domingo, 29 de junho de 2014

Capítulo 2

Ele apanhou o paletó, fez sinal para que eu atravessasse sua luxuosa sala,
onde estava a sacola com meu tênis de caminhada e outros artigos de primeira
necessidade. Poucos instantes depois, tendo descido até o térreo em um elevador
particular, estávamos no banco de trás do Bentley preto.
“Oi, Angus.” Cumprimentei o motorista, que bateu com os dedos na aba de
seu quepe de chofer à moda antiga.
“Bom dia, senhorita Lovato”, ele respondeu com um sorriso. Era um
homem de certa idade, com uma boa quantidade de fios brancos na cabeleira
ruiva. Eu gostava dele por inúmeros motivos, e um dos principais era que Angus
trabalhava para Joseph desde a época do colégio e gostava dele de verdade.
Com uma rápida olhada no Rolex, presente da minha mãe e do meu
padrasto, confirmei que chegaríamos a tempo... se não ficássemos presos no
trânsito. Justamente quando pensei nisso, Angus adentrou o mar de táxis e carros
que inundavam a cidade. Depois do silêncio carregado de tensão no apartamento
de Joseph, o ruído de Manhattan funcionou como uma dose de cafeína
para me despertar. O alarido das buzinas e o som do choque dos pneus contra as
bocas de lobo serviram para me revigorar. Pedestres apressados percorriam ambos
os lados da rua, enquanto os prédios se elevavam ambiciosamente na
direção do céu, mantendo-nos na sombra apesar do sol cada vez mais alto.
Eu amava Nova York. Todos os dias precisava fazer força para me acostumar
à cidade, para acreditar que estava ali.
Ajeitei-me no assento de couro e procurei a mão de Joseph, apertando-a
bem forte. “Você acharia melhor se eu e Cary saíssemos da cidade no fim de semana?
E se fôssemos para Las Vegas?”
Joseph estreitou os olhos. “Você acha que tenho alguma coisa contra Cary?

É por isso que não quer ir com ele para o Arizona?”
“Quê? Não. Acho que não.” Eu me remexi mais um pouco no assento antes
de encará-lo. “É que às vezes demora um bocado pra Cary começar a se abrir.”
“Você acha que não?”, ele repetiu, ignorando todo o resto da resposta.
“Talvez ele pense que não pode mais contar comigo, porque passo o tempo
todo com você”, esclareci, segurando o copo de café com as duas mãos enquanto
passávamos por um trecho esburacado. “Você vai ter que aprender a superar
esse ciúme de Cary. Quando digo que ele é um irmão pra mim, Joseph, estou
falando sério. Você não precisa gostar dele, mas tem que aceitar que faz parte da
minha vida.”
“É isso que você fala para ele sobre mim?”
“Eu não falo nada. Ele sabe. Estou tentando fazer um acordo aqui...”
“Eu não faço acordos.”
Minhas sobrancelhas se ergueram. “Nos negócios tenho certeza que não.
Mas num relacionamento, Joseph, é preciso saber quando ceder e...”
Ele me interrompeu com uma declaração enfática: “No meu avião, no meu
hotel, e você só pode sair escoltada por uma equipe de seguranças”.
O modo repentino e um tanto relutante como ele concordou comigo me
deixou surpresa e sem ter o que dizer por um instante. Foi tempo suficiente para
ele erguer as sobrancelhas e me encarar com seus olhos castanho-esverdeados penetrantes como quem diz “É pegar ou largar”.
“Você não acha meio exagerado?”, argumentei. “Cary vai estar comigo.”
“Você tem que entender que não confio mais nele para garantir sua segurança
depois do que aconteceu ontem à noite.” A postura de Joseph enquanto bebia
o café deixava bem claro que estava tudo decidido. Ele havia me proposto a
alternativa que lhe parecia mais razoável.
Eu até poderia me incomodar com esse tipo de imposição, se não entendesse
que sua motivação principal era cuidar de mim. Meu passado era habitado
por fantasmas terríveis, e meu namoro com Joseph me pôs em uma
posição capaz de levar Nathan Barker a se sentir tentado a bater na minha porta.
Além disso, a necessidade de controlar tudo a seu redor fazia parte do temperamento
de Joseph. Era algo que vinha com o pacote, de que ele não abria mão.
“Certo”, concordei. “Qual é o seu hotel?”
“Tenho mais de um. Pode escolher.” Ele se virou e olhou pela janela. “Scott
vai te mandar a lista por e-mail. Quando decidir, é só avisar que ele cuida de
tudo. A gente pode ir e voltar no mesmo avião.”
Encostando os ombros no assento, bebi mais um gole do café e percebi que
Joseph estava com o punho fechado. No reflexo do vidro escuro do carro, seu
rosto parecia impassível, mas seu mau humor era palpável.
“Obrigada”, murmurei.
“Não agradeça. Não estou nada feliz com isso, Demetria.” Um músculo se contraiu
em seu maxilar. “Cary pisou na bola e fui eu que perdi o fim de semana com você.”
Não gostei de ouvir que ele estava chateado, então apanhei o copo de café
de sua mão e pus os dois no porta-copos. Depois pulei no colo dele e joguei meus
braços sobre seus ombros. “Fico feliz que você tenha cedido, Joseph. Significa
muito para mim.”
Ele me encarou com um olhar de filhotinho. “Eu sabia que você ia acabar
me deixando maluco assim que pus os olhos em você.”
Dei risada, lembrando-me de quando nos conhecemos. “Caindo de bunda
no saguão do prédio?”
“Antes disso. Lá fora.”
“Lá fora onde?”, perguntei, franzindo o rosto.
“Na calçada.” Joseph agarrou meus quadris, apertando-me da maneira
possessiva e dominante que me fazia morrer de tesão por ele. “Eu estava saindo
pra uma reunião. Se saísse um minuto mais cedo não teria te visto. Tinha
acabado de entrar no carro quando você virou a esquina.”
 Lembrei-me do Bentley estacionado no meio-fio naquele dia. Eu estava
impressionada demais com o prédio para notá-lo quando cheguei, mas vi que
estava lá quando saí.
“Você me abalou à primeira vista”, ele comentou com a voz um pouco rouca.
“Eu não conseguia desviar os olhos. Queria ter você naquele momento. Era
um desejo excessivo. Quase violento.”
Como eu nunca soube que nosso primeiro encontro envolvia muito mais
do que eu imaginava? Pensei que tivéssemos esbarrado um no outro por
acidente. Mas Joseph já estava indo embora... o que significava que tinha
voltado só para me ver.
“Você parou bem ao lado do carro”, ele continuou, “e jogou a cabeça para
cima. Estava olhando para o prédio, mas imaginei você de joelhos na minha
frente, com os olhos voltados para mim.”
Seu tom de voz sussurrado fez com que eu começasse a me contorcer em
seu colo. “Olhando para você como?”, perguntei baixinho, hipnotizada pelo calor de seu olhar.
“Com tesão. Um pouco impressionada... um pouco intimidada.” Ele agarrou
minha bunda e me puxou para mais perto. “Eu não tinha como deixar de ir
atrás de você lá dentro. E lá te encontrei, bem do jeito que eu queria, ajoelhada
na minha frente. Naquele momento, pensei no monte de coisas que faria quando
conseguisse deixar você peladinha.”
Engoli em seco, lembrando que minha reação não havia sido muito diferente. “Quando vi você pela primeira vez, só consegui pensar em sexo. Sexo
selvagem, de rasgar os lençóis.”
“Eu percebi.” Ele acariciava minhas costas com ambas as mãos. “E percebi
também o jeito como me olhou. Você viu quem eu era... o que havia lá dentro.
Conseguiu enxergar através de mim.”
E foi isso que me fez cair para trás — literalmente. Olhei bem em seus olhos
e percebi a força que ele fazia para se reprimir, para não deixar transparecer as atribulações que havia dentro de si. O que vi ali foi sede de poder e de controle.
E, no fundo, sabia que cedo ou tarde ele tomaria posse de mim. Foi um alívio
descobrir que sentia a mesma coisa.
Joseph me puxou pelos ombros até nossas testas se tocarem. “Ninguém
nunca tinha me visto antes, Demetria. Você foi a única.”
Senti um nó na garganta. Em muitos sentidos, Joseph era um sujeito
durão, mas sabia ser meigo comigo. E de uma maneira quase infantil, o que eu
adorava, porque era uma coisa pura e espontânea. Se a pessoa não conseguia
enxergar nada além de seu rosto bonito e sua conta bancária recheada, então
não merecia tê-lo. “Eu nem me dei conta. Você parecia tão... seguro de si. Nem
imaginei que tivesse causado algum efeito em você.”
“Seguro?”, ele ironizou. “Eu estava morrendo de tesão. E continuo assim
até agora.”
“Nossa. Obrigada.”
“Você se tornou indispensável pra mim”, ele sussurrou. “Agora não
suporto a ideia de ficar dois dias sem você.”
Segurei seu queixo, eu o beijei com carinho, quase num pedido de desculpas.
“Eu também te amo”, murmurei com a boca colada à dele. “Não suporto
ficar longe de você.”
Ele retribuiu o beijo com paixão, devorando-me, mas ainda assim me segurando
contra ele de uma forma gentil e respeitosa. Como se eu fosse frágil.
Quando o beijo acabou, estávamos ambos ofegantes.
“Eu nem fazia seu tipo”, comentei, como uma provocação para aliviar a
tensão antes de começarmos a trabalhar. A preferência de Joseph pelas morenas
era pública e notória.
Senti que o Bentley estava estacionando. Angus saiu do carro para nos dar
mais privacidade, deixando o motor e o ar-condicionado ligados. Olhei pela
janela e vi o prédio Crossfire pairando acima de nós.
“Sobre isso...” Joseph recostou a cabeça no assento e respirou fundo.
“Corinne ficou surpresa ao ver você. Não era o que ela esperava.”
Cerrei os dentes ao ouvir o nome da ex-noiva de Joseph. Mesmo sabendo
que sua relação tinha mais a ver com amizade e companheirismo do que com
amor, o ciúme ainda causava estragos em mim. Era um dos meus defeitos mais
evidentes. “Porque sou loira?”
“Porque... você não se parece em nada com ela.”
Perdi o fôlego. Jamais tinha me dado conta de que Corinne era o padrão de
mulher para ele. Eu sabia que Magdalene Perez — uma das amigas de Joseph
que gostariam de ser algo mais — tinha deixado o cabelo crescer só para ficar
parecida com Corinne, mas ainda não tinha notado a complexidade daquilo
tudo. Meu Deus... Se era verdade, Corinne possuía um poder enorme sobre
Joseph, muito mais do que eu era capaz de suportar. Senti meu coração disparar e meu estômago revirar. Sentia um ódio irracional por Corinne. Detestava o fato
de Joseph ter alguma intimidade com ela. Abominava todas as mulheres que
haviam sentido seu toque... seu desejo... seu corpo sensacional.
Comecei a sair de cima dele.
“Demetria.” Joseph me manteve junto a ele, apertando com força minhas coxas.
“Não sei se ela está certa.”
Olhei para o lugar onde ele estava me apertando, e a visão do anel que eu
tinha dado em sua mão direita — o sinal de nosso compromisso — me acalmou,
assim como a expressão confusa em seu rosto quando o encarei. “Ah, não?”
“Se foi isso mesmo, foi uma coisa inconsciente. Eu não estava procurando
outras mulheres como ela. Não estava procurando nada, na verdade, até encontrar
você.”

3 comentários:

  1. Ele consegue ser idiota e fofo ao mesmo tempo! Como consegue?
    Não gosto nem um pouco dessa tal Corinne vaca ..
    Amei o capítulooo :)
    Você deveria colocar uma caixa de seguidores ♥
    Continuaa :)

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  2. Corinne eca!!! Joe é tao fofuxo!!! Posta mais!!

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