sobre minha súbita vontade de devorá-lo inteiro: Daria qualquercoisa pra estar chupando seu pau agora.

domingo, 29 de junho de 2014

Capítulo 2

Ele apanhou o paletó, fez sinal para que eu atravessasse sua luxuosa sala,
onde estava a sacola com meu tênis de caminhada e outros artigos de primeira
necessidade. Poucos instantes depois, tendo descido até o térreo em um elevador
particular, estávamos no banco de trás do Bentley preto.
“Oi, Angus.” Cumprimentei o motorista, que bateu com os dedos na aba de
seu quepe de chofer à moda antiga.
“Bom dia, senhorita Lovato”, ele respondeu com um sorriso. Era um
homem de certa idade, com uma boa quantidade de fios brancos na cabeleira
ruiva. Eu gostava dele por inúmeros motivos, e um dos principais era que Angus
trabalhava para Joseph desde a época do colégio e gostava dele de verdade.
Com uma rápida olhada no Rolex, presente da minha mãe e do meu
padrasto, confirmei que chegaríamos a tempo... se não ficássemos presos no
trânsito. Justamente quando pensei nisso, Angus adentrou o mar de táxis e carros
que inundavam a cidade. Depois do silêncio carregado de tensão no apartamento
de Joseph, o ruído de Manhattan funcionou como uma dose de cafeína
para me despertar. O alarido das buzinas e o som do choque dos pneus contra as
bocas de lobo serviram para me revigorar. Pedestres apressados percorriam ambos
os lados da rua, enquanto os prédios se elevavam ambiciosamente na
direção do céu, mantendo-nos na sombra apesar do sol cada vez mais alto.
Eu amava Nova York. Todos os dias precisava fazer força para me acostumar
à cidade, para acreditar que estava ali.
Ajeitei-me no assento de couro e procurei a mão de Joseph, apertando-a
bem forte. “Você acharia melhor se eu e Cary saíssemos da cidade no fim de semana?
E se fôssemos para Las Vegas?”
Joseph estreitou os olhos. “Você acha que tenho alguma coisa contra Cary?

É por isso que não quer ir com ele para o Arizona?”
“Quê? Não. Acho que não.” Eu me remexi mais um pouco no assento antes
de encará-lo. “É que às vezes demora um bocado pra Cary começar a se abrir.”
“Você acha que não?”, ele repetiu, ignorando todo o resto da resposta.
“Talvez ele pense que não pode mais contar comigo, porque passo o tempo
todo com você”, esclareci, segurando o copo de café com as duas mãos enquanto
passávamos por um trecho esburacado. “Você vai ter que aprender a superar
esse ciúme de Cary. Quando digo que ele é um irmão pra mim, Joseph, estou
falando sério. Você não precisa gostar dele, mas tem que aceitar que faz parte da
minha vida.”
“É isso que você fala para ele sobre mim?”
“Eu não falo nada. Ele sabe. Estou tentando fazer um acordo aqui...”
“Eu não faço acordos.”
Minhas sobrancelhas se ergueram. “Nos negócios tenho certeza que não.
Mas num relacionamento, Joseph, é preciso saber quando ceder e...”
Ele me interrompeu com uma declaração enfática: “No meu avião, no meu
hotel, e você só pode sair escoltada por uma equipe de seguranças”.
O modo repentino e um tanto relutante como ele concordou comigo me
deixou surpresa e sem ter o que dizer por um instante. Foi tempo suficiente para
ele erguer as sobrancelhas e me encarar com seus olhos castanho-esverdeados penetrantes como quem diz “É pegar ou largar”.
“Você não acha meio exagerado?”, argumentei. “Cary vai estar comigo.”
“Você tem que entender que não confio mais nele para garantir sua segurança
depois do que aconteceu ontem à noite.” A postura de Joseph enquanto bebia
o café deixava bem claro que estava tudo decidido. Ele havia me proposto a
alternativa que lhe parecia mais razoável.
Eu até poderia me incomodar com esse tipo de imposição, se não entendesse
que sua motivação principal era cuidar de mim. Meu passado era habitado
por fantasmas terríveis, e meu namoro com Joseph me pôs em uma
posição capaz de levar Nathan Barker a se sentir tentado a bater na minha porta.
Além disso, a necessidade de controlar tudo a seu redor fazia parte do temperamento
de Joseph. Era algo que vinha com o pacote, de que ele não abria mão.
“Certo”, concordei. “Qual é o seu hotel?”
“Tenho mais de um. Pode escolher.” Ele se virou e olhou pela janela. “Scott
vai te mandar a lista por e-mail. Quando decidir, é só avisar que ele cuida de
tudo. A gente pode ir e voltar no mesmo avião.”
Encostando os ombros no assento, bebi mais um gole do café e percebi que
Joseph estava com o punho fechado. No reflexo do vidro escuro do carro, seu
rosto parecia impassível, mas seu mau humor era palpável.
“Obrigada”, murmurei.
“Não agradeça. Não estou nada feliz com isso, Demetria.” Um músculo se contraiu
em seu maxilar. “Cary pisou na bola e fui eu que perdi o fim de semana com você.”
Não gostei de ouvir que ele estava chateado, então apanhei o copo de café
de sua mão e pus os dois no porta-copos. Depois pulei no colo dele e joguei meus
braços sobre seus ombros. “Fico feliz que você tenha cedido, Joseph. Significa
muito para mim.”
Ele me encarou com um olhar de filhotinho. “Eu sabia que você ia acabar
me deixando maluco assim que pus os olhos em você.”
Dei risada, lembrando-me de quando nos conhecemos. “Caindo de bunda
no saguão do prédio?”
“Antes disso. Lá fora.”
“Lá fora onde?”, perguntei, franzindo o rosto.
“Na calçada.” Joseph agarrou meus quadris, apertando-me da maneira
possessiva e dominante que me fazia morrer de tesão por ele. “Eu estava saindo
pra uma reunião. Se saísse um minuto mais cedo não teria te visto. Tinha
acabado de entrar no carro quando você virou a esquina.”
 Lembrei-me do Bentley estacionado no meio-fio naquele dia. Eu estava
impressionada demais com o prédio para notá-lo quando cheguei, mas vi que
estava lá quando saí.
“Você me abalou à primeira vista”, ele comentou com a voz um pouco rouca.
“Eu não conseguia desviar os olhos. Queria ter você naquele momento. Era
um desejo excessivo. Quase violento.”
Como eu nunca soube que nosso primeiro encontro envolvia muito mais
do que eu imaginava? Pensei que tivéssemos esbarrado um no outro por
acidente. Mas Joseph já estava indo embora... o que significava que tinha
voltado só para me ver.
“Você parou bem ao lado do carro”, ele continuou, “e jogou a cabeça para
cima. Estava olhando para o prédio, mas imaginei você de joelhos na minha
frente, com os olhos voltados para mim.”
Seu tom de voz sussurrado fez com que eu começasse a me contorcer em
seu colo. “Olhando para você como?”, perguntei baixinho, hipnotizada pelo calor de seu olhar.
“Com tesão. Um pouco impressionada... um pouco intimidada.” Ele agarrou
minha bunda e me puxou para mais perto. “Eu não tinha como deixar de ir
atrás de você lá dentro. E lá te encontrei, bem do jeito que eu queria, ajoelhada
na minha frente. Naquele momento, pensei no monte de coisas que faria quando
conseguisse deixar você peladinha.”
Engoli em seco, lembrando que minha reação não havia sido muito diferente. “Quando vi você pela primeira vez, só consegui pensar em sexo. Sexo
selvagem, de rasgar os lençóis.”
“Eu percebi.” Ele acariciava minhas costas com ambas as mãos. “E percebi
também o jeito como me olhou. Você viu quem eu era... o que havia lá dentro.
Conseguiu enxergar através de mim.”
E foi isso que me fez cair para trás — literalmente. Olhei bem em seus olhos
e percebi a força que ele fazia para se reprimir, para não deixar transparecer as atribulações que havia dentro de si. O que vi ali foi sede de poder e de controle.
E, no fundo, sabia que cedo ou tarde ele tomaria posse de mim. Foi um alívio
descobrir que sentia a mesma coisa.
Joseph me puxou pelos ombros até nossas testas se tocarem. “Ninguém
nunca tinha me visto antes, Demetria. Você foi a única.”
Senti um nó na garganta. Em muitos sentidos, Joseph era um sujeito
durão, mas sabia ser meigo comigo. E de uma maneira quase infantil, o que eu
adorava, porque era uma coisa pura e espontânea. Se a pessoa não conseguia
enxergar nada além de seu rosto bonito e sua conta bancária recheada, então
não merecia tê-lo. “Eu nem me dei conta. Você parecia tão... seguro de si. Nem
imaginei que tivesse causado algum efeito em você.”
“Seguro?”, ele ironizou. “Eu estava morrendo de tesão. E continuo assim
até agora.”
“Nossa. Obrigada.”
“Você se tornou indispensável pra mim”, ele sussurrou. “Agora não
suporto a ideia de ficar dois dias sem você.”
Segurei seu queixo, eu o beijei com carinho, quase num pedido de desculpas.
“Eu também te amo”, murmurei com a boca colada à dele. “Não suporto
ficar longe de você.”
Ele retribuiu o beijo com paixão, devorando-me, mas ainda assim me segurando
contra ele de uma forma gentil e respeitosa. Como se eu fosse frágil.
Quando o beijo acabou, estávamos ambos ofegantes.
“Eu nem fazia seu tipo”, comentei, como uma provocação para aliviar a
tensão antes de começarmos a trabalhar. A preferência de Joseph pelas morenas
era pública e notória.
Senti que o Bentley estava estacionando. Angus saiu do carro para nos dar
mais privacidade, deixando o motor e o ar-condicionado ligados. Olhei pela
janela e vi o prédio Crossfire pairando acima de nós.
“Sobre isso...” Joseph recostou a cabeça no assento e respirou fundo.
“Corinne ficou surpresa ao ver você. Não era o que ela esperava.”
Cerrei os dentes ao ouvir o nome da ex-noiva de Joseph. Mesmo sabendo
que sua relação tinha mais a ver com amizade e companheirismo do que com
amor, o ciúme ainda causava estragos em mim. Era um dos meus defeitos mais
evidentes. “Porque sou loira?”
“Porque... você não se parece em nada com ela.”
Perdi o fôlego. Jamais tinha me dado conta de que Corinne era o padrão de
mulher para ele. Eu sabia que Magdalene Perez — uma das amigas de Joseph
que gostariam de ser algo mais — tinha deixado o cabelo crescer só para ficar
parecida com Corinne, mas ainda não tinha notado a complexidade daquilo
tudo. Meu Deus... Se era verdade, Corinne possuía um poder enorme sobre
Joseph, muito mais do que eu era capaz de suportar. Senti meu coração disparar e meu estômago revirar. Sentia um ódio irracional por Corinne. Detestava o fato
de Joseph ter alguma intimidade com ela. Abominava todas as mulheres que
haviam sentido seu toque... seu desejo... seu corpo sensacional.
Comecei a sair de cima dele.
“Demetria.” Joseph me manteve junto a ele, apertando com força minhas coxas.
“Não sei se ela está certa.”
Olhei para o lugar onde ele estava me apertando, e a visão do anel que eu
tinha dado em sua mão direita — o sinal de nosso compromisso — me acalmou,
assim como a expressão confusa em seu rosto quando o encarei. “Ah, não?”
“Se foi isso mesmo, foi uma coisa inconsciente. Eu não estava procurando
outras mulheres como ela. Não estava procurando nada, na verdade, até encontrar
você.”

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Capítulo 1

   Eu amava Nova York de maneira ensandecida.Era o tipo de paixão que reservava a apenas mais uma coisa na minha vida.A cidade era um microcosmo que aliava as oportunidades do Novo Mundo as tradições do Velho Continente.Conservadores andavam lado a lado com boêmios.Novidades bizarras ocupavam o mesmo espaço que raridades de valor inestimável.A energia pulsante da cidade alavancava grandes negócios internacionais,atraindo gente de todo o mundo.
    E a incarnação de toda essa vibração,ambição irrefreável e sede de poder em escala global havia acabado de me proporcionar dois orgasmos incríveis,de contorcer os dedos dos pés.
   Enquanto eu caminhava até o closet gigantesco, olhei a cama desarrumada de Joseph Jonas e estremeci com a recordação de prazer que havia sentido ali.Meus cabelos ainda estavam molhados do banho, e eu tinha apenas uma toalha enrolada no corpo.Faltava uma hora e meia para o início do expediente de modo que eu não tinha tempo a perder.Eu precisava reservar um tempinho na rotina da manhã para o sexo,caso contrário estaria sempre atrasada.Joseph sempre acordava pronto para conquistar o mundo e gostava de exercitar seu lado dominador comigo antes de qualquer coisa.
   Eu tinha muita sorte.
 O mês de julho estava chegando,e a temperatura em Nova York só subia.Escolhi uma calça de linho bege e uma blusinha cinza sem mangas que combinava com meus olhos.Como não tinha o menor talento para me pentear,prendi meus longos cabelos loiros em um rabo de cavalo simples e me maquiei. Quando senti que estava apresentável, sai do quarto.
  Assim que pisei no corredor, ouvi a voz de Joseph.Senti um pequeno arrepio percorrer meu corpo quando percebi que ele estava irritado.Seu tom de voz era seco e grave. Ele não perdia a cabeça com facilidade... a não ser que eu o provocasse. Era capaz de fazê-lo gritar, xingar e querer arrancar os lindo cabelos negros que cobriam sua cabeça.
  Na maior parte do tempo, porém, Joseph era um exemplo de força bruta contida. Ele não precisava gritar para intimidar alguém , bastava um olhar ou uma palavra mais incisiva.
 Fui até o escritório.Ele estava de pé, de costas para a porta, usando um fone de ouvido. Com os braços, olhava pela janela de sua cobertura na Quinta Avenida, transmitindo a imagem de uma profundamente solitária, alheia ao mundo ao seu redor, embora capaz de governa-lo.Em todos os sentidos.
  Apoiada ao batente da porta, saboreei a visão. Com certeza minha vista de Nova York era muito mais inspiradora que a dele. Da minha perspectiva, além dos arranha-céus, via-se um homem igualmente imponente. Joseph tinha tomando banho antes que eu saísse da cama. Ele vestia duas das três peças de um caríssimo terno feito sob medida. O tipo de roupa que me excitava num homem, sobre o seu corpo altamente viciante. Vendo-o de costas, eu podia admirar sua bunda perfeita e costas largas delineadas pelo colete.
Na parede, havia uma enorme colagem de nós dois, além de uma foto muito íntima tirada enquanto eu dormia. A maioria delas haviam sido feitas pelos paparazzi que nos seguiam a cada passo.Ele era Joseph Jonas, das Indústrias Jonas,que aos vinte anos já era uma das vinte e oito anos já era uma das vinte pessoas mais ricas do mundo. Eu desconfiava que ele ara dono de boa parte de Manhattan, e tinha certeza absoluta que era o homem mais lindo do planeta. Havia fotos minhas espalhadas por todos os  escritórios de Joseph, como se olhar pra mim fosse mais divertido quanto olhar para ele.  
 Ele se virou,girando elegantemente sobre os pés para me encarar com seus olhos castanho-esverdeados. Joseph sabia que eu estava lá, olhando para ele. Havia uma energia no ar quando chegávamos perto um do outro, uma espécie de tensão nervosa que lembrava o silêncio que precede o trovão. Ele provavelmente tinha adiado de propósito o momento que ficaria de frente para mim, de modo que eu pudesse admira-lo mais um pouco.
  Um moreno perigoso. E todo meu.
 Nossa... Eu jamais me acostumaria com o impacto daquele rosto. O contorno de suas feições, as sobrancelhas arqueadas, os olhos azuis com cílios grossos e  aquela boca...perfeitamente talhada para ser igualmente sensual e perversa. Eu adorava quando aquela boca sorria me convidando para o sexo, e estremecia quando a via se contrair em uma expressão fria e tensa. Quando aqueles lábios tocavam meu corpo, eu ardia.
 Que maluquice é essa? Abri um sorriso ao me lembrar o quanto me irritava ouvir minhas amigas descrevendo poeticamente a beleza de seus namorado. Mas lá estava eu, sempre de queixo caído diante do visual irresistível daquele homem complicado,perturbador,traumatizado e sexy por quem eu me apaixonava um pouco mais a cada dia.
 Ainda que olhássemos um para o outro, sua expressão não se amenizou, e ele não parou nem um instante de falar com o pobre coitado do outro lado da linha, mas a irritação em seu olhar foi substituída por uma intensidade dramática.
Eu já deveria ter ter me acostumado á mudança que ocorria quando ele me olhava, mas ainda me abalava a ponto de estremecer. Aquele olhar demonstrava a força e a intensidade com que ele queria me comer (o que fazia sempre que possível), e me oferecia um vislumbre de sua determinação irreprimível. A liderança e o pulso firme eram a marca de Joseph em tudo o que fazia na vida.
" Vejo você no sábado, ás oito", ele disse antes de arrancar o fone de ouvido e arremessá-lo sobre a mesa. "Vem cá, Demetria".
 Mais uma vez eu estremeci ao ouvi-lo dizer meu nome no mesmo tom autoritário como dizia "Goza, Demetria" quando eu estava debaixo dele... sentindo-o dentro de mim...desesperada para chegar ao orgasmo...
 " Não temos tempo para isso, garotão..." Voltei para o corredor, por que não confiava em mim mesma quando estava perto dele. O leve toque de rouquidão em seu tom de voz suave e contido era capaz de me fazer gozar. Quando ele me tocava, eu me desmanchava inteira.
 Fui até a cozinha fazer o café.
 Ele resmungou alguma coisa bem baixinho e me alcançou facilmente com suas passadas largas. Quando percebi,estava espremida contra a parede por um metro e noventa centímetros de pura gostosura masculina.
" Você sabe o que acontece quando tenta fugir,meu anjo." Joseph mordeu meu lábio inferior e aplacou a dor acariciando com a língua. "Eu pego você."
Senti meu corpo relaxar e se render alegremente ao prazer da proximidade daquele aperto. Eu o desejava o tempo todo, e com tanto ardor que até doía.Era luxurioso,mas tinha algo mais. Alguma coisa delicada, e profunda fazia com que o desejo que Joseph sentia por mim não funcionasse como um gatilho para sentimentos desagradáveis que poderiam vir á tona com outros homens. Se outra pessoa me subjugar com o peso do corpo daquele jeito, eu teria um ataque. Mas isso nunca foi problema para Joseph.Ele sabia do que eu precisava e o quanto era capaz de suportar.
Ele abriu um sorriso que fez meu coração parar de bater por um momento.
Diante daquele rosto maravilhoso, emoldurado por cabelos negros e sedosos, senti minhas pernas fraquejarem. Ele era elegante e contido. O único toque de ousadia em sua aparência eram os cabelos.
 Joseph esfregou seu nariz contra o meu " Você não pode sorrir para mim daquele jeito e me dar as costas.No que estava pensando enquanto eu falava ao telefone?"
 Abri um sorrisinho malicioso "Em como você é lindo.Penso nisso o tempo todo.Ainda não me acostumei."
Ele agarrou a parte de trás de uma das minhas coxas e me puxou para mais perto,provocando-me com o balanço irresistível dos seus quadris contra os meus. Joseph era absurdamente bom de cama. E sabia muito bem disso. "Não vou deixar você se acostumar."
 "Mesmo?" O tesão já percorria minhas veias e meu corpo ansiava pelo toque de Joseph. " Não acredito que você queira outra mulher obcecada no seu pé o tempo todo."
" O  que eu quero", ele sussurrou,agarrando meu queixo e acariciando meu lábio inferior com o polegar, " é que você se mantenha ocupada demais pensando em mim para poder pensar em qualquer outra pessoa."
 Soltei um suspiro lento e trêmulo. Estava absolutamente entregue ao olhar quente em seu rosto, ao tom provocador de sua voz e ao gosto divino de sua pele. Ele era minha droga, um vício que eu não tinha a menor vontade de largar.
 "Joseph", murmurei, deliciada.
Soltando um gemido suave, Joseph cobriu minha boca com a dele, e meus pensamentos se esvaíram com um beijo intenso e luxurioso... um beijo que conseguiu desviar a minha atenção da insegurança que Joseph havia acabado de despertar.
Enfiei os dedos em seus cabelos para que ficasse imóvel e retribuí o beijo, acariciando e atacando sua língua com a minha. Não fazia muito tempo que éramos um casal.Menos de um mês.Para piorar nenhum dos dois tinha experiência,em um relacionamento como aquele, um relação em que nenhuma das partes precisava se preocupar em fingir que não era profundamente traumatizada.
 Seus braços se juntaram em torno de mim e me apertaram possessivamente. "Adoraria passar o fim de semana com você em uma ilha no sul da Flórida... sem roupa."
 "Hum... parece ótimo." Mais que ótimo. Por mais que eu gostasse de ver Joseph de terno,preferia mil vezes vê-lo sem nada. Não comentei nada que estaria disponível aquele fim de semana.
 "Mas tenho negócios a tratar este fim de semana..."
 "Negócios que você deixou de lado para ficar comigo?" Joseph saia do trabalho mais cedo durante a semana para ficarmos mais tempo juntos,e eu sabia que isso não era nada fácil para ele. Minha mãe estava em seu terceiro casamento e todos os maridos dela eram ricos e poderosos, bem parecidos entre si. Eu tinha consciência de que o preço da ambição eram horas e horas de dedicação.
 "Pago um salário muito generoso a algumas pessoas para poder ficar com você."
 Uma boa resposta,mas ao notar uma pontinha de irritação se insinuar em seus olhos, resolvi mudar de assunto. " Obrigada. Agora vamos tomar café antes que a gente se atrase."
 Joseph percorreu meu lábio inferior com a língua e então me  soltou. " Quero decolar amanhã ás oito da noite. Não precisa levar muita coisa. O Arizona é quente e seca."
 "Quê?" Fiquei perplexa. Ele virou as costas e desapareceu dentro do escritório. " Você tem negócios a tratar no Arizona?"
 " Infelizmente."
 Opa... Em vez de perder a chance de tomar café, preferi adiar a discussão e ir até a cozinha. O apartamento de Joseph era enorme, um exemplo da arquitetura do pré-guerra, com janelas arqueadas. O som dos meus saltos batendo no piso reluzente de madeira era abafado pelos tapetes Aubusson. Decorados com peças de madeira escura e tecidos naturais, o tom sóbrio daquele espaço luxuoso só era quebrado pelo brilho colorido das peças ornamentadas com pedras preciosas. Por mais que se tratasse de um ambiente luxuosíssimo, ainda era um lugar aconchegante e acolhedor,o lugar  perfeito para relaxar e ser mimada.
 Quando cheguei a cozinha, fui logo pondo um copo descartável na cafeteira.Joseph apareceu com o paletó estendido no braço e o celular na mão. Fiz um café para ele e fui até a geladeira pegar o leite.
 "Acho que dei sorte, no fim das contas." Eu o encarei e o lembrei de que tinha questões a resolver com o meu colega de quarto. "Preciso conversar com Cary este fim de semana."
   Joseph pôs o telefone no bolso de dentro do paletó e o pendurou em umdos banquinhos do balcão. “Você vai comigo, Demetria.”
Soltando um suspiro, despejei o leite no café. “Pra fazer o quê? Ficar lá deitada sem roupa, esperando você voltar do trabalho pra me comer?"
Ele me encarou e começou a beber o café fumegante com uma tranquilidade calculada. “Vamos brigar por causa disso?”
“Você vai dar uma de cabeça-dura? Já conversamos sobre isso. Não posso deixar Cary sozinho depois do que aconteceu ontem à noite.” A multidão engalfinhada que encontrei na minha sala na noite anterior dava um novo significado  à palavra “suruba”.
Pus o leite de volta na geladeira e experimentei a sensação de ser inexplicavelmente submetida à força de vontade de Joseph. Era assim desde o
começo. Quando queria, ele era capaz de me fazer sentir fisicamente suas exigências. E era difícil demais ignorar aquela parte de mim que só queria fazer o que ele mandasse. “Você vai cuidar dos seus negócios e eu vou cuidar do meu amigo. Depois vamos cuidar de nós dois.”
“Só vou voltar no domingo à noite, Demetria.”
Ah... Senti um frio na barriga ao ouvir que ficaríamos tanto tempo longe um do outro. A maior parte dos casais não passa todo o tempo livre juntos, mas éramos uma exceção. Tínhamos traumas, neuroses e uma necessidade da companhia do outro que exigiam contato constante para nos manter em um estado mental saudável. Eu detestava ficar longe de Joseph. Quase nunca passava mais de duas horas sem pensar nele.
“Você também não gostou nadinha da ideia”, ele disse baixinho,mostrando que sabia exatamente o que eu estava pensando. “Quando domingo
chegar vamos estar desesperados.”
Soprei meu café com leite e arrisquei um gole. A perspectiva de passar um fim de semana inteiro sem ele me perturbava. Para piorar, gostava menos ainda da ideia de que ele passasse todo esse tempo sem mim. Joseph  tinha um mundo de escolhas e possibilidades à sua disposição, mulheres bem menos perturbadas e complicadas.

Apesar de tudo, consegui argumentar mais um pouco: “Isso não é exatamente saudável, Joseph”.
“Quem disse? Ninguém sabe o que é passar pelo que nós passamos.”
Eu era obrigada a concordar.
“Precisamos trabalhar”, eu disse, sabendo que essa indecisão nos deixaria nervosos o dia inteiro. Mais tarde poderíamos resolver a questão, mas naquele momento estávamos diante de um impasse.