quarta-feira, 18 de junho de 2014

Capítulo 23

 A sexta-feira começou com Trey tomando café da manhã comigo e com Cary 
depois de dormir lá em casa. Enquanto bebia a primeira xícara de café do dia, observei o 
modo como eles interagiam e fiquei contentíssima ao ver seus sorrisos de cumplicidade e a maneira discreta como trocavam carícias furtivas. 
 Eu já havia tido relacionamentos tranquilos como esse, e não soube valorizá-los  devidamente na época. Eram namoros gostosos e descomplicados, mas também um tanto 
superficiais em certo sentido. Como ter uma relação mais profunda se você não conhece os recantos mais obscuros da pessoa amada? Era esse meu dilema com Joseph. 
 O Segundo Dia Pós-Joseph havia começado. Minha vontade era ir até ele e pedir 
desculpas por tê-lo deixado. Queria dizer que ele podia contar comigo, que eu seria toda 
ouvidos, ou então ofereceria um consolo silencioso caso fosse preferível. Mas eu estava 
envolvida demais emocionalmente. Fragilizada demais. Morrendo de medo de ser rejeitada. E saber que ele não se abriria para mim só fazia esse medo crescer. Mesmo que nos acertássemos, eu sabia que só ia me magoar não o tendo por inteiro, tentando conviver apenas com o que ele decidisse compartilhar comigo. 
 Pelo menos no trabalho estava tudo bem. O almoço comemorativo que os executivos nos ofereceram por termos conseguido a conta da Kingsman me deixou feliz de verdade. Senti que era muita sorte minha trabalhar em um ambiente tão positivo. No entanto, quando ouvi que Joseph também tinha sido convidado — apesar de ninguém esperar que ele aparecesse —, voltei para minha mesa em silêncio e me concentrei só nos 
meus afazeres pelo resto da tarde. 
 Passei na academia a caminho de casa, depois comprei ingredientes para fazer fettuccini alfredo para o jantar e crème brûlée para a sobremesa — uma comida bem pesada 
para me deixar num coma induzido por carboidratos. Esperava que o sono me oferecesse 
uma trégua dos questionamentos que percorriam ciclicamente meu cérebro, na esperança de que a manhã de sábado chegasse bem depressa. 
 Cary e eu jantamos na sala, com palitinhos, uma ideia dele para me agradar. Ele falou que o jantar estava ótimo, mas nem ouvi. Saí do transe quando ele ficou em silêncio também, e percebi que não estava sendo uma companhia muito boa. 
 “Quando vão sair os anúncios da campanha da Grey Isles?”, perguntei. 
 “Não sei, mas escute só isso...” Ele sorriu. “Você sabe como os modelos costumam 
ser tratados — somos descartados como camisinhas usadas numa orgia. É difícil se 
destacar, a não ser que você namore alguém famoso. O que do nada virou meu caso, desde que aquelas fotos minhas com você começaram a pipocar por toda parte. Entrei por tabela no seu relacionamento com o Joseph. Você fez com que eu virasse um objeto cobiçado.” 
 Dei risada. “Nisso eu não ajudei, não.” 
 “Bom, mas com certeza mal não fez. Enfim, eles me ligaram para fazer mais algumas fotos. Acho que estão a fim de me usar por mais de cinco minutos.” 
 “Precisamos sair pra comemorar”, provoquei. 
 “Com certeza. Quando você estiver pronta para isso.” 
 Acabamos ficando em casa vendo Tron — o original, não o remake. O celular dele 
tocou vinte minutos depois do começo do filme, e eu o ouvi falando com um agente. 
“Claro. Estarei aí em quinze minutos no máximo. Ligo pra você quando chegar.” 
 “Conseguiu um trabalho?”, perguntei quando ele desligou. 
 “Pois é. Um modelo apareceu chapado para uma sessão noturna de fotos e precisam 
de um substituto.” Ele olhou bem para mim. “Quer ir junto?” 
Estiquei as pernas no sofá. “Não. Melhor ficar por aqui.” 
 “Tem certeza de que está tudo bem?” 
 “Só preciso de alguma coisa pra distrair a cabeça. Só de pensar em me trocar já fico 
cansada.” Eu não me incomodaria de usar minha calça de pijama de flanela e minha 
camiseta velha de dormir o fim de semana todo. Como estava machucada por dentro, o 
conforto exterior era uma necessidade para mim. “Não se preocupe comigo. Sei que ando 
confusa ultimamente, mas eu me arranjo. Pode ir, e divirta-se.” 
 Depois que Cary saiu, todo apressado, pausei o filme e fui até a cozinha pegar um 
vinho. Parei no balcão, passando os dedos nas flores que Joseph tinha me mandado no fim 
de semana anterior. As pétalas caíam como lágrimas. Pensei em cortar os caules e usar o 
aditivo que veio junto com o buquê para aumentar sua vida útil, mas não fazia sentido me 
apegar a elas. No dia seguinte, iria tudo para o lixo, a última lembrança de meu 
relacionamento igualmente condenado. 
 As coisas com Joseph haviam ido mais longe do que em relacionamentos anteriores 
que duraram mais de um ano. Eu sempre o amaria por isso. Eu sempre o amaria, e ponto 
final.  Mas, algum dia, talvez isso não me causasse tanta dor. 

 * 
  “Vamos levantar, dorminhoca”, Cary falou em um tom meio cantado enquanto 
arrancava minhas cobertas. 
 “Argh. Vai embora.” 
 “Você tem cinco minutos para entrar no chuveiro, ou então ele vai vir até você.” 
 Abri só um olho para conseguir enxergá-lo. Estava sem camisa e usava uma calça 
larga que por muito pouco não escapava dos seus quadris. Em termos de persistência na 
hora de acordar alguém, ele era imbatível. “Por que preciso levantar?” 
 “Porque quando você está deitada não está com os pés no chão.” 
 “Uau. Isso foi profundo, Cary Taylor.” 
 Ele cruzou os braços e me lançou um olhar enfezado. “Precisamos sair pra comprar 
roupas.” 
 Afundei a cabeça no travesseiro. “Não.” 
 “Sim. Se bem me lembro, foi você quem juntou as expressões ‘festa ao ar livre no 
domingo’ e ‘reunião de astros do rock’ no convite que me fez. Acha que eu tenho roupa pra uma ocasião como essa?” 
 “Ah, é. Bem pensado.” 
 “O que você vai usar?” 
 “Eu... não sei. Estava pensando no ‘visual clássico de chá da tarde com chapéu’, 
mas agora não estou tão certa.” 
 Ele concordou com a cabeça, animado. “Certo. Vamos percorrer as lojas e encontrar 
alguma coisa sexy, classuda e descolada.” 
 Com um rosnado de protesto, saí da cama e me arrastei até o banheiro. Era 
impossível tomar banho sem pensar em Joseph, sem imaginar seu corpo perfeito e lembrar os ruídos que ele fez ao gozar na minha boca. Para onde quer que eu olhasse, Joseph estava lá. Estava tendo até alucinações, vendo Bentleys por toda a cidade. Parecia sempre haver um por perto. 
Cary e eu almoçamos e depois saímos pela cidade, entrando nos melhores brechós 
do Upper East Side e nas butiques da Madison Avenue antes de pegar um táxi para o SoHo. 
No caminho, duas adolescentes pediram o autógrafo do Cary, algo que pareceu ter sido 
mais motivo de alegria para mim do que para ele. 
 “Eu disse.” 
 “O quê?”, perguntei. 
 “Elas me conheciam de um blog de celebridades. Por causa dos posts sobre você e 
Jonas.” 
 Eu suspirei. “Pelo menos para alguém minha vida amorosa está sendo boa.” 
 Ele tinha outro compromisso de trabalho às três, e eu fui também, para gastar 
algumas horas em um estúdio com um fotógrafo antipático e histérico. Foi quando me 
lembrei de que era sábado e saí de fininho para fazer minha ligação semanal para meu pai. 
 “Ainda está feliz em Nova York?”, ele perguntou sobre o ruído de fundo do rádio da 
viatura. 
 “Por enquanto tudo certo.” Era mentira, mas a verdade não teria serventia para  ninguém. 
 O parceiro dele disse alguma coisa que eu não ouvi. Meu pai bufou e me falou: “Ei, 
Chris está aqui jurando que viu você outro dia na tevê. Em algum canal a cabo, coisa de 
fofoca de celebridades. O pessoal está me enchendo o saco por causa disso”. 
 Suspirei. “Diga para o pessoal que assistir a esses programas prejudica os 
neurônios.” 
 “Então você não está namorando um dos homens mais ricos do país?” 
 “Não. E sua vida amorosa, como vai?”, perguntei, logo mudando de assunto. “Está 
saindo com alguém?” 
 “Nada muito sério. Espere aí.” Ele respondeu a um chamado do rádio, depois disse: 
“Desculpa, querida. Preciso ir. Amo você. Estou morrendo de saudade”. 
 “Eu também, pai. Cuide-se.” 
 “Pode deixar. Tchau.” 
 Deixei o telefone de lado e voltei para meu lugar enquanto esperava Cary terminar a 
sessão. No fundo de minha mente, eu continuava torturando a mim mesma. Onde estaria 
Joseph naquele momento? O que estaria fazendo? 
 Na segunda-feira eu abriria o e-mail e veria um monte de fotos dele com outra mulher? 
  No domingo à tarde pedi emprestado um dos carros de Stanton e seu motorista e 
guarda-costas Clancy para ir até a propriedade dos Vidal no condado de Dutchess. 
Recostada no assento, olhei pela janela e admirei a vista serena dos campos e dos bosques que se estendiam pelo horizonte. Foi quando me dei conta de que já estava no Quarto Dia Pós-Joseph. A dor que eu tinha sentido nos primeiros dias havia se transformado em um mal-estar constante, parecido com uma gripe. Todas as partes do meu corpo estavam doloridas, como se eu estivesse numa crise de abstinência, e minha garganta doía por causa das lágrimas contidas. 
 “Está muito ansiosa?”, perguntou Cary. 
 Olhei para ele. “Não muito. Joseph não vai estar lá.” 
 “Tem certeza?” 

 “Sim, ou eu nem viria. Também tenho meu orgulho, você sabe.” Vi que ele batucava com os dedos sobre o apoio para os braços do assento, que estava entre nós. 
Apesar de todas as lojas que percorremos no dia anterior, ele fez apenas uma aquisição: 
uma gravata preta de couro. Zombei dele sem a menor piedade por isso: uma pessoa com 
um senso de estilo tão apurado usando uma coisa como aquela.
 Ele me pegou olhando para ela. “Que foi? Ainda não se conforma com minha gravata? Acho que combina com meu jeans emo e meu paletó estampado.” 
“Cary”, abri um sorriso, “você pode usar qualquer coisa.” 
 Era verdade. Ele ficaria bem de qualquer jeito, graças a seu corpo esguio e bem 
definido e a seu rosto lindo de morrer. 
 Cobri seus dedos inquietos com minha mão. “E você, está ansioso?” 
 “Trey não ligou ontem à noite”, murmurou. “Ele tinha prometido.” 
 Apertei sua mão em sinal de apoio. “É só um pequeno descuido, Cary. Tenho 
certeza de que não significa nada de mais.” 
 “Ele poderia ter ligado hoje de manhã. Trey não é largado que nem os outros caras 
que namorei. Ele não esqueceria uma coisa dessas, então quer dizer que não ligou porque 

não quis.” 
“Babaca. Vou fazer questão de tirar um monte de fotos de você se divertindo pra 
valer com esse visual sexy, classudo e descolado, pra acabar com a segunda-feira dele.” 
 Ele riu. “Ah, a crueldade da mente feminina. Pena que o Jonas não vai ver você hoje. 

Acho que ele ficaria de pau duro só de ver você sair do quarto com esse vestido.” 
 “Pare!” Bati no ombro dele e fingi que estava brava quando ele riu. 
 Vimos que o vestido era perfeito assim que pusemos os olhos nele. Ideal para uma 
festa ao ar livre — a parte de cima bem justa e uma saia folgada até o joelho. Era branco 
com flores bordadas. Mas o estilo chá-com-biscoitos acabava por aí. 
O toque de ousadia vinha da saia, com camadas alternadas de preto e vermelho e 
forros de cetim para dar mais volume. As flores pretas de couro bordadas pareciam cata-ventos com pontas afiadas. Cary havia escolhido sapatos vermelhos de salto alto e brincos 
com pingentes de rubi para dar o toque final. Decidimos deixar meus cabelos soltos, para o caso de ser necessário usar chapéu. Resumindo, eu estava me sentindo bonita e confiante. 
 Cruzamos os portões imponentes com iniciais em ferro fundido e seguimos por uma 
alameda circular até onde estavam os manobristas. Cary e eu entramos por ali, e ele me 
amparou pelo braço quando meus saltos insistiram em se enterrar no caminho de cascalho 
até a porta da casa. Ao entrar na luxuosa mansão em estilo Tudor dos Vidal, fomos recebidos efusivamente pelos membros da família de Joseph, todos alinhados à espera dos convidados — sua mãe, seu padrasto, Christopher e sua irmã. 
 Apreciei a cena, imaginando que a perfeição da família Vidal seria ainda maior se 
Joseph estivesse presente. Sua mãe e sua irmã eram simpáticas, ambas com cabelos 
castanhos brilhantes e olhos azuis com cílios bem compridos. As duas eram lindas e 
elegantérrimas.
“Demetria!” A mãe de Joseph me puxou para junto dela e beijou minhas duas bochechas 
sem tocá-las. “Estou tão feliz por finalmente conhecer você. Que moça mais linda você é! E adorei seu vestido.” 
 “Obrigada.” 
 Ela passou as mãos por meus cabelos, meu rosto, e depois meus braços. Era algo 
difícil de suportar, já que ser tocada por estranhos às vezes desencadeava uma reação de 
ansiedade em mim. “E seu cabelo, essa é a cor natural dele?” 
 “Sim”, respondi, surpresa e confusa com o questionamento. Quem perguntaria isso 
logo de cara a alguém que nem conhece? 
 “Que interessante. Seja bem-vinda. Espero que se divirta bastante. Estamos muito 
felizes com sua presença.” 
 Sentindo-me estranhamente desconfortável, dei graças a Deus quando o foco de sua 
atenção se voltou para Cary. 
 “E você deve ser Cary”, ela começou. “E eu aqui achando que meus filhos eram os 
rapazes mais bonitos do mundo. Vejo que estava enganada. Meu jovem, você é 
simplesmente divino.” 
 Cary abriu seu sorriso matador. “Ah, acho que estou apaixonado, senhora Vidal.” 
 Ela riu de peito aberto. “Por favor. Pode me chamar de Elizabeth. Ou Lizzie, se 
quiser ser mais ousado.” 
 Olhando para o outro lado, senti minha mão ser agarrada por Christopher Vidal, o 
pai. Em muitos aspectos, ele lembrava muito o filho, com seus olhos esverdeados e sorriso de menino. Vestido de bermuda cáqui e um cardigã de caxemira e calçando mocassins, 
parecia mais um professor universitário que um executivo da indústria fonográfica. 
 “Demetria. Posso chamar você de Demi?” 
 “Por favor.” 
 “Pode me chamar de Chris. Assim fica mais fácil me discernir de Christopher.” Ele 
inclinou a cabeça para o lado enquanto me observava através dos óculos de armação de 
bronze. “Entendi por que Joseph está tão fascinado por você. Seus olhos são intensos e 
tempestuosos, mas também límpidos e diretos. São os mais lindos que já vi, excluindo os 
da minha mulher.” 
 Fiquei vermelha. “Obrigada.” 
 “Joseph também vem?” 
 “Não que eu saiba.” Por que os pais deles estavam perguntando aquilo para mim? 
Eles é que deveriam saber. 
 “Nunca perdemos a esperança.” Ele apontou um empregado que estava à nossa 
espera. “Por favor, podem ir para o jardim, e fiquem à vontade.” 
 Christopher me cumprimentou com um abraço e um beijo na bochecha, enquanto a 
irmã de Joseph, Ireland, mediu-me com os olhos e com a expressão entediada de que só 
uma adolescente é capaz. “Você é loira”, ela disse. 
 Minha nossa. A preferência de Joseph por morenas era alguma espécie de lei, por 
acaso? “E você é uma linda morena.” 
 Cary me ofereceu seu braço e eu aceitei com toda a gratidão. 
 Enquanto nos afastávamos, ele perguntou em voz baixa: “Eles são como você 
esperava que fossem?”. 
 “A mãe, talvez. O padrasto, não.” Olhei para trás por cima dos ombros, dando uma 
boa olhada no vestido creme de contornos bem delineados que envolvia a figura esbelta de Elizabeth Vidal. Pensei em quão pouco sabia sobre a família de Joseph. “Que tipo de 
criação recebeu um menino que conseguiu se tornar um homem de negócios tão implacável a ponto de comprar a empresa da própria família?” 
 “Jonas tem participação na Vidal Records?” 
 “É o sócio majoritário.” 
 “Humm. Quem sabe não foi uma ajuda?”, ele especulou. “Uma mão amiga durante 
um período de transição da indústria fonográfica?” 
 “Por que não dar o dinheiro de uma vez, então?”, rebati. 
  “Por que ele é um homem de negócios que sabe o que faz?” 
 Com um suspiro profundo, deixei a pergunta para lá e tentei pôr as coisas no devido 
lugar. Eu estava naquela festa por causa de Cary, não de Joseph, e ele deveria ser o foco 
das minhas atenções. 
 Quando chegamos lá fora, encontramos uma tenda enorme e ricamente decorada no 
fundo do jardim. Apesar de o dia estar agradável o bastante para ficar ao sol, preferi me 
sentar a uma mesa circular coberta com uma toalha de renda branca do lado de dentro. 
 Cary bateu no meu ombro. “Fique aqui relaxando. Vou fazer contatos.” 
 “Vai fundo.” 
 Ele se afastou, imbuído de seus objetivos. 
 Fiquei bebendo champanhe e batendo papo com quem aparecesse e puxasse 
conversa. Havia muitos músicos famosos na festa, pessoas cujas canções eu conhecia, e 
fiquei olhando para eles de longe, um tanto intimidada. Apesar da elegância do ambiente e do número incontável de empregados, a atmosfera da festa era casual e relaxada. 
 Estava começando a me divertir quando alguém que eu esperava nunca mais ver 
saiu de dentro da casa: Magdalene Perez, linda de morrer com um vestido rosado de chiffon que parecia flutuar ao redor dos joelhos dela. 
 Senti uma mão pousar sobre meu ombro e apertá-lo, o que fez meu coração disparar, porque me lembrou da noite em que Cary e eu fomos à casa noturna de Joseph. 
Mas dessa vez quem apareceu para falar comigo foi Christopher. 
 “Oi, Demi.” Ele sentou na cadeira ao lado e apoiou os cotovelos sobre os joelhos, 
inclinando-se para mim. “Está se divertindo? Você não está circulando muito por aí.” 
 “Estou adorando a festa.” Pelo menos até aquele momento. “Obrigada por me 
convidar.” 
 “Obrigado por ter vindo. Meus pais ficaram muito contentes. E eu também, é claro.” 
Seu sorriso me fez rir, assim como sua gravata, estampada com desenhos de discos de vinil. 
“Está com fome? Os bolinhos de caranguejo estão uma delícia. Pegue um quando o garçom passar por aqui.” 
 “Vou pegar.” 
 “Se precisar de alguma coisa, avise. E reserve uma dança pra mim.” Ele deu uma 
piscadinha antes de se levantar e se afastar. 
 Ireland se sentou por ali, ajeitando as roupas com a elegância calculada de uma 
garota perto da universidade. Seus cabelos chegavam até a cintura, e seus lindos olhos eram sinceros o bastante para me fazer gostar deles. Ela parecia muito mais experiente dos que os dezessete anos que calculei que tinha com base nas notícias de jornal que Cary tinha juntado para mim. “Oi.” 
 “Olá.” 
 “Onde está Joseph?” 
 Encolhi os ombros diante da pergunta tão abrupta. “Na verdade, eu não sei.” 
 Ela concordou com a cabeça. “Ele sabe como manter as pessoas à distância.” 
 “Ele sempre foi assim?” 
 “Acho que sim. Eu era pequena quando ele saiu de casa. Você está apaixonada por 
ele?” 
 Prendi a respiração por um instante. Mas depois relaxei e respondi simplesmente: 
“Estou”. 
 “Foi o que pensei quando vi o vídeo de vocês dois no Bryant Park.” Ela mordeu o 
lábio inferior. “Ele é divertido? Sabe como é... pra sair e coisa e tal?” 
“Ah, bom...” Minha nossa. Alguém ali conhecia Gideon? “Eu não diria que é 
divertido, mas entediante ele não é.” 
 A banda começou a tocar “Come Fly with Me”, e Cary apareceu do nada ao meu 
lado. “É hora de fazer bonito, Ginger.” 
 “Prometo que vou tentar, Fred.” Sorri para Ireland. “Com licença um minutinho.” 
 “Três minutos e dezenove segundos”, ela corrigiu, exibindo parte do conhecimento 
musical da família. 
 Cary me conduziu para a pista de dança vazia e puxou um passo bem ágil de foxtrote. Demorei um pouco para conseguir acompanhá-lo, porque estava dura e tensa fazia 
dias. Em pouco tempo a sinergia da velha parceria voltou e percorremos toda a pista com a maior naturalidade. 
 Quando a música terminou, estávamos sem fôlego. Fomos surpreendidos positivamente com uma salva de palmas. Cary fez uma mesura elegante e eu segurei sua mão para me equilibrar enquanto flexionava os joelhos. 
 Quando levantei a cabeça e me endireitei, dei de cara com Gideon. 


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