quarta-feira, 25 de junho de 2014

Capítulo 29

“Com licença.” Saí da mesa à procura de Joseph. Vi que estava no bar e fui até lá. 
 Ele estava agradecendo ao barman com dois copos na mão quando o abordei. 
Peguei meu copo e virei em um gole, sentindo meus dentes doerem ao toque dos cubos de gelo. 
 “Demetria...” Havia um leve tom de reprimenda em sua voz. 
 “Estou indo embora”, eu disse sem rodeios, passando ao seu lado para deixar o copo 
vazio no balcão. “Não considero isso uma fuga, porque estou avisando com antecedência, e você pode ir comigo se quiser.” 
 Ele bufou, deixando bem claro que entendia o motivo do mau humor. Ele sabia que 
eu sabia. “Não posso ir embora agora.” 
 Virei as costas. 
 Ele me pegou pelo braço. “Não vou conseguir ficar se você for embora. Você não 
tem por que ficar chateada, Demetria.” 
 “Ah, não?” Olhei para o ponto em que sua mão me agarrava. “Eu avisei que era 
ciumenta. E, desta vez, você me deu uma boa razão pra isso.” 
 “Só porque me avisou você acha que pode dar uma de ridícula?” Seu rosto estava 
relaxado e seu tom de voz, calmo e controlado. Ninguém seria capaz de notar à distância a tensão que havia entre nós, mas seus olhos diziam tudo. Brilhavam de fúria e luxúria. Ele era muito bom em combinar as duas coisas. 
 “Ridícula, é? E o que você fez com Daniel, o instrutor da academia? Ou com 
Martin, um membro da minha família?” Cheguei mais perto e sussurrei: “Eu nunca trepei 
com nenhum dos dois, muito menos concordei em me casar com eles! E pode ter certeza de que não converso todo santo dia com nenhum deles!”. 
 Em um gesto abrupto, ele me agarrou pela cintura e me puxou para perto. “Você 
precisa ser comida agora mesmo”, ele cochichou no meu ouvido, mordendo a ponta da 
minha orelha. “Não devia ter feito você esperar.” 
 “Vai ver você fez tudo de caso pensado”, rebati. “Estava se poupando pro caso de 
uma velha chama se acender e você preferir trepar com outra pessoa.” 
 Joseph virou sua bebida e depois me segurou pela cintura com toda a força antes de 
me conduzir até a porta. Ele sacou o celular do bolso e chamou a limusine. Quando 
chegamos à rua, o carro já estava lá. Joseph me empurrou porta adentrou e ordenou para 
Angus: “Dê umas voltas no quarteirão até eu mandar parar”. 
 Ele entrou logo depois de mim, tão perto que eu conseguia sentir sua respiração 
contra as minhas costas nuas. Pulei para o outro assento, determinada a manter distância 
dele... 
 “Pare com isso”, ele gritou. 
 Caí de joelhos no assoalho acarpetado, com a respiração acelerada. Eu poderia 
correr até o fim do mundo, mas ainda assim não ia escapar do fato de que Corinne Giroux 
era uma companhia muito melhor para Joseph do que eu. Era calma e elegante, uma 
presença tranquilizadora até para mim — a pessoa que estava surtando ao tomar 
conhecimento de sua existência. Meu pior pesadelo. 
 Sua mão se enrolou em meus cabelos soltos, prendendo-me. Suas pernas abertas 
envolveram as minhas, puxando-me com tanta força que minha cabeça encostou em seu 
ombro. “Vou fazer agora uma coisa de que nós dois precisamos, Demetria. Vamos trepar até essa tensão se dissipar o suficiente para podermos voltar para o jantar. E não se preocupe com Corinne, porque, enquanto ela fica lá dentro, vou estar aqui, dentro de você.” 
 “Está bem”, sussurrei, passando a língua por meus lábios secos.
“Você esqueceu quem é que manda aqui, Demetria”, ele falou asperamente. “Abri mão 
do controle por sua causa. Cedi e ajustei meu comportamento pra você. Faço qualquer coisa pra deixar você feliz. Mas não aceito cabresto nem chicote. Não confunda minha boa vontade com fraqueza.” 
 Engoli em seco, com o sangue fervendo por ele. “Joseph...” 
 “Estique as mãos e se segure na barra debaixo da janela. Não solte até eu mandar, 
entendeu?” 
 Fiz conforme ele mandou, segurando a barra com revestimento de couro. Quando 
minhas mãos se fixaram ali, meu corpo voltou à vida, fazendo-me perceber o quanto de fato precisava daquilo. Ele me conhecia tão bem, meu amor. 
 Enfiando as mãos sob a parte de cima do meu vestido, Joseph agarrou meus seios 
inchados e sedentos. Quando apertou e girou meus mamilos, minha cabeça se jogou para 
trás em sua direção, com a tensão à flor da pele. 
 “Minha nossa.” Ele esfregou a boca contra a minha têmpora. “É tão perfeito quando 
você se entrega assim pra mim... quando se abre todinha, como se dependesse disso pra 
viver.” 
 “Me fode”, implorei, sentindo uma necessidade aguda dessa ligação entre nós. “Por 
favor.” 
 Ele soltou meu cabelo, enfiou a mão por baixo do meu vestido e arrancou a minha 
calcinha. Seu paletó passou voando por mim e aterrissou no assento; depois suas mãos 
encontraram o caminho até o meio das minhas pernas. Ele soltou um grunhido ao sentir que eu estava toda molhada. “Você foi feita pra mim, Demetria. Não consegue ficar muito tempo sem me sentir dentro de você.” 
 Ainda assim ele continuava me provocando, explorando-me com os dedos, 
espalhando a umidade por meu clitóris e meus lábios vaginais. Depois enfiou dois dedos 
em mim e os abriu como uma tesoura, preparando-me para receber seu pau grande e grosso. 
 “Você me quer, Joseph?”, perguntei ofegante, louca para me mexer ao ritmo de 
seus dedos, mas impedida pela distância por ter que permanecer agarrada à barra de apoio. 
 “Mais do que o ar que eu respiro.” Seus lábios se mexiam perto do meu pescoço, 
por cima do meu ombro, e o calor de sua língua aveludada passava sedutoramente por 
minha pele. “Também não consigo ficar sem você, Demetria. Você é meu vício... minha 
obsessão...” 
 Seus dentes se encravaram de leve na minha pele, combinando seu desejo animal 
com um ruído brutal de desejo. Enquanto ele me penetrava com os dedos, sua outra mão 
massageava meu clitóris, fazendo-me gozar de novo e de novo com aquela estimulação 
simultânea. 
 “Joseph!”, gritei quase sem fôlego quando meus dedos úmidos começaram a 
escorregar da barra revestida em couro. 
 Suas mãos me soltaram e ouvi o ruído excitante de seu zíper baixando. “Pode soltar 
e deitar com as pernas abertas.” 
 Deitei-me e ofereci o meu corpo para ele tremendo de ansiedade. Joseph me olhou 
nos olhos, e seu rosto se iluminou com os faróis de um carro que passava. 
 “Não tenha medo.” Ele subiu em cima de mim, soltando seu peso com um cuidado 
escrupuloso. 
 “Estou com tesão demais pra sentir medo.” Eu o agarrei e lancei meu corpo para 
cima a fim de ficar mais perto do dele. “Quero você.” 

 A cabeça de seu pau se esfregava nos lábios do meu sexo. Flexionando os quadris,ele entrou em mim, expirando o ar junto comigo em uma sincronia marcante. Fiquei toda 
mole em cima do assento, com os dedos apoiados contra sua cintura estreita. 
 “Eu te amo”, sussurrei, observando seu rosto enquanto ele começava a se mexer. 
Cada pedacinho da minha pele queimava como se eu estivesse sob o sol, e meu peito estava tão apertado que a respiração ficava difícil. “E preciso de você, Joseph.” 
 “Eu sou seu”, ele murmurou enquanto seu pau entrava e saía. “Não poderia ser mais 
seu.” 
 Estremeci e fiquei toda tensa. Meus quadris se remexiam sem cessar na direção de 
suas estocadas ritmadas. Cheguei ao clímax com um grito abafado, toda arrepiada enquanto o orgasmo se espalhava por meu sexo, ordenhando seu membro até ele soltar um grunhido e começar a meter com ainda mais força. 
 “Demetria.” 
 Eu me mexia de encontro a suas estocadas ferozes, incitando-o a continuar. Ele me 
agarrou com força e começou a se mover mais rápido. Minha cabeça se sacudia de um lado para o outro e eu gemia sem o menor pudor, adorando aquela sensação dele dentro de mim, aquela impressão volátil de ser possuída e brutalmente saciada. 
 Estávamos malucos um pelo outro, trepando como animais selvagens, e eu estava 
tão em sintonia com nosso desejo furioso que pensei que ia morrer ao sentir mais um 
orgasmo começar a crescer dentro de mim. 
 “Você é tão bom nisso, Joseph. Tão bom...” 
 Ele agarrou minha bunda e me puxou para trás contra sua investida violenta, 
chegando até o fundo, expulsando um gemido esbaforido de dor e prazer da minha 
garganta. Gozei mais uma vez, grudando meu corpo ao dele com todas as minhas forças. 
 “Meu Deus, Demetria.” Com um rugido áspero, ele entrou violentamente em erupção, 
inundando-me com seu calor. Pressionando meus quadris, ele me deixou imóvel e se 
esvaziou dentro de mim na maior profundidade que foi capaz de alcançar. 
 Quando terminamos, ele respirou fundo e ajeitou meus cabelos com as mãos, 
beijando meu pescoço suado. “Queria que você soubesse o que me faz. Queria saber 
explicar.” 
 Eu o abracei com toda a força. “Não consigo deixar de fazer coisas idiotas por sua 
causa. É mais do que consigo suportar, Joseph. É...” 
 “... incontrolável.” Ele começou tudo de novo, com estocadas ritmadas. Pelo 
simples prazer de fazê-lo. Como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Inchando e 
crescendo a cada investida. 
 “E você precisa estar no controle.” Perdi o fôlego quando ele atingiu um ponto 
particularmente sensível. 
 “Preciso de você, Demetria.” Seus olhos permaneciam grudados nos meus enquanto ele 
se mexia dentro de mim. “Preciso de você.” 
  Joseph não saiu mais do meu lado, e não permitiu que eu me afastasse dele, pelo 
resto da noite. Seu braço direito permaneceu unido ao meu inclusive durante o jantar. Mais uma vez, ele preferiu comer com uma só mão a ter de me largar. 
 Corinne — que havia se sentado ao seu lado na nossa mesa — o encarou com um 
olhar de curiosidade. “Não lembrava que você era canhoto.” 
 “Não sou”, ele respondeu, levantando nossas mãos unidas até a boca e beijando 
meus dedos. Senti-me tola e insegura quando ele fez isso — e envergonhada por Corinne ter visto aquilo. 
 Infelizmente, sua disposição a gestos românticos não impediu que ele passasse o 
jantar inteiro conversando com ela, não comigo — o que me deixou impaciente e infeliz. 
Eu estava vendo mais as costas de Joseph do que seu rosto. 
 “Pelo menos não é frango.” 
 Virei-me para ver o homem sentado ao meu lado. Estava tão preocupada em tentar 
ouvir a conversa de Joseph que nem prestei atenção ao restante da mesa. 
 “Eu gosto de frango”, foi minha resposta. E tinha gostado da tilápia servida no 
jantar — e limpado o prato. 
 “Não de frango de borracha, com certeza.” Ele sorriu, o que o fez parecer bem mais 
jovem do que seus cabelos grisalhos sugeriam. “Ah, um sorriso”, ele murmurou. “E muito 
bonito, por sinal.” 
 “Obrigada.” Eu me apresentei. 
 “Doutor Terrence Lucas”, ele respondeu. “Mas prefiro Terry.” 
 “Doutor Terry. Prazer em conhecer.” 
 Ele abriu outro sorriso. “Só Terry, Demetria.” 
 Durante os poucos minutos em que conversamos, convenci-me de que o dr. Lucas 
não era muito mais velho que eu, apenas prematuramente grisalho. Além disso, seu rosto 
era liso e bonito, e seus olhos verdes eram inteligentes e gentis. Minha estimativa quanto à sua idade foi revista para uns trinta e tantos. 
 “Você parece tão entediada quanto eu”, ele comentou. “Esses eventos levantam 
dinheiro por uma boa causa, mas são um pé no saco. Quer ir comigo até o bar? Eu te pago 
uma bebida.” 
 Tentei fazer com que Joseph soltasse minha mão sob a mesa. Ele a apertou ainda 
mais. 
 “O que está fazendo?”, ele murmurou. 
 Vi que ele estava virado para mim. Depois acompanhei seu olhar até chegar ao dr. 
Lucas, que estava de pé atrás de nós. Joseph fechou a cara visivelmente. 
 “Ela vai aliviar o tédio de ser ignorada, Jonas”, disse Terry, apoiando as mãos sobre 
o encosto da minha cadeira, “vai doar um pouco de seu tempo a alguém que ficaria feliz em dedicar sua atenção a uma linda mulher.” 
 Senti-me imediatamente desconfortável diante da animosidade crescente entre os 
dois. Puxei minha mão, mas Joseph não me largou. 
 “Suma daqui, Terry”, Joseph alertou. 
 “Você estava tão entretido com a senhora Giroux que nem reparou que eu estou 
sentado nesta mesa.” Terry abriu um sorriso tenso. “Vamos, Demetria?” 
 “Paradinha aí, Demetria.” 
 Estremeci ao ouvir seu tom de voz, mas estava magoada o bastante para dizer: “Não 
é culpa dele. Ele está certo”. 
 Joseph apertava tanto minha mão que até doía. “Não vamos discutir isso agora.” 
 O olhar de Terry se voltou para mim. “Você não é obrigada a aturar esse tipo de 
tratamento. Nem todo o dinheiro do mundo dá a ele o direito de tratar alguém assim.” 
 Furiosa e terrivelmente envergonhada, eu me virei para Joseph. “Crossfire.” 
 Não sabia ao certo se podia usar a palavra de segurança fora do quarto, mas ele me 
soltou assim que a ouviu. Empurrei a cadeira para trás e joguei meu guardanapo no prato. 
“Com licença. Vocês dois.” 
 Com a bolsa na mão, saí de perto da mesa com passos firmes e decididos. Fui até o banheiro para retocar a maquiagem e me recompor, mas, assim que vi que havia uma saída 
ali, meu desejo de sumir dali falou mais alto. 
 Tirei o celular da bolsa ao chegar à calçada e mandei uma mensagem para Joseph: 
Não estou fugindo. Só indo embora. 
 Consegui pegar um táxi que passava por ali e fui acalmar minha raiva em casa. 
 Quando cheguei ao apartamento, tudo o que eu queria era uma banheira quente e 
uma garrafa de vinho. Ao pôr a chave na porta e virar a maçaneta, porém, dei de cara com um set de filmagens de cinema pornô. 
 Durante os poucos segundos que meu cérebro precisou para registrar o que meus 
olhos estavam vendo, fiquei parada na entrada do apartamento, inundando o corredor atrás de mim com o som estridente do tecnopop. Havia tantas partes de corpos envolvidas que eu tive tempo de bater a porta com força antes de montar o quebra-cabeça. Uma mulher estava deitada de pernas abertas no chão. Outra estava debruçada sobre ela, chupando-a. Cary estava mandando ver nela com força, enquanto outro cara o comia por trás. 
 Olhei para cima e soltei o berro mais alto que consegui, incapaz de esconder que 
estava de saco cheio de todas as pessoas que faziam parte da minha vida. Como o ruído da música ainda estava competindo comigo, tirei um dos sapatos e joguei no aparelho de som. 
O CD pulou, o que interrompeu a sessão de ménage à quatre que acontecia no chão da 
minha sala e chamou a atenção para minha presença. Passei por cima deles e desliguei o 
som antes de encará-los. 
 “Fora da minha casa”, gritei. “Agora.” 
 “Quem é essa aí?”, perguntou a ruiva na base da pirâmide. “Sua mulher?” 
 Por um breve momento, pude ver a vergonha e a culpa no rosto de Cary, mas logo 
depois ele abriu um sorriso arrogante. “Minha colega de apartamento. Tem lugar pra mais 
uma, gata.” 
 “Cary Taylor. Não me provoque”, alertei. “Você não me pegou num bom dia. Não 
mesmo.” 
 O homem de cabelos escuros que estava atrás de Cary saiu de cima dele e veio para 
o meu lado. À medida que ele se aproximava, vi que seus olhos castanhos estavam 
absurdamente dilatados e que as veias de seu pescoço pulsavam enlouquecidamente. “Posso salvar o seu dia”, ele ofereceu com um sorrisinho. 
 “Não vem que não tem.” Ajustei minha postura, preparando-me para atacá-lo 
fisicamente se fosse preciso. 
 “Deixe ela em paz, Ian”, Cary gritou, pondo-se de pé. 
 “Qual é, gata”, Ian continuou, deixando-me enojada ao usar o mesmo tratamento 
que Cary usava para se referir a mim. “Você precisa se divertir um pouco. Pode confiar em mim.” 
 Por um instante ele chegou a ficar a poucos centímetros de mim. No momento 
seguinte, estava caindo no sofá com um grito. Joseph se colocou entre mim e todos os 
outros, tremendo de raiva. “Vá terminar isso no quarto, Cary”, ele mandou. “Ou então em 
outro lugar.” 
 Ian estava se contorcendo no sofá, com o nariz jorrando sangue apesar das duas 
mãos que tentavam estancá-lo. 
 Cary apanhou seu jeans, que estava no chão. “Você não é minha mãe, Demetria.” 
 Dei um passo à frente e fiquei lado a lado com Joseph. “Ter estragado tudo com Trey não serviu de lição pra você, seu imbecil do caralho?” 
 “Isso não tem nada a ver com Trey!” 
 “Quem é Trey?”, perguntou a loira curvilínea ao se levantar. Quando conseguiu 
olhar melhor para Joseph, ela se abriu toda, mostrando seu corpo belíssimo. 
 Seus esforços renderam apenas um olhar tão carregado de desprezo que ela enfim 
teve a decência de corar de vergonha e se cobrir com um vestido dourado que apanhou do chão. Aproveitando minha disposição para briga, lancei uma provocação: “Não leve a mal, não. Ele prefere as morenas”. 
 O olhar que Joseph lançou para mim foi assustador. Eu nunca o tinha visto assim 
tão perturbado. Ele estava literalmente a um passo de uma explosão de violência. 
 Assustada por aquele olhar, involuntariamente dei um passo atrás. Ele soltou 
palavrões furiosos e passou as duas mãos pelos cabelos. 
 Sentindo-me subitamente esgotada e decepcionadíssima com os homens da minha 
vida, virei as costas para tudo aquilo. “Não quero essa putaria dentro da minha casa, Cary.” 
 Tomei o caminho do corredor, largando o outro sapato no caminho. Quando cheguei 
ao banheiro já estava sem roupa, e logo depois estava no chuveiro. Esperei a água esquentar e a deixei cair por meu corpo com toda a força. Cansada demais para ficar muito tempo de pé, sentei no chão bem embaixo da água corrente com os olhos fechados, abraçando os joelhos. 
 “Demetria.” 
 Eu me encolhi ao ouvir a voz de Joseph, agarrando as pernas com ainda mais força. 
 “Puta que pariu”, ele explodiu. “Não existe ninguém no mundo que me deixe mais 
puto que você.” 
 Olhei para ele por entre os cabelos molhados. Ele andava de um lado para o outro 
no banheiro, sem paletó e com a camisa para fora da calça. “Vá pra casa, Joseph.” 
 Ele parou e me lançou um olhar incrédulo. “Não vou deixar você aqui sozinha nem 
fodendo. Cary pirou de vez! Aquele drogado filho da puta estava quase atacando você 
quando cheguei.” 
 “Cary não deixaria isso acontecer. Além disso, não estou com cabeça pra aturar 
você e ele ao mesmo tempo.” Eu não queria aturar nenhum dos dois, na verdade. Só queria ficar sozinha. 
 “Então vai se concentrar só em mim.” 
 Tirei os cabelos do rosto com um gesto impaciente. “Ah, é? Então quer dizer que a 
prioridade da minha vida é você?” 
 Ele se encolheu como se tivesse levado uma pancada. “Pensei que a prioridade da 
nossa vida fosse fazer esta relação funcionar.” 
 “É, eu também pensava. Até esta noite.” 
 “Meu Deus. Dá pra esquecer essa história da Corinne?” Ele abriu os braços. “Estou 
aqui com você, não estou? Mal tive tempo de me despedir dela, porque tive que sair 
correndo atrás de você. De novo.” 
 “Foda-se. Não fui eu que pedi pra você vir atrás de mim.” 
 Joseph entrou no chuveiro de roupa e tudo. Botou-me de pé com um puxão e me 
beijou. Com vontade. Sua boca devorava a minha, enquanto suas mãos apertavam meus 
braços para me manter onde ele queria. 
 Mas mantive a postura dessa vez. Não ia ceder. Nem mesmo quando ele tentou me 
seduzir com lambidas lascivas e sugestivas. 
 “Por quê?”, ele murmurou, com a boca colada ao meu pescoço. “Por que você quer me deixar maluco?” 
 “Não sei qual é seu problema com o doutor Lucas, e sinceramente não estou nem aí. 
Mas ele tinha razão. Você só conseguia prestar atenção em Corinne. Praticamente me 
ignorou durante o jantar inteiro.” 
 “É impossível pra mim ignorar você, Demetria.” Ele fechou a cara. “Quando você está 
por perto, não tenho olhos pra mais ninguém.” 
 “Que engraçado. Porque, pelo que eu vi, você ficou o tempo todo de olho nela.” 
 “Que bobagem.” Ele me soltou e tirou os cabelos molhados do meu rosto. “Você 
sabe o que sinto por você.” 
 “Ah, eu sei? Sei que você me quer. E que precisa de mim. Mas você é apaixonado 
por Corinne?” 
 “Porra, é inacreditável. Não.” Ele desligou o chuveiro e apoiou as duas mãos no box 
em torno de mim para que eu não saísse. “Você quer que eu diga que te amo, Demetria? Essa cena toda é por isso?” 
 Senti meu estômago se contrair como se tivesse levado um soco. Nunca havia 
sentido uma dor como aquela, nem sabia que ela existia. Meus olhos ardiam, e eu me 
abaixei para passar sob seu braço antes de cair no choro. “Vá pra casa, Joseph. Por favor.” 
 “Eu estou em casa.” Ele me agarrou por trás e enfiou o rosto nos meus cabelos 
ensopados. “Estou com você.” 
 Lutei para me libertar, mas estava abalada demais. Fisicamente. Emocionalmente. 
As lágrimas começaram a cair em profusão, e não havia como detê-las. Eu odiava chorar 
quando não estava sozinha. “Vá embora. Por favor.” 
 “Eu te amo, Demetria. É claro que sim.” 
 “Ai, meu Deus.” Eu o chutei e consegui escapar. Seria capaz de qualquer coisa para 
me afastar de uma pessoa que estava me causando tamanha dor e sofrimento. “Não estou 
pedindo pra você ter pena de mim. Estou pedindo pra ir embora.” 
 “Não posso. Você sabe que não posso. Pare de brigar comigo, Demetria. Me escute.” 
 “Você só está me magoando com essa conversa, Joseph.” 
 “Não é a palavra certa, Demetria”, ele continuou, teimoso, com os lábios grudados na 
minha orelha. “É por isso que eu não disse antes. Não é a palavra certa pra você nem pro 
que eu sinto por você.” 
 “Chega. Se você gostar de mim um pouquinho que seja, vai calar essa boca e sumir 
daqui.” 
 “Já fui amado antes — por Corinne, por outras mulheres... Mas o que elas sabem 
sobre mim? Como é que elas podem estar apaixonadas se não sabem nem quem sou? Se o 
amor é isso, não é nada em comparação ao que sinto por você.” 
 Fiquei paralisada, tremendo, vendo no espelho meu rosto borrado de rímel e meus 
cabelos ensopados e desgrenhados ao lado da beleza perturbada de Joseph. Suas feições 
estavam dominadas pela emoção quando ele me abraçou com força. Nós não parecíamos 
combinar em nada um com o outro. 
 Ainda assim eu compreendia sua alienação por estar cercado de pessoas que não 
podiam, ou não queriam, entendê-lo. Podia sentir seu auto-desprezo, proveniente do fato de ser uma fraude, uma imagem projetada de alguém que ele queria ser, mas não era. Sabia o que era conviver com o medo de que as pessoas que ele amava lhe virassem as costas caso o conhecessem como realmente era. 
 “Joseph...” 
 Ele beijou minha testa. “Acho que me apaixonei no momento em que vi você. E quando transamos na limusine virou outra coisa. Uma coisa maior.” 
 “Que seja. Você me deu um chega pra lá naquela noite e foi cuidar de Corinne. 
Como é que você pôde fazer uma coisa dessas comigo, Joseph?” 
 Ele só me largou quando se ajeitou para me pegar no colo e me levar até onde 
estava meu robe, pendurado em um gancho atrás da porta. Ele me vestiu e depois me sentou na borda da banheira enquanto ia até a pia e pegava meus paninhos de tirar maquiagem da gaveta. Agachado na minha frente, começou a limpar meu rosto. 
 “Quando Corinne me ligou no meio daquele evento, era o momento perfeito pra eu 
fazer uma idiotice.” A expressão em seu rosto banhado de lágrimas era tranquila e afetuosa. 
“Você e eu tínhamos acabado de transar, e eu não estava conseguindo pensar direito. Disse pra ela que estava ocupado, e que estava acompanhado, mas quando percebi que ela estava magoada, achei que precisava acertar os ponteiros com ela pra poder seguir em frente com você.” 
 “Não entendi nada. Você me deixou de lado por causa dela. É isso que você chama 
de seguir em frente comigo?” 
 “Eu pisei na bola com Corinne, Demetria.” Ele levantou meu queixo para limpar meus 
olhos borrados. “Nós nos conhecemos no meu primeiro ano de universidade. Ela chamou 
minha atenção, é claro, toda linda e meiga, incapaz de dizer uma palavra desagradável 
sobre quem quer que seja. Quando veio atrás de mim, eu me deixei levar e tive minha 
primeira experiência sexual de comum acordo com ela.” 
 “Eu a odeio.” 
 Ele abriu um sorrisinho ao ouvir isso. 
 “Não estou brincando, Joseph. Esta conversa está me matando de ciúme.” 
 “Com ela era só sexo, meu anjo. Com você, por mais violento e selvagem que seja, 
eu sempre faço amor. Desde a primeira vez. Você é a única pessoa capaz de fazer com que eu me sinta assim.” 
 Suspirei. “Está bem. Estou um pouquinho melhor.” 
 Ele me beijou. “Acho que dá para dizer que nós namoramos. Só fazíamos sexo um 
com o outro e íamos a vários lugares juntos. Ainda assim, quando ela disse que me amava, 
foi uma surpresa. Uma surpresa agradável. Eu gostava dela. Da companhia dela.” 
 “E pelo jeito ainda gosta”, resmunguei. 
 “Me deixe falar.” Ele me castigou batendo com o dedo na ponta do meu nariz. 
“Pensei que eu poderia estar apaixonado também, da minha maneira... da única maneira 
que eu conhecia. Não queria ver Corinne com outra pessoa. Então aceitei quando ela propôs o casamento.” 
 Eu me afastei para olhar bem para ele. “Ela propôs o casamento?” 
 “Não precisava ficar tão surpresa”, ele falou, irônico. “Você está acabando com 
meu ego.” 
 O alívio tomou conta de mim com tamanha velocidade que fiquei até tonta. 
Atirei-me sobre ele, abraçando-o com a maior força de que era capaz. 
 “Ei.” Ele retribuiu o abraço com a mesma avidez. “Está tudo bem?” 
 “Melhorando.” Agarrei seu rosto entre as minhas mãos. “Continue falando.” 
 “Aceitei pelos motivos errados. Estávamos saindo fazia dois anos, e nunca tínhamos 
nem dormido juntos. Nunca falamos sobre as coisas que eu converso com você. Ela não me conhece, pelo menos não de verdade, mas ainda assim acabei me convencendo de que ser amado bastava. E quem seria capaz de fazer isso melhor que ela?” 
 Joseph passou a concentrar sua atenção em meu outro olho, removendo as manchas pretas. “Acho que ela esperava que o noivado fosse fazer o relacionamento decolar. Que eu fosse me abrir mais. Que dormisse com ela no hotel — que ela considerava muito romântico, aliás — em vez de ir logo pra casa por causa das aulas no dia seguinte... Sei lá.” 
 Tudo isso me mostrou como ele era uma pessoa solitária. Meu pobre Joseph. Tinha 
passado tanto tempo sozinho. Talvez a vida inteira. 
 “E de repente ela pode ter terminado tudo um ano depois”, ele continuou, “pra 
tentar dar uma sacudida nas coisas. Pra me obrigar a fazer um esforço pra ficar com ela. Em vez disso, fiquei aliviado, porque já estava começando a entender que seria impossível pra mim morar sob o mesmo teto que ela. Que desculpa eu teria que arrumar para continuar dormindo sozinho e ter um espaço só pra mim?” 
 “Você nunca pensou em contar pra ela?” 
 “Não.” Ele encolheu os ombros. “Até conhecer você, não encarava meu passado 
como um problema. Até achava que ele tinha influência na maneira como eu conduzia as 
coisas, mas tudo tinha seu lugar e eu não me considerava infeliz. Na verdade, achava que 
levava uma vida confortável e descomplicada.” 
 “Ops.” Franzi o nariz. “Olá, senhor Confortável. Eu sou a senhorita Complicada.” 
 Ele abriu um sorriso. “Com você, nada é previsível ou tedioso.” 

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