Senti meu
corpo todo se aliviar, e minhas mãos desceram pela lapela de seu paletó. Talvez
ele não estivesse mesmo procurando por ela e, ainda que estivesse, eu não
poderia ser mais diferente de Corinne, tanto em termos deaparência como
de temperamento. Eu era uma novidade. Uma mulher diferente de todas as
outras, em todos os sentidos. Como eu queria que isso bastasse para
aplacar meu ciúme...
“Talvez
fosse mais um padrão do que uma preferência.” Alisei a ruga que havia se
formado em sua testa com a ponta do dedo. “Converse sobre isso com o doutor
Petersen na consulta de hoje à noite. Eu queria ter mais a dizer depois de
tantos anos
de terapia, mas não tenho. Existe um monte de coisas sem explicações entre nós,
não é mesmo? Ainda não faço ideia do que foi que você viu em mim.”
“O grande
mistério é o que você viu em mim, meu anjo”, ele respondeu em
voz baixa,
amenizando a expressão do rosto. “Você sabe quem eu sou e me quer tanto quanto
eu quero você. Todas as noites vou dormir com medo de que você
não esteja lá quando eu
acordar. Ou que assuste você... com os meus sonhos...”
“Não, Joseph.” Meu Deus. Aquilo era de cortar o coração. Acabava comigo.
“Posso até
não falar dos meus sentimentos da mesma maneira que você,
mas sou seu. Você sabe disso.”
“Sim, eu sei
que você me ama.” Loucamente. Absurdamente. Obsessivamente.
Assim como eu.
“Sou louco
por você, Demetria.” Com a cabeça inclinada para trás, ele me puxou
para me dar
o mais doce dos beijos, seus lábios se movendo suavemente junto
aos meus. “Eu
mataria por você”, ele sussurrou. “Abriria mão de tudo o que
tenho... mas
não desistiria de você. Esses dois dias são o limite. Não me peça
mais que isso. Não consigo
ceder mais.”
Eu sabia qual
era o peso exato daquelas palavras. Sua riqueza era seu escudo, sua
possibilidade de exercer o poder e o controle que havia perdido em algum
momento da vida. Joseph tinha sido violado e brutalizado, assim como eu. O fato
de preferir perder sua paz de espírito a abrir mão de mim significava
mais do que qualquer declaração
de amor.
“Só preciso
de dois dias, garotão, e vou te recompensar muito bem por eles.”
O brilho
afetuoso de seu olhar foi substituído pelo desejo carnal. “Ah, é?
Está querendo compensar sua ausência
com sexo, meu anjo?”
“Sim”,
admiti sem a menor vergonha. “Muito sexo. Parece funcionar muito bem com você.”
Ele abriu um
sorriso, mas seu olhar penetrante me fez perder o fôlego.
Aquele olhar
me fazia lembrar que Joseph não era um homem que pudesse ser
manipulado ou domado — como se
fosse possível esquecer.
“Ah, Demetria”,
ele sussurrou, ajeitando-se no assento com a confiança indiferente
de um grande
felino que tinha conseguido atrair um ratinho para sua toca.
Um tremor
delicioso se espalhou por meu corpo. Quando se tratava de Joseph Jonas, o que eu mais
queria no mundo era ser devorada.
Pouco antes
de sair do elevador para o hall de entrada da Waters Field &
Leaman, a
agência de publicidade em que eu trabalhava, no vigésimo andar do
edifício
Crossfire, Joseph sussurrou no meu ouvido: “Pense em mim o dia todo”.
Apertei sua
mão discretamente no elevador lotado. “É o que eu sempre
faço.”
Ele
continuou subindo até o último andar, que abrigava a sede das
Indústrias Jonas. O Crossfire era uma de suas muitas propriedades na cidade,
que incluíam o prédio onde eu
morava.
Eu tentava
não dar muita bola para isso. Minha mãe era o protótipo da esposa troféu.
Havia aberto mão do amor do meu pai em troca de um estilo de vida luxuoso,
coisa com a qual eu não me identificava nem um pouco. Trocaria a riqueza pelo
amor sem pensar duas vezes, mas acho que para mim era fácil dizer
isso, porque
tinha dinheiro, distribuído em uma considerável carteira de investimentos.
Não que
algum dia tivesse recorrido a ele. Aquela fortuna era fruto de muito sofrimento, a um custo
inimaginável. Megumi, a
recepcionista, destravou a porta de vidro da entrada e me cumprimentou
com um enorme sorriso no rosto. Era linda e jovem, com os cabelos bem pretos
emoldurando seus admiráveis traços asiáticos.
“Oi.” Eu parei em sua mesa. “Tem
compromisso para o almoço?”
“Agora
tenho.”
“Ótimo.”
Abri um sorriso largo e sincero. Por mais que adorasse Cary e passasse
ótimos momentos com ele, precisava ter amigas também. Além disso, Cary já
estava começando a criar uma rede de conhecidos na cidade, e eu tinha sido sugada
para o universo de Joseph praticamente no momento em que chegara. Por
mais que gostasse de passar todo o meu tempo livre com ele, sabia que não era
saudável. Amigas são fundamentais para oferecer uma nova perspectiva quando
necessário, e eu precisava criar esses laços de amizade se quisesse me beneficiar deles
mais tarde.
Depois de
combinar o almoço, entrei pelo corredor, a caminho da minha baia. Quando
cheguei à mesa, guardei a bolsa e a mala da ginástica na última gaveta e
peguei o celular para pôr no silencioso. Vi que havia uma mensagem de
Cary: Desculpa, gata.
“Cary Taylor”,
suspirei. “Eu te adoro... mesmo quando você me irrita.”
E daquela
vez ele tinha me irritado pra valer. Mulher nenhuma gostaria de
entrar em
casa e dar de cara com uma suruba bem no meio da sala. Muito menos depois
de ter acabado de brigar feio com o novo namorado.
Respondi à mensagem: Reserve o
fim de semana p/ mim.
A mensagem
seguinte demorou a chegar, o que me fez pensar que ele estava
pensando a
respeito. "Nossa, vc deve estar planejando me dar uma baita
surra".
“Talvez”,
murmurei, estremecendo com a lembrança daquela... orgia que
encontrei em
casa. Mas, acima de tudo, o que eu achava era que precisávamos
passar mais
tempo juntos. Estávamos em Manhattan fazia pouco tempo. A cidade
era uma
novidade para nós, tínhamos um apartamento novo, empregos novos
e namorados
novos. Estávamos fora da nossa zona de conforto, o que não era nada fácil
considerando nosso passado, e não sabíamos muito bem como lidar com tudo
aquilo. Geralmente recorríamos um ao outro para restabelecer o equilíbrio, mas
nos últimos tempos não vinha sendo esse o caso. Precisávamos
recuperar o
tempo perdido.
Que tal uma
viagem p/ Vegas? Só eu e vc?
Porra,
fechado!
Ok. Conversamos mais tarde.
Depois de
pôr o celular no silencioso e guardá-lo, passei os olhos pelos porta-retratos
ao lado do meu monitor — um com fotos dos meus pais e de Cary, outro com
fotos minhas com Joseph. Ele mesmo havia feito aquela colagem,
para que eu me lembrasse dele
enquanto trabalhasse. Como se fosse preciso...
Eu adorava
ter a imagem das pessoas que amava por perto: minha mãe com seus
cabelos loiros ondulados, seu sorriso irresistível e seu corpo curvilíneo coberto
apenas por um biquíni pequeno enquanto curtia o verão na Riviera
Francesa no
iate do marido; Richard Stanton, meu padrasto, com sua postura imponente e
distinta, seus cabelos brancos criando uma combinação curiosa com a juventude
da esposa; e Cary, capturado em toda a sua glória fotogênica, com seus cabelos
castanhos brilhantes, olhos verdes faiscantes, e um sorriso largo e
malicioso. Aquele rosto de um milhão de dólares estava começando a ser presença
constante nas revistas, e em pouco tempo estaria em outdoors e pontos
de ônibus, em anúncios da grife
Grey Isles.
Através do
corredor estreito, olhei para a parede de vidro do pequeno escritório
de Mark
Garrity e vi seu paletó pendurado na cadeira, mas nem sinal
dele. Não
foi nenhuma surpresa encontrá-lo na máquina de café, preparando
uma caneca para viagem — éramos
ambos viciados em cafeína.
“Pensei que
você já tivesse pegado o jeito”, comentei, referindo-me à sua
dificuldade
com a nova cafeteira.
“Peguei,
obrigado.” Mark ergueu a cabeça e abriu um sorriso charmoso.
Ele tinha a
pele escura e reluzente, um cavanhaque bem aparado e olhos castanhos
que exalavam
simpatia. Além de ser bonito, era um ótimo chefe — sempre disposto a me ensinar
coisas valiosas sobre o mercado publicitário e ciente de
que para mim
não era preciso pedir nada duas vezes. Trabalhávamos muito bem
juntos, e
minha vontade era que essa parceria continuasse por muito tempo.
“Experimente”, Mark ofereceu,
pegando outro copo fumegante no balcão.
“Experimente”,
Mark ofereceu, pegando outro copo fumegante no balcão.
Aceitei de
bom grado, notando que ele havia sido atencioso a ponto de acrescentar
creme e adoçante, exatamente
como eu gostava.
Dei um gole
cauteloso, já que a bebida estava quente, e fui obrigada a
tossir ao
sentir um sabor inesperado e nada agradável. “O que é isso?”
“Café sabor blueberry.”
Não resisti
à tentação de reclamar um pouco mais. “E por que alguém beberia
isso?”
“Ah,
então... seu trabalho é descobrir, e depois posicionar isso no mercado.”
Ele levantou a caneca. “Um
brinde à nossa nova conta.”
Sentindo um calafrio, respirei
fundo e dei mais um gole.
Tinha
certeza de que aquele sabor doce e enjoativo de blueberry artificial só sairia da
minha boca várias horas depois. Como já estava na hora do intervalo,
fiz uma
busca rápida na internet pelo dr. Terrence Lucas, que havia deliberadamente
provocado e
irritado Joseph no jantar da noite anterior. Mal tinha
digitado o nome dele e o
telefone da minha mesa começou a tocar.
“Escritório
de Mark Garrity. Demetria Lovato falando.”
“É sério
esse negócio de Las Vegas?”, perguntou Cary.
“Claro que é.”
Ele fez uma
pausa. “É assim que você vai me contar que está indo morar
com seu namorado bilionário e
que eu estou sozinho?”
“Quê? Não. Está maluco?” Fechei bem os
olhos, tentando compreender a
insegurança
de Cary, mas ao mesmo tempo pensando que éramos amigos havia tempo demais para
esse tipo de dúvida existir. “Você não vai se livrar de mim tão cedo, pode ter certeza.”
“E você
decidiu ir para Vegas do nada?”
“Mais ou
menos. Achei que seria uma boa ficar na beira da piscina virando uns mojitos e usar e abusar do
serviço de quarto por uns dias.”
“Não sei se
posso me dar a esse luxo.”
“Não se
preocupe, é tudo por conta de Joseph. No avião dele, no hotel dele.
A gente só
precisa pagar o que consumir.” Não era verdade, já que eu pretendia pagar tudo, menos o transporte
aéreo, mas Cary não precisava saber disso.
“E ele não vai?”
Recostei-me
na cadeira e fiquei olhando para as fotos de Joseph. Eu já estava com
saudades, e fazia apenas umas duas horas que tínhamos nos despedido.
“Ele tem que
ir para o Arizona a trabalho, então vamos dividir o avião com ele, mas em
Vegas vamos ser só nós dois. Acho que estamos precisando disso.”
“É verdade.”
Ele respirou fundo. “Acho que seria bom respirar outros ares
e passar um tempo com minha
melhor amiga.”
“Muito bem,
então. Ele quer sair amanhã à noite, às oito.”
“Vou começar
a arrumar a mala. Quer que eu prepare a sua?”
“Você faria
isso? Seria ótimo!” Cary poderia ser estilista ou assessor de
moda. Ele
tinha muito talento no que dizia respeito a roupas.
“Demi?”
“Oi?”
Ele
suspirou. “Obrigado por aturar as merdas que eu faço.”
“Para com isso.”
Depois de
desligar, fiquei olhando para o telefone por um bom tempo, lamentando
o fato de
Cary estar tão infeliz em um momento em que as coisas começavam a
caminhar bem em sua vida. Ele era especialista em se sabotar,
porque nunca tinha acreditado
que merecia ser feliz.
Quando
tentei voltar minha atenção para o trabalho, a página do Google aberta no
monitor me fez lembrar que estava tentando descobrir mais sobre o dr. Terry
Lucas. Havia alguns artigos sobre ele na internet, com fotos que comprovavam se tratar dele mesmo.
Pediatra. Quarenta e cinco anos. Casado há vinte. Já um pouco tensa, fiz uma nova
busca por “dr. Terrence Lucas e esposa”, morrendo de medo de ver surgir na
tela uma morena com longos cabelos negros. Para meu alívio, a sra. Lucas era uma mulher bem
branquinha, com cabelos ruivos curtinhos.
Mas isso só
fez crescer minha dúvida. Eu achava que uma mulher era a causa da briga dos dois.
No fundo, a
verdade era que eu e Joseph não sabíamos muita coisa um sobre o
outro. Só os podres. Bom, pelo menos ele sabia dos meus; os dele eu
havia apenas
suposto, com base nas evidências mais óbvias. Dispúnhamos
somente do
conhecimento obtido com base nas muitas noites em que dormimos
juntos. Ele
conhecia metade da minha família e eu conhecia metade da dele.
Mas não
estávamos juntos havia tempo suficiente para absorver todas as informações
periféricas.
E, sendo bem sincera, acho que evitávamos um pouco
ficar
interrogando um ao outro, como se tivéssemos medo de que mais alguma
coisa
aparecesse para atrapalhar um relacionamento cujas bases já não eram tão
sólidas assim para começo de
conversa.
Estávamos
juntos porque éramos viciados um pelo outro. Nunca tinha me sentido tão
inebriada como quando estávamos felizes juntos, e sabia que o mesmo valia
para ele. Estávamos sacrificando muita coisa em troca desses momentos
de
perfeição, tão fugazes que só por pura teimosia e determinação — e pelo amor
que sentíamos — continuávamos lutando por eles.
Agora
já chega de me torturar.
Abri meu
e-mail e recebi meu alerta diário do Google sobre Joseph Jonas.
A
maior parte dos links eram fotos de nós dois no jantar de caridade realizado no Waldorf-Astoria
na noite anterior. Joseph aparecia vestido a rigor, mas sem
gravata.
“Meu Deus.”
Não consegui evitar pensar na minha mãe ao me ver naquelas
fotos,
bebendo champanhe e usando um vestido Vera Wang. E não só porque eu
era muito
parecida com ela — com exceção dos cabelos longos e lisos —, mas
também por estar acompanhada de
um multimilionário. Dianna Lovato Barker Mitchell Stanton era muito, muito boa na função
de esposa
troféu. Sabia exatamente o que se esperava dela e executava seu papel à perfeição,
embora já tivesse se divorciado duas vezes, ambas por iniciativa própria e para
desgosto do ex-marido. Eu não fazia um mau juízo da minha mãe, porque sabia
que ela era uma esposa dedicada e sincera, mas durante toda a minha vida
quis ser independente. Meu direito de dizer não era a coisa que eu mais valorizava no mundo.
Minimizei a
janela do e-mail, deixei minha vida pessoal de lado e comecei a pesquisar
sobre cafés com sabor. Tratei também de marcar as primeiras reuniões com o
pessoal do setor de estratégia de marketing e ajudei Mark com algumas ideias para
a campanha de uma rede de restaurantes cuja bandeira era servir
comida sem glúten. A hora do almoço estava chegando, e meu apetite só aumentava quando o telefone
tocou. Atendi com a saudação habitual.
“Demetria?” Era
uma voz feminina do outro lado da linha. “É Magdalene. Você tem um minutinho?”
Eu me
recostei na cadeira, cautelosa. Magdalene e eu havíamos nos identificado
brevemente
uma com a outra quando da chegada de Corinne, mas nunca esqueci como
ela me tratou mal quando nos conhecemos. “Estou meio sem tempo, mas tudo bem. O que foi?”
Ela suspirou
e começou a falar bem depressa, soltando uma avalanche de palavras. “Eu
estava sentada bem atrás de Corinne ontem à noite. Consegui ouvir algumas coisas que ela e Joseph disseram durante o jantar.”
Senti um
frio na barriga, preparando-me para um tremendo baque emocional.
Magdalene
sabia muito bem como explorar minha insegurança em relação
a Joseph. “Dizer
esse tipo de coisa enquanto estou trabalhando é um golpe muito baixo”, fui logo dizendo.
“Não estou nem um pouco...”
“Ele não
estava ignorando você.”
Fiquei de
boca aberta por um instante, mas Magdalene logo preencheu o silêncio.
“Ele estava
se esquivando dela. Corinne estava fazendo sugestões de lugares de
Nova York para levar você, já que é nova na cidade, mas sua verdadeira intenção era
fazer aquele velho jogo do lembra-quando-a-gente-foi-emtal-lugar?”
“Uma
celebração dos velhos tempos”, murmurei, sentindo-me feliz por não ter conseguido ouvir os
cochichos de Joseph e sua ex.
“Isso.”
Magdalene respirou fundo. “Você foi embora porque pensou que ele estava te
ignorando. Só queria que você soubesse que ele estava tentando impedir que Corinne te magoasse.”
“E por que
você faria isso?”
“Não sou
exatamente boazinha, mas me sinto em dívida com você, pela maneira como me comportei
daquela vez.”
Parei um
pouco para pensar a respeito. Ela de fato tinha uma dívida
comigo, por
ter me seguido até o banheiro e dito um monte de besteiras típicas
de mulher
ciumenta e invejosa. Não que eu acreditasse que aquela era sua única
motivação.
Talvez eu fosse a opção menos desagradável entre as duas que se
desenhavam
no horizonte. Talvez ela gostasse de manter os inimigos sempre por
perto. “Certo. Obrigada.”
Não havia
como negar que eu estava me sentindo melhor. Um peso do qual
eu nem me
dava conta de que estava carregando havia sido removido dos meus
ombros.
“Só mais uma
coisa”, continuou Magdalene. “Ele foi atrás de você.”
Segurei o
telefone com ainda mais força. Joseph sempre ia atrás de mim... porque eu
estava sempre fugindo. Meu equilíbrio psicológico era algo tão frágil que aprendi
que deveria mantê-lo a qualquer custo. Quando algo ameaçava
minha estabilidade emocional,
eu dava no pé.
“Outras
mulheres já tentaram esse tipo de ultimato antes, Demetria. Ficaram
entediadas,
ou queriam uma demonstração grandiosa da parte dele... Viraram as
costas e saíram andando,
esperando que ele fosse atrás. Sabe o que ele fez?”
“Nada”,
respondi sem me alterar, sabendo com quem estava lidando: um homem que
nunca interagia socialmente com mulheres com quem transava e que não
transava com as mulheres com quem interagia socialmente. Corinne e eu éramos a
única exceção a essa regra, mais um motivo para eu morrer de ciúmes dela.
“Nada além
de mandar Angus levá-las para casa em segurança”, confirmou
Magdalene,
fazendo-me pensar que ela também já havia tentado essa tática em algum
momento. “Mas, quando você saiu, ele não teve tempo de te alcançar. E, quando veio se despedir, ele
estava muito estranho. Parecia... fora de si.”
Porque ele
estava com medo. Fechei os olhos enquanto me punia mentalmente.
Joseph já
havia me dito mais de uma vez que ficava apavorado quando eu fugia,
porque não suportava a ideia de nunca mais me ver. De que adiantava dizer que
não conseguia me imaginar vivendo sem ele quando minhas ações
mostravam o
contrário? Não era à toa que ele ainda não tinha conseguido se abrir comigo sobre seu passado.
Eu precisava
parar de fugir. Joseph e eu teríamos que segurar a barra —por nós — se quiséssemos que nosso relacionamento desse certo.
“E agora
estou em dívida com você, é isso?”, perguntei sem nenhuma emoção na voz, acenando para
Mark, que saía para o almoço.
Magdalene
soltou um suspiro. “Joseph e eu nos conhecemos há muito tempo.
Nossas mães são muito amigas. Eu e você vamos nos encontrar o tempo todo, Demetria, e
precisamos arrumar um jeito para que isso aconteça sem nenhum
constrangimento.”
Aquela
mulher tinha ido atrás de mim no banheiro e dito sem cerimônias
que, assim
que Joseph enfiasse o pau em mim, nossa relação estaria acabada. E isso em um momento em que eu me
sentia particularmente vulnerável.
“Escuta só,
Magdalene, se você parar com esse drama, vai ficar tudo bem.”
E,
aproveitando a sinceridade dela... “Sou capaz de arruinar meu relacionamento com Joseph sozinha, pode acreditar. Não preciso de ajuda pra isso.”
Ela deu uma
risadinha amena. “Foi o que eu fiz. Fui cuidadosa e acomodada demais. Mas
agora é entre vocês dois. Enfim... já ocupei você por bem mais de um minuto. Vou desligar.”
“Bom fim de
semana”, eu disse, em vez de agradecer. Ainda não confiava
nas boas
intenções dela.
“Pra você
também.”
Quando pus o
telefone no gancho, bati o olho nas minhas fotos com Joseph. De
repente, senti-me dominada por uma sensação de paixão e desejo.
Ele era meu,
ainda que eu não soubesse até quando isso duraria. E a ideia de que
terminaria nos braços de outra
mulher me deixava maluca.
Abri a
gaveta e procurei meu celular dentro da bolsa. Motivada pela vontade
de fazê-lo
pensar em mim com a mesma intensidade, escrevi uma mensagem
sobre minha súbita vontade de devorá-lo inteiro: Daria qualquercoisa pra estar chupando seu
pau agora.