domingo, 22 de junho de 2014

Capítulo 27

Cary se juntou a nós para jantar — comida chinesa de ótima qualidade, uma boa 
taça de vinho e a programação de segunda à noite na TV. Enquanto trocávamos de canal e 
ríamos dos nomes hilariantes de certos reality shows, vi dois homens importantíssimos na 
minha vida relaxando e se divertindo juntos. Eles se deram bem, ficavam se desafiando e se xingando daquela maneira brincalhona tão habitual entre os homens. Nunca tinha visto esse lado de Joseph antes, e adorei. 
 Enquanto eu ocupava uma lateral inteira do sofá modulado, os dois estavam sentados no chão de pernas cruzadas, usando a mesinha de centro como mesa de jantar. Eles usavam calça larga de agasalho e camiseta justa, e eu só apreciava a vista. Eu era ou 
não era uma garota de sorte? 
 Estalando os dedos, Cary fez um preâmbulo dramático antes de abrir seu biscoito da 
sorte. “Vamos ver. Vou ser rico? Famoso? Estou prestes a conhecer o homem ou a mulher 
dos meus sonhos? Vou visitar terras distantes? O que saiu no de vocês?” 
 “O meu era uma porcaria”, eu disse. “No fim tudo será revelado. Dã. Eu não 
precisava de previsão nenhuma pra descobrir isso.” 
 Joseph abriu o seu e leu em voz alta: “A prosperidade baterá à sua porta em 
breve”. 
 Dei risada. 
 Cary olhou para mim. “Você roubou o biscoito de alguém, Jonas.” 
 “É melhor manter Cary à distância do seu biscoito”, eu disse, brincando. 
 Joseph se inclinou na minha direção e roubou metade do meu. “Não se preocupe, 
meu anjo. Seu biscoito é o único que me interessa.” Ele o jogou na boca e piscou para mim. 
 “Ei”, protestou Cary. “Já para o quarto, vocês dois.” Ele quebrou seu biscoito da 
sorte com um gesto floreado, e logo depois ficou furioso: “Que porra é essa?”. 
 Eu me inclinei para a frente. “O que está escrito aí?” 
 “Confúcio diz”, Joseph impostou a voz, “o homem de uma perna só tem sempre um 
pé no passado.” 
 Cary atirou metade de seu biscoito em Joseph, que o apanhou com habilidade e 
sorriu. 
 “Dê isso aqui.” Tomei o papelzinho da mão de Cary e li. Imediatamente caí na 
risada. 
 “Vá se foder, Demetria.” 
 “E então?”, Joseph quis saber. 
 “Pegue outro biscoito.” 
 Joseph abriu um sorriso. “Até os biscoitos estão zoando com a sua cara.” 
 Cary atirou a outra metade do biscoito. 
 Era uma noite como tantas outras que passei com Cary na época da SDSU, o que 
despertou meu interesse sobre como Joseph devia ser na época da faculdade. Pelo que 
tinha lido na imprensa, sabia que ele tinha se formado na Columbia, mas saiu antes da pós-graduação  para expandir os negócios. 
Ele tinha amigos por lá? Fazia parte de alguma fraternidade, ia a festas, ficava 
bêbado, transava por aí? Ele era um homem tão controlado que eu não conseguia imaginá-
lo num momento de descontração, ainda que fosse exatamente isso o que estávamos 
fazendo ali. 
 Ele olhou para mim, ainda sorrindo, e meu coração disparou dentro do peito. Pela 
primeira vez eu o via como alguém de sua idade, jovem e simpático, apesar de sério — 
enfim, uma pessoa normal. Nesse momento, éramos só um casal de vinte e poucos anos se divertindo em casa com um colega de apartamento e um controle remoto. Ele era 
simplesmente meu namorado, nada mais. Tudo parecia gostoso e descomplicado, o tipo de ilusão que tinha um enorme apelo para mim. 
 O interfone tocou e Cary levantou em um pulo para atender. Ele me olhou e sorriu. 
“Pode ser Trey.” 
 Cruzei os dedos. 
 Minutos depois, porém, quando Cary abriu a porta, quem entrou foi a loira alta com 
quem eu tinha cruzado na outra noite. 
 “Oi”, ela disse, atacando o que restou do jantar sobre a mesa. A loira espichou os 
olhos para Joseph quando ele educadamente se levantou com toda a beleza de movimentos a que estava acostumado. Ela deu um sorrisinho falso para mim, e logo em seguida fez sua melhor pose de supermodelo para meu namorado enquanto estendia a mão para ele. 
“Tatiana Cherlin.” 
 Ele apertou sua mão. “Sou o namorado de Demetria.” 
 Fiquei surpresa com a maneira como ele se apresentou. Estaria protegendo sua identidade? Queria estabelecer certa distância entre eles logo de cara? Fosse como fosse, gostei da resposta. 
 Cary reapareceu com uma garrafa de vinho e duas taças. “Vamos lá”, ele disse, 
apontando para o quarto. 
 Tatiana se despediu com um rápido aceno e foi atrás de Cary. Quando ela estava de 
costas, chamei a atenção de Cary para que ele lesse meus lábios: “O que você está 
fazendo?”. 
 Ele piscou e respondeu baixinho: “Estou pegando outro biscoito”. 
 Joseph e eu decidimos que já estava na hora de dormir, e fomos para o quarto. 
Enquanto nos trocávamos, quis esclarecer com ele a dúvida que surgiu durante o jantar: 
“Você tinha um matadouro na época da faculdade também?”. 
 Ele tirou a camiseta antes de responder. “Como é?” 
 “Você sabe, um lugar como aquele seu quarto de hotel. Você é um cara ativo. Só 
queria saber se você já tinha um esquema bem organizado desde aquela época.” 
 Ele balançava a cabeça, mas naquele momento eu só tinha olhos para seu peitoral 
perfeito e seus quadris estreitos. “Já transei mais com você do que nos últimos dois anos da minha vida somados.” 
 “Até parece.” 
 “Trabalho muito, e malho que nem um condenado, exatamente para ficar exausto na 
maior parte do meu tempo livre. De vez em quando recebia ofertas que decidia não recusar, mas fora isso o sexo sempre foi uma coisa secundária na minha vida até conhecer você.” 
 “Que mentira.” Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. 
 Ele me fuzilou com o olhar enquanto se dirigia ao banheiro com sua nécessaire 
preta de couro. “Continue duvidando de mim, Demetria. Pague pra ver.” 
 “O quê?” Eu o segui, aproveitando para admirar sua bunda enquanto andava. “Você 
vai provar que o sexo é uma coisa secundária pra você transando comigo de novo?” 
 “Quando um não quer...” Ele abriu a nécessaire e pegou uma escova de dente nova, 
que tirou da embalagem e deixou no meu banheiro. “Você toma a iniciativa tanto quanto 
eu. Precisa sentir essa ligação que temos tanto quanto eu.” 
 “É verdade. Eu só queria...” 
 “Só queria o quê?” Ele abriu uma gaveta, fez cara feia ao ver que estava cheia e 
partiu à procura de outra. 

“Pia errada”, eu disse, sorrindo ao notar sua presunção de que teria gavetas 
reservadas para ele na minha casa, e sua irritação ao perceber que não era bem assim. “A 
outra é toda sua.” 
 Joseph se dirigiu à outra pia e começou a guardar suas coisas. “Só queria o quê?”, 
ele repetiu, guardando o xampu e o sabonete líquido no box. 
 Apoiei-me na pia e cruzei os braços enquanto o via se apossar de meu banheiro. Era 
bem isso que ele estava fazendo: deixava claro para qualquer um que entrasse ali que havia um homem na minha vida. 
 Foi quando me dei conta de que o mesmo estava acontecendo comigo em relação a 
ele. Os empregados de sua casa agora sabiam que ele tinha um relacionamento estável. Só 
de pensar nisso fiquei toda animada. 
 “Durante o jantar, estava tentando imaginar como você era na época da faculdade”, 
continuei, “como seria cruzar com você por acaso no campus. Eu teria ficado obcecada por você. Faria de tudo para entrar no seu caminho, só pra ficar admirando. Ia tentar cursar as mesmas matérias que você, só pra ficar fantasiando sobre como seria te levar pra cama.” 
 “Sua safada.” Ele me deu um beijo na ponta do nariz quando passou por mim para 
escovar os dentes. “Nós dois sabemos muito bem o que aconteceria assim que eu pusesse os olhos em você.” 
 Penteei o cabelo, escovei os dentes e comecei a lavar o rosto. “E então... você tinha 
um lugar especial pra quando alguma vaca sortuda conseguia te arrastar pra cama?” 
 Ele olhou para o reflexo ensaboado do meu rosto no espelho. “Sempre usei aquele 
hotel.” 
 “Foi o único lugar onde você fez sexo? Antes de mim?” 
 “Foi o único lugar onde fiz sexo consensual”, ele respondeu baixinho, “antes de 
você.” 
 “Ah.” Aquilo cortou meu coração. 
 Andei até ele e o abracei por trás, acariciando suas costas com meu rosto. 
 Fomos para a cama e deitamos bem juntinhos. Enterrei meu rosto em seu pescoço e 
respirei bem fundo. Seu corpo era todo duro, mas ainda assim maravilhosamente 
confortável ao toque. Ele era quente e forte, poderosamente masculino. Bastava eu pensar nele para querê-lo. 
 Passei minhas pernas por seus quadris e me elevei acima dele, com as mãos 
espalmadas sobre seu abdome. Estava escuro, mas eu não precisava vê-lo. Por mais que 
gostasse de seu rosto — rosto do qual ele se ressentia às vezes —, era a maneira como ele 
me tocava e falava comigo que me deixava maluca. Como se não houvesse nada neste 
mundo que ele desejasse mais. 
 “Joseph.” Não precisei dizer mais nada. 
 Ele se sentou, envolveu-me nos braços e me deu um beijo profundo. Depois rolou 
para cima de mim e fez amor comigo de uma maneira tão carinhosa e possessiva que 
abalou minha alma. 
  Acordei com um sobressalto. Um peso enorme me esmagava, e uma voz áspera 
vomitava palavras desagradáveis, detestáveis, na minha orelha. O pânico tomou conta de 
mim, deixando-me sem ar. 
 De novo, não. Não... Por favor, não... 
 Nathan tapou minha boca com a mão e abriu minhas pernas. Senti seu membro duro tateando por ali, tentando abrir caminho para dentro do meu corpo. Meu grito saiu abafado pela palma de sua mão, que cobria meus lábios, e eu me encolhi toda, com o coração prestes a explodir. Nathan era pesado demais. Pesado e forte demais. Eu não conseguia afastá-lo. Não conseguia tirá-lo dali. 

 Pare com isso! Me largue. Não encoste em mim. Pelo amor de Deus... por favor, 
não faça isso comigo... de novo não... Onde é que estava minha mãe? Mamãe! 
 A mão de Nathan abafava meus gritos, esmagava-me contra o travesseiro. Quanto 
mais eu resistia, mais excitado ele ficava. Arfando como um cão, ele investia contra mim de novo e de novo... tentando se enfiar dentro de mim... 
 “Agora você vai ver o que é bom.” 
 Gelei. Aquela voz eu conhecia. E sabia que não era de Nathan. 
 Não era um sonho, era um pesadelo. 
 Meu Deus, não. Piscando enlouquecidamente em meio à escuridão, eu fazia força 
para tentar enxergar. O sangue pulsava em meus ouvidos. Não consegui ouvir mais nada. 
 Mas eu conhecia o cheiro da sua pele. Conhecia seu toque, mesmo quando ele era 
cruel. Conhecia a sensação de seu corpo junto ao meu, mesmo quando sua intenção era me violar. 
 O pênis ereto de Joseph batia nas minhas coxas. Em pânico, empurrei-me para cima 
com toda a força. Consegui me libertar da mão que cobria minha boca. 
 Enchi os pulmões de ar e berrei. 
 Seu peito se inflou quando ele grunhiu: “Não é tão bom quando é você que está 
sendo comido, é?”. 
 “Crossfire”, eu disse, perdendo o fôlego. 
 Um facho de luz vindo do corredor me cegou, e logo depois o peso esmagador de 
Joseph foi retirado de cima de mim. Rolando para o lado, comecei a soluçar, com os olhos cheios de lágrimas, o que borrou minha visão de Cary arrastando Joseph pelo quarto e o prensando contra a parede, provocando uma rachadura no revestimento de gesso. 
 “Demetria, você está bem?” Cary acendeu o abajur do lado da cama e soltou um palavrão quando me viu deitada em posição fetal, tremendo violentamente. 
 Quando Joseph endireitou o corpo, Cary foi até ele. “Se sair mais um centímetro 
daí antes da polícia chegar, acabo com sua raça!” 
 Tentando engolir com minha garganta em chamas, eu me sentei. Olhei diretamente 
nos olhos de Joseph e dentro deles vi a névoa do sono ser substituída pelo terror. 
 “É um sonho”, eu consegui dizer, resfolegada, agarrando o braço de Cary, que se 
dirigia ao telefone. “E-ele está sonhando.” 
 Cary então viu Joseph encolhido sem roupa no chão como um animal selvagem. 
Ele ficou sem reação. “Minha nossa. E eu achando que o pirado era eu.” 
 Desci da cama com as pernas trêmulas, com o estômago revirado de medo. Meus 
joelhos cederam e Cary teve que me amparar, baixando meu corpo até o chão e me 
abraçando para acalmar o choro. 
  “Vou deitar no sofá.” Cary passou as mãos pelos cabelos amassados de sono e se 
apoiou na parede do corredor. A porta do quarto estava aberta atrás de mim, revelando a 
imagem de Joseph lá dentro, pálido e assustado. “Vou separar uns cobertores e uns 
travesseiros pra ele também. Não é uma boa ele ir sozinho pra casa. Está abalado demais.” 

“Obrigada, Cary.” Seus braços estavam tensos junto a mim. “Tatiana ainda está 
aqui?” 
 “Claro que não. Nada a ver. Nós trepamos e ela caiu fora.” 
 “E Trey?”, perguntei baixinho, já voltando a pensar em Joseph. 
 “Eu amo Trey. Acho que ele é a melhor pessoa que conheço, tirando você.” Ele se 
inclinou para a frente e beijou minha testa. “O que os olhos não veem o coração não sente. Pare de se preocupar comigo e cuide de você.” 
 Olhei para ele com os olhos banhados de lágrimas. “Não sei o que fazer.” 
 Cary suspirou, e seus olhos verdes ganharam um tom de seriedade. “Acho que você 
precisa refletir se não está dando um passo maior que a perna, gata. Algumas pessoas não 
têm solução. Veja meu exemplo. Arrumei um cara ótimo e estou transando com uma 
menina que detesto.” 
 “Cary...” Eu apertei seu ombro. 
 Ele segurou e apertou minha mão. “Estou aqui se precisar de mim.” 
 Joseph já estava fechando sua mala quando voltei para o quarto. Quando ele me 
olhou, senti um frio na barriga de medo. Não por mim, por ele. Nunca tinha visto alguém 
tão desolado, tão inapelavelmente arrasado. A melancolia em seus lindos olhos me deixou 
apavorada. Eles estavam sem vida. Joseph estava pálido como a morte, imerso nas sombras sob todos os ângulos de seu rosto de tirar o fôlego. 
 “O que você está fazendo?”, sussurrei. 
 Ele se afastou, como se quisesse manter a maior distância possível de mim. “Não 
posso ficar.” 
 Fiquei preocupada quando senti uma pontada de alívio ao ouvir isso. “Nós 
combinamos... chega de fugir.” 
 “Isso foi antes de eu atacar você!”, ele gritou, mostrando o primeiro sinal de vida 
depois de uma hora. 
 “Você estava inconsciente.” 
 “Você não pode virar vítima de novo, Demetria. Minha nossa... o que eu ia fazer com 
você...” Ele deu as costas para mim, e seus ombros se curvaram de uma maneira que me 
assustou muito mais que qualquer outra coisa. 
 “Se você for embora, quer dizer que nosso passado levou a melhor sobre nosso 
futuro.” Minhas palavras o atingiram como um soco no estômago. Todas as luzes do quarto 
estavam acesas, como se a eletricidade fosse capaz de extinguir as sombras de nossa alma. 
“Se sair daqui agora, acho melhor você manter distância e eu esquecer de você. Vai ser o 
fim, Joseph.” 
 “Como posso ficar? Por que você ia me querer aqui?” Ele se virou e me olhou com 
tamanho sentimento que meus olhos se encheram de lágrimas. “Prefiro me matar a 
machucar você.” 
 Esse era um de meus medos. O Joseph que eu conhecia — o homem dominador, 
uma força da natureza — jamais se mataria, mas aquele Joseph que estava diante de mim 
era outra pessoa. E era filho de um suicida. 
 Meus dedos se enroscavam na bainha da minha camiseta. “Você jamais me 
machucaria.” 
 “Você está com medo de mim”, ele disse, quase sem voz. “Dá pra ver no seu rosto. 
Até eu estou com medo de mim. Com medo de cair no sono e fazer uma coisa que 
destruiria minha vida e a sua.” 
 Ele tinha razão. Eu estava com medo. Com um frio na barriga que não passava. Agora eu conhecia seu lado violento. Toda a sua fúria. E nossa relação era passional demais. Dei um tapa na cara dele no dia da festa, coisa que eu nunca tinha feito antes. Fazia parte da natureza de nossa relação andar no fio da navalha, com os nervos à flor da pele. A confiança que havia entre nós fez com que existisse uma abertura para que nos tornássemos vulneráveis e perigosos um para o outro. E isso só ia piorar antes de 

melhorar. 
 Ele passou as mãos pelos cabelos. “Demetria, eu...” 
 “Eu te amo, Joseph.” 
 “Meu Deus.” Ele me olhou como se estivesse enojado. Se era comigo ou com ele 
mesmo, eu não sabia. “Como você pode dizer uma coisa dessas?” 
 “É a verdade.” 
 “Você só está vendo isto aqui”, ele apontou para seu corpo. “Não está vendo tudo o 
que existe de perturbado e traumatizado aqui dentro.” 
 Respirei fundo. “Como você tem coragem de me dizer uma coisa dessas? Sabendo 
que eu também sou perturbada e traumatizada...” 
 “Talvez você esteja mesmo atrás de alguém que te faça mal”, ele respondeu, 
amargo. 
 “Pode parar com isso. Sei que você está chateado, mas descarregar tudo em cima de 
mim só vai piorar as coisas.” Olhei para o relógio e vi que eram quatro da manhã. Caminhei até ele, motivada pela necessidade de superar meu medo de tocá-lo e ser tocada por ele. 
 Ele ergueu uma das mãos para me manter longe. “Estou indo pra casa, Demetria.” 
 “Durma aqui, no sofá. Faça o que estou dizendo desta vez, Joseph. Por favor. Vou 
morrer de preocupação se você for embora.” 
 “E vai ficar mais preocupada ainda se eu ficar.” Ele olhou para mim, parecendo 
perdido, furioso e ao mesmo tempo cheio de desejo. Seus olhos me pediam perdão, mas ele não o aceitava quando eu o oferecia. 
 Fui até ele e peguei sua mão, lutando contra a apreensão que tomou conta de mim 
quando nos tocamos. Meus nervos ainda estavam tensos, minha garganta e minha boca, 
doloridas. A lembrança de suas tentativas de penetração — tão parecidas com as de Nathan — ainda estava viva demais. “N-nós vamos superar isso”, prometi, com raiva de mim mesma por ter gaguejado. “Você vai conversar com o doutor Petersen e depois vemos o que podemos fazer.” 
 Ele levantou uma das mãos, como se fosse tocar meu rosto. “Se Cary não estivesse 
em casa...” 
 “Ele estava, e eu vou ficar bem. Eu te amo. Vamos superar isso.” Caminhei até ele e 
o abracei, enfiando minhas mãos sob sua camisa para sentir sua pele. “Não vamos deixar o 
passado destruir o que temos.” 
 Eu não sabia quem estava tentando convencer ao dizer isso. 
 “Demetria.” Ele retribuiu o abraço, apertando-me com tanta força que perdi o fôlego. 
“Desculpe. Isso está me matando. Por favor. Me perdoe... Não posso te perder.” 
 “E não vai.” Fechei os olhos, concentrando-me em seu toque. Em seu cheiro. 
Lembrando que costumava não ter medo de nada quando estava com ele. 
 “Sinto muito.” Suas mãos trêmulas acariciavam a curvatura das minhas costas. 
“Faço qualquer coisa...” 
 “Shh. Eu te amo. Vai ficar tudo bem.” 
 Ele virou a cabeça e me beijou de leve. “Desculpe, Demetria. Eu preciso de você. Tenho medo do que pode acontecer se eu te perder...” 
“Não vou deixar isso acontecer.” Minha pele se arrepiou sob o movimento 
constante de suas mãos nas minhas costas. “Estou bem aqui. Não vou mais fugir.” 
 Ele fez uma pausa, respirando bem perto da minha boca. Depois baixou a cabeça e 
me deu um beijo na boca. Meu corpo reagiu àquele estímulo suave. Curvei-me em sua 
direção sem perceber, trazendo-o mais para perto. 
 Ele agarrou meus seios, acariciando-os, estimulando meus mamilos com os 
polegares até eles ficarem pontudos e sensíveis. Gemi de medo e de desejo, e ele 
estremeceu ao ouvir esse som. 
 “Demetria...?” 
 “Eu... não consigo.” A lembrança de como havia sido acordada ainda era recente 
demais. Foi doloroso para mim rejeitá-lo, principalmente por saber que ele precisava 
receber de mim a mesma coisa que havia me oferecido quando contei a ele sobre Nathan — uma prova de que o desejo não tinha morrido, uma prova de que, por mais feias que fossem nossas cicatrizes do passado, elas não afetavam o que sentíamos um pelo outro naquele momento. 
 No entanto, não fui capaz de fazer isso. Não naquela hora. Estava me sentindo 
ferida e vulnerável. “Me abrace, Joseph. Por favor.” 
 Ele concordou com a cabeça e me envolveu em seus braços. 
 Eu o fiz deitar no chão comigo, na esperança de fazê-lo voltar a dormir. Aninhei-me 
a seu lado, jogando minha perna sobre a dele e apoiando meu braço sobre sua barriga. Ele 
me apertou de levinho, dando um beijo na minha testa e sussurrando várias vezes que sentia muito. 
 “Não vá embora”, murmurei. “Fique.” 
 Joseph não respondeu nem fez nenhuma promessa, mas também não me soltou. 
 Acordei algum tempo mais tarde, ouvindo o coração dele bater tranquilamente sob 
minha orelha. Todas as luzes ainda estavam acesas, e o chão acarpetado parecia duro e 
desconfortável. 
 Joseph estava deitado de costas, seu lindo rosto estava adormecido como o de um 
menino, com a camiseta levantada só o suficiente para mostrar seu umbigo e os músculos 
bem definidos de seu abdome. 
 Aquele era o homem que eu amava. Aquele era o homem cujo corpo me dava tanto 
prazer, cuja consideração por mim sempre me emocionava. Ele ainda estava lá. E as rugas que se viam entre suas sobrancelhas mostravam que ainda estava chateado. 
 Enfiei minha mão em sua calça. Pela primeira vez desde que estávamos juntos, ele 
não estava duro como pedra ao toque da minha mão, mas logo começou a inchar e 
engrossar quando passei a masturbá-lo. Um temor ainda se fazia presente na minha 
excitação, mas o medo de perdê-lo era maior que o dos demônios que viviam dentro dele.  Ele se mexeu e me apertou forte, com os braços nas minhas costas. “Demetria...” 
 Dessa vez respondi como deveria ter feito anteriormente, mas não consegui. 
“Vamos esquecer”, eu disse com a boca colada à sua. “Nos faça esquecer.” 
 “Demetria.” 
 Ele rolou para cima de mim, tirando minha camiseta com movimentos cuidadosos. 
Eu também tateava com cautela ao despi-lo. Encostamos um no outro como se fôssemos 
feitos de açúcar. O laço que nos unia estava frágil. Estávamos ambos preocupados com o 
futuro e com as feridas que poderíamos acabar reabrindo.

Seus lábios abocanharam meu mamilo e suas bochechas desinflaram lentamente, em 
um gesto de sedução menos violento que o de costume. Aquela sucção suave era tão 
gostosa que perdi o fôlego e me dobrei em sua direção. Ele acariciou meu corpo do seio até o quadril, descendo e subindo até meu coração disparar. 
 Ele passou a boca por meu peito até chegar ao outro seio, murmurando palavras de 
desculpas e carência com a voz carregada de arrependimento e tristeza. Sua língua chegou 
ao mamilo enrijecido, provocando-o um pouco antes de envolvê-lo em uma chupada quente 
e molhada. 
 “Joseph.” Suas carícias delicadas foram perfeitas para encher de desejo minha 
mente inquieta. Meu corpo já estava entregue a ele, ávido por sentir prazer e desfrutar de 
sua beleza. 
 “Não tenha medo de mim”, ele sussurrou. “Pode ficar tranquila.” 
 Joseph beijou meu pescoço e depois foi descendo, acariciando minha barriga com 
os cabelos enquanto se acomodava no meio de minhas pernas. Manteve-me aberta para ele 
com as mãos trêmulas, e acariciou meu clitóris com a boca. Suas lambidas leves e 
provocadoras por toda a minha abertura, combinadas com as entradas furtivas de sua língua 
no meu sexo fremente, levaram-me às raias da loucura. 
 Minhas costas se arquearam. Súplicas roucas saíam do meu lábio. A tensão se 
espalhou pelo meu corpo, fazendo com que eu me contraísse inteira até quase explodir sob 
tanta pressão. Ele conseguiu me levar ao orgasmo apenas com o toque delicado da ponta de 
sua língua. 
 Gemi bem alto ao sentir aquela onda morna de alívio se apoderar de meu corpo 
estremecido. 
 “Não posso perder você, Eva.” Gideon se deitou sobre mim enquanto meu corpo se 
contorcia de prazer. “Não posso.” 
 Limpando as marcas de lágrimas em seu rosto, eu me vi diante de seus olhos 
vermelhos. Seu sofrimento era um tormento para mim, de cortar o coração. “Você não me 
perderia nem se quisesse.” 
 Ele penetrou em mim lentamente, com todo o cuidado. Pressionei a cabeça contra o 
chão duro à medida que ele chegava mais fundo, tomando conta de meu corpo centímetro a 
centímetro. 
 Quando entrou por inteiro, ele começou a se mover em investidas calculadas e 
cautelosas. Fechei os olhos e pensei apenas no sentimento que havia entre nós. Foi quando 
ele parou e deitou sobre mim, com a barriga encostada na minha, e meu coração disparou 
em pânico. Assustada, eu não sabia o que fazer. 
 “Olhe para mim, Eva.” Sua voz estava tão rouca que eu não consegui reconhecê-la. 
 Obedeci, e pude ver toda a sua angústia. 
 “Faça amor comigo”, ele implorou em um sussurro quase sem fôlego. “Faça amor 
comigo. Toque em mim, meu anjo. Ponha suas mãos sobre mim.” 
 “Sim.” Pus as mãos espalmadas em suas costas, depois explorei os músculos 
contraídos de seu traseiro. Apertando bem forte sua carne rígida, eu o fiz se mover mais 
rápido, chegando mais fundo. 
 As estocadas ritmadas de seu pau grosso contra as profundezas convulsionadas de 
meu sexo fizeram o prazer se espalhar por mim em ondas de calor. Ele era tão gostoso. 
Minhas pernas envolveram seus quadris em movimento, minha respiração acelerou e o 
caroço congelado que havia se instalado em minha barriga começou a derreter. Nossos 
olhares grudaram um no outro.
As lágrimas escorriam por minhas têmporas. “Eu te amo, Joseph.”
 “Por favor...” Ele fechou os olhos.
 “Eu te amo.”
 Ele me conduziu ao orgasmo mexendo os quadris com habilidade, movimentando
seu pau dentro de mim. Meu sexo ficou inchado e apertado, fazendo de tudo para mantê-lo dentro de mim.
 “Goze, Demetria”, ele disse com a boca colada na minha garganta.
 Eu me esforcei para isso, esforcei-me para deixar para trás a apreensão que sentia
com ele ali em cima de mim. A ansiedade se misturou ao desejo, mantendo-me em um
estado de excitação suspensa.
 Ele soltou um gemido carregado de dor e arrependimento. “Preciso fazer você
gozar, Demetria... preciso dessa sensação... Por favor...”
 Agarrando minha bunda, ele ajeitou a posição de meus quadris e atacou de novo e
de novo o mesmo lugarzinho sensível dentro de mim. Ele era incansável, implacável, e
continuou metendo com força até eu perder o controle sobre meu corpo e gozar
violentamente. Mordi seu ombro para abafar meus gritos enquanto me contorcia embaixo
dele, sentindo os pequenos músculos de meu ventre se contraírem em espasmos de êxtase.
Ele soltou um grunhido profundo, que reverberou em seu peito, um ruído áspero de prazer misturado com sofrimento.
 “Mais”, ele ordenou, entrando mais fundo para me fazer sentir dor. O fato de ele se
sentir confiante o bastante para me infligir uma pequena dose de sofrimento derrubou a
última de minhas preocupações. Enquanto confiássemos um no outro, poderíamos confiar
nos nossos instintos também.
 Gozei mais uma vez, ferozmente, dobrando os dedos do pé até sentir câimbras.
Senti que a tensão habitual tomava conta de Joseph e apertei ainda mais seus quadris,
puxando-o para perto à força, desesperada para senti-lo jorrar dentro de mim.
 “Não!” Joseph se afastou, caindo de costas e cobrindo os olhos com um dos braços.
Ele estava punindo a si mesmo, negando a seu corpo o conforto e o prazer que costumava
extrair do meu.
 Seu peito oscilava violentamente, encharcado de suor. Seu pau caiu pesadamente
sobre sua barriga, exibindo toda a sua impetuosidade na cabeça larga e arroxeada e no
corpo atravessado por veias grossas.
 Mergulhei sobre ele com as mãos e a boca, ignorando seus palavrões furiosos.
Prendendo seu tronco ao chão com o antebraço, eu o masturbei com força com a outra mão e chupei sedentemente sua região mais sensível.
 “Porra, Demtria. Caralho.” Ele enrijeceu e expirou com força, puxando meu cabelo e
movimentando os quadris. “Caralho. Chupa com força... Minha nossa...”
 Ele explodiu em um jorro poderoso que quase me fez engasgar, inundando minha
boca. Eu bebi tudinho, ordenhando com a mão cada pulsação que fazia seu pau tremer,
engolindo sem parar até que ele estremeceu de satisfação e me implorou para parar.
 Eu me endireitei e Joseph se sentou para me abraçar. Ele me puxou de volta para o
chão, onde enterrou o rosto no meu pescoço e chorou até o dia amanhecer. 

Um comentário: