segunda-feira, 23 de junho de 2014

Capítulo 28

Na terça-feira, fui trabalhar usando calça e uma blusa de seda de mangas compridas, 
sentindo a necessidade de estabelecer uma barreira entre mim e o restante do mundo. Na 
cozinha, Joseph pegou meu rosto entre as mãos e me beijou com um carinho apaixonante.
 Seu olhar permanecia perturbado.
 “Almoço hoje?”, sugeri, sentindo que ainda precisávamos restabelecer a intimidade 
e a confiança entre nós. 
 “Tenho um almoço de negócios.” Ele passou os dedos por meus cabelos soltos. 
“Você quer ir? Angus pode levar você de volta a tempo.” 
 “Eu adoraria.” Lembrei-me da agenda de eventos noturnos, reuniões e consultas que 
ele havia mandado para meu celular. “E amanhã à noite temos um jantar beneficente no 
Waldorf-Astoria?” 
 Sua expressão se amenizou. Vestido para trabalhar, ele parecia um tanto deprimido, 
apesar de absolutamente controlado. Mas eu sabia muito bem como ele se sentia. 
 “Você não vai desistir mesmo de mim, não é?”, ele perguntou com a voz baixa. 
 Levantei a mão direita e mostrei meu anel. “Você está amarrado a mim, Jonas. Pode 
ir se acostumando.” 
 No caminho do trabalho, ele me sentou no seu colo, assim como na hora do almoço, 
enquanto nos deslocávamos até o Jean Georges. Não falei mais de dez palavras durante a 
refeição, que Joseph escolheu para mim e estava maravilhosa. 
 Fiquei sentada em silêncio a seu lado, com a mão esquerda sobre sua perna firme 
sob a toalha da mesa, uma afirmação não verbal de meu comprometimento com ele. 
Conosco. Uma de suas mãos segurava a minha, quente e forte, enquanto ele conversava 
sobre um novo empreendimento em Saint Croix. Mantivemos esse contato durante todo o 
tempo, preferindo comer com uma mão só a ter de abrir mão daquele toque. 
 A cada hora que se passava, eu sentia o terror da noite anterior ficar mais distante de 
nós. Seria apenas uma cicatriz a mais em sua coleção, outra lembrança amarga que ele 
sempre teria, uma recordação e um medo que também seriam meus, mas que não mudariam nada entre nós. Nós não íamos permitir que isso acontecesse. 
  Angus estava a postos para me levar para casa quando o expediente terminou. 
Joseph ficaria no trabalho até mais tarde, e iria direto do Jonas Building para o consultório do dr. Petersen. Aproveitei o trajeto para me preparar mentalmente para mais uma semana de treinamento com Parker. Até pensei em faltar, mas no fim cheguei à conclusão de que era 
importante manter uma rotina. Já havia descontrole demais na minha vida naquele 
momento. Cumprir meus compromissos era uma das poucas coisas que ainda dependiam 
somente de mim. 
 Depois de uma hora e meia de golpes de mão aberta e trabalho de solo com Parker, 
eu me senti aliviada quando Clancy me deixou em casa — e orgulhosa de mim mesma por 
ter ido treinar apesar de ser a última coisa que eu queria naquele dia. 
 Quando entrei no saguão, dei de cara com Trey na recepção. 
 “Oi”, eu cumprimentei. “Está subindo?” 
 Ele se virou para mim, com seus olhos brilhantes e seu sorriso aberto. Trey tinha 
uma suavidade nos modos, uma espécie de ingenuidade sincera, que o tornava diferente de todas as pessoas com quem Cary já havia se relacionado. Ou talvez eu devesse dizer apenas que Trey era “normal”, algo raro tanto na minha vida como na de Cary. 
 “Cary não está”, ele disse. “Ninguém atendeu ao interfone.” 
 “Você pode subir comigo e esperar lá. Não vou sair mais hoje.” 
 “Se você não se incomodar.” Ele foi junto comigo quando acenei para a menina da 
recepção e tomei o caminho do elevador. “Eu trouxe uma coisinha pra ele.” 
“Claro que não me incomodo”, garanti, retribuindo seu sorriso gentil. 
 Ele olhou para minha calça de ioga e meu top de ginástica. “Está vindo da 
academia?” 
 “Pois é. Apesar de ser a última coisa que eu gostaria de ter feito hoje.” 
 Trey deu risada ao entrar no elevador. “Sei bem como é.” 
 Enquanto subíamos, o silêncio se estabeleceu. E começou a pesar. 
 “Está tudo bem?”, perguntei. 
 “Bom...” Trey ajeitou a alça da mochila. “Cary anda meio distante ultimamente.” 
 “Ah, é?” Mordi os lábios. “Em que sentido?” 
 “Não sei. Não consigo explicar. Acho que tem alguma coisa acontecendo com ele e 
não sei o que é.” 
 Pensei na modelo loira e gelei por dentro. “Vai ver ele está estressado por causa do 
trabalho para a Grey Isles e não quer incomodar você com isso. Ele sabe que você já tem 
muito com que se preocupar, com o trabalho e a faculdade.” 
 A tensão em seus ombros se aliviou um pouco. “Talvez seja isso mesmo. Faz 
sentido. Pode ser. Obrigado.” 
 Abri a porta do apartamento e disse a ele que se sentisse à vontade. Trey foi deixar 
suas coisas no quarto de Cary e eu fui até o telefone para ver se havia alguma mensagem. 
 Um grito vindo do corredor me fez pegar o telefone por outro motivo, com o 
coração na mão de medo de algum invasor ou outro perigo iminente. Mais gritos se 
seguiram, e em um deles reconheci claramente a voz de Cary. 
 Soltei um suspiro de alívio. Com o telefone na mão, arrisquei-me a ir ver o que 
estava acontecendo. Quase fui atropelada por Tatiana, que saiu do corredor ainda 
abotoando a blusa. 
 “Ops”, ela disse, abrindo um sorrisinho sem nenhuma culpa. “Até mais.” 
 Os gritos de Trey impediram que eu ouvisse quando ela fechou a porta do 
apartamento atrás de si. 
 “Porra, Cary. A gente conversou sobre isso! Você prometeu!” 
 “Você está exagerando”, rebateu Cary, também aos berros. “Não é o que você está 
pensando.” 
 Trey saiu pisando duro do quarto, e com tamanha pressa que eu tive que me 
espremer junto à parede para sair do caminho. Cary foi atrás, enrolado num lençol até a 
cintura. Quando passou por mim, eu o olhei de um jeito que não deve ter sido muito 
agradável, porque em resposta ele me mostrou o dedo do meio. 
 Deixei que os dois se virassem e fui tomar banho, furiosa com Cary por ele ter mais 
uma vez arruinado uma das poucas coisas boas em sua vida. Era um padrão que eu nunca 
deixaria de esperar que fosse quebrado, apesar de ele parecer incapaz de fazer isso. 
 Quando fui até a cozinha, meia hora depois, o silêncio dentro do apartamento era 
absoluto. Concentrei-me em cozinhar, decidindo fazer lombo assado com batatas e 
aspargos, um dos pratos preferidos de Cary, para o caso de ele querer jantar em casa e 
precisar de algo para se animar. 
 Fiquei surpresa ao ver Trey saindo do corredor enquanto eu punha a comida no 
forno, um pouco triste. Não gostei nada de vê-lo todo vermelho, descabelado e chorando. 
Minha piedade se transformou em decepção furiosa quando Cary apareceu na cozinha 
cheirando a suor e sexo. Ele me olhou feio ao passar por mim para pegar um vinho na 
adega. 

 Eu o encarei com os braços cruzados. “Trepar com um namorado traído na mesma cama em que ele pegou você com outra não ajuda muito.” 
 “Cale a boca, Demetria.” 
 “Ele deve estar se odiando por ter cedido.” 
 “Eu mandei calar a boca, porra.” 
 “Tudo bem.” Dei as costas para ele e comecei a temperar as batatas para levar ao 
forno junto com o lombo. 
 Cary pegou duas taças no armário. “Pelo jeito você também está me julgando. Se 
ele tivesse me pegado com outro homem, provavelmente não faria essa cena toda.” 
 “Então é tudo culpa dele?” 
 “Só pra lembrar: sua vida amorosa também não é nada perfeita.” 
 “Golpe baixo, Cary. Eu é que não vou me sujeitar a ser seu saco de pancadas. Foi 
você que estragou tudo, e depois ainda conseguiu piorar as coisas. O problema é todo seu.” 
 “Não vem querer dar uma de superior, não. Você está dormindo com um homem 
que vai acabar te estuprando, mais cedo ou mais tarde.” 
 “Não é nada disso!” 
 Ele soltou um riso de deboche e se encostou no balcão, olhando-me com seus olhos 
verdes inundados de mágoa e raiva. “Se você vai arrumar justificativas para ele porque 
estava dormindo quando te atacou, vai ter que fazer o mesmo para os bêbados e drogados. Eles também não sabem o que fazem.” 
 A verdade que havia naquelas palavras me atingiu duramente, assim como o fato de 
ele tê-las dito só para me magoar. “Parar de beber as pessoas conseguem, mas deixar de 
dormir, não.” 
 Cary se endireitou, abriu a garrafa que havia escolhido e serviu duas taças, 
empurrando uma para o outro lado do balcão, para mim. “Se existe alguém que sabe o que é se envolver com pessoas que só trazem mágoas, esse alguém sou eu. Você o ama. Você quer salvá-lo. Mas quem vai salvar você, Demetria? Eu não vou estar sempre por perto quando 
estiver com ele, e o cara é uma bomba-relógio.” 
 “Você quer falar sobre relacionamentos que só trazem mágoas, Cary?”, rebati, 
tirando o foco da conversa das verdades incômodas a meu respeito. “Você, que traiu Trey 
só pra se proteger? Você percebeu que fez de tudo para afastar o cara antes que surgisse 
alguma chance de ele te decepcionar?” 
 Cary abriu um sorriso amargo. Ele bateu sua taça na minha, que ainda estava sobre 
o balcão. “Um brinde a nós, os seriamente perturbados. Pelo menos temos um ao outro.” 
 Ele saiu da sala e eu desabei. Sabia que isso estava por vir — parecia tudo bom 
demais para ser verdade. O bem-estar e a felicidade nunca duravam muito na minha vida, e nunca passavam de mera ilusão. 
 Sempre havia algo escondido nas entrelinhas, a postos para vir à tona e arruinar 
tudo. 
Joseph chegou bem na hora em que o jantar estava saindo do forno. Estava com um 
terno embalado numa das mãos e um laptop numa maleta na outra. Estava preocupada que 
ele fosse para casa depois da sessão com o dr. Petersen, e fiquei aliviada quando recebi sua ligação avisando que estava a caminho. Ainda assim, quando abri a porta e pus os olhos nele, senti um calafrio. 
 “Oi”, ele disse baixinho enquanto me seguia até a cozinha. “O cheiro aqui está uma 
delícia.” 
 “Espero que você esteja com fome. Fiz um monte de comida, e acho que Cary não 
vai aparecer para ajudar a comer.” 
 Joseph deixou suas coisas perto do balcão e foi até mim com passos cautelosos, 
procurando meus olhos enquanto se aproximava. “Trouxe algumas coisas para passar a 
noite aqui, mas posso ir embora se você quiser. A qualquer hora. É só dizer.” 
 Expirei em uma bufada, determinada a não deixar o medo comandar minhas ações. 
“Quero que você fique.” 
 “E eu quero ficar.” Ele parou ao meu lado. “Posso te abraçar?” 
 Eu me virei para ele e o apertei bem forte. “Por favor.” 
 Joseph apertou o rosto contra o meu e me abraçou. Não era um abraço gostoso e 
natural como de costume. Havia um desgaste entre nós, algo que nunca tínhamos 
experimentado juntos. 
 “Como você está?”, ele murmurou. 
 “Melhor agora que você chegou.” 
 “Mas ainda está nervosa.” Ele beijou minha testa. “Eu também. Não sei como 
vamos conseguir dormir juntos de novo.” 
 Recuando um pouco, olhei bem para ele. Era o que eu temia também, e minha 
conversa com Cary não tinha ajudado muito. O cara é uma bomba-relógio... 
 “Nós damos um jeito”, respondi. 
 Ele ficou em silêncio por um bom tempo. “Nathan já tentou entrar em contato com 
você?” 
 “Não.” Ainda assim, eu morria de medo de encontrá-lo de novo algum dia, fosse 
por acidente ou deliberadamente. Ele estava em algum lugar do mundo, respirando o 
mesmo ar que eu... “Por quê?” 
 “Fiquei pensando sobre isso hoje.” 
 Dei um passo atrás para olhar seu rosto, e senti um nó na garganta ao perceber como 
estava chateado. “Por quê?” 
 “Porque existe um bocado de coisa entre nós.” 
 “Você está achando que é coisa demais?” 
 Ele sacudiu a cabeça. “Não consigo pensar assim.” 
 Eu não soube o que fazer, nem o que dizer. Que garantia poderia dar a ele se não 
sabia que meu amor e a necessidade que ele sentia de ficar comigo seriam suficientes para fazer nossa relação dar certo? 
 “E você, está pensando em quê?”, ele perguntou. 
 “Na comida no forno. Estou morrendo de fome. Você pode perguntar a Cary se ele 
quer comer? Depois podemos jantar.” 
  Cary estava dormindo, então Joseph e eu jantamos na mesa à luz de velas depois 

que ele tomou banho, uma refeição um tanto formal para quem estava de camiseta velha e calça de pijama. Eu estava preocupada com Cary, mas precisava muito de um tempinho 
tranquilo a sós com Joseph. 
 “Almocei com Magdalene no escritório ontem”, ele disse depois de começarmos a 
comer. 
 “Ah, é?” Então quer dizer que, enquanto eu saía atrás de um anel, Magdalene Perez 
estava a sós com meu namorado? 
 “Não precisa ficar assim”, ele me censurou. “Ela almoçou em um escritório 
dominado por suas flores, com você me mandando beijinhos da minha mesa. Você estava 
tão presente ali quanto ela.” 
 “Desculpe. O primeiro impulso é esse mesmo.” 
 Ele pegou minha mão e a beijou com força. “Fico aliviado por você ainda sentir 
ciúmes de mim.” 
 Suspirei. Meus sentimentos ficaram à flor da pele durante o dia todo; não conseguia 
me decidir sobre como me sentia a respeito de nada. “Você falou com ela sobre 
Christopher?” 
 “Foi por isso que a chamei para almoçar. Mostrei o vídeo pra ela.” 
 “Quê?” Eu franzi a testa ao lembrar que meu telefone tinha ficado sem bateria no 
carro. “Como você fez isso?” 
 “Levei seu celular pro escritório e passei o vídeo pro computador. Você não reparou 
que eu o trouxe de volta pra cá ontem à noite, com a bateria carregada?” 
 “Não.” Larguei os talheres. Dominante ou não, Joseph precisava que alguns limites 
bem claros para o espaço pessoal de cada um fossem estabelecidos. “Você não pode 
simplesmente hackear meu celular, Joseph.” 
 “Não precisei hackear nada. Não tem senha.” 
 “Não importa! Isso é invasão de privacidade, porra. Minha nossa...” Por que 
ninguém conseguia entender que eu tinha direito a meu espaço? “Você gostaria que eu 
ficasse fuçando nas suas coisas?” 
 “Não tenho nada a esconder.” Ele tirou seu celular do bolso da calça de moletom e 
entregou para mim. “E você também não deve ter.” 
 Eu não queria brigar num momento como aquele, em que as coisas estavam tão 
abaladas entre nós, mas não dava mais para relevar o assunto. “Não interessa se tenho ou 
não alguma coisa a esconder. Tenho direito ao meu espaço e à minha privacidade, e você 
precisa pedir antes de ir atrás de informações a meu respeito e antes de mexer nas minhas coisas. Você precisa parar com essa mania de fazer de tudo sem minha permissão.” 
 “E o que aquele vídeo tinha a ver com privacidade?”, ele perguntou franzindo a 
testa. “Foi você mesma que me mostrou.” 
 “Você está parecendo minha mãe, Joseph!”, eu gritei. “Uma maluca pra mim já 
basta.” 
 Ele recuou diante de minha agressividade, claramente surpreso ao ver que eu estava 
chateada de verdade. “Está certo. Desculpe.” 
 Dei um gole no vinho, lutando para recuperar a tranquilidade. “Está se desculpando 
por ter me irritado? Ou por ter feito o que fez?” 
 Joseph demorou alguns instantes para responder. “Por ter irritado você.” 
 Ele não tinha entendido nada. “Você não consegue ver como isso é bizarro?” 
 “Demetria.” Ele suspirou e gesticulou. “Passo um tempão do meu dia dentro de você. 
Quando você estabelece esses limites, só consigo ver como uma coisa arbitrária.” 
 “Pois não tem nada de arbitrário. É importante pra mim. Se você quiser saber alguma coisa a meu respeito, precisa me perguntar.” 
 “Certo.” 
 “Não faça mais isso”, avisei. “Não estou brincando, Joseph.” 
 Ele cerrou os dentes. “Está bem. Já entendi.” 
 Como eu realmente não estava a fim de brigar, retomei a conversa anterior. “O que 
ela falou quando viu o vídeo?” 
 Ele relaxou visivelmente. “Foi difícil, é claro. Principalmente por saber que eu já 
tinha visto.” 
 “Ela viu a gente na biblioteca.” 
 “Não tocamos nesse assunto diretamente, mas o que eu poderia dizer? Não vou me 
desculpar por transar com minha namorada entre quatro paredes.” Ele se recostou na 
cadeira e bufou. “Ver a cara de Christopher no vídeo... Ver exatamente o que ele pensa 
dela... Foi isso que a magoou. É difícil descobrir que está sendo usado dessa forma. 
Principalmente por alguém que você acha que conhece, que diz gostar de você.” 
 Para esconder minha reação, tratei de reabastecer as duas taças de vinho. Ele falou 
como se já tivesse sentido aquilo na pele. O que exatamente teria acontecido com Joseph? 
 Depois de um rápido gole de vinho, perguntei: “E como você está lidando com 
isso?”. 
 “O que posso fazer? Durante anos, tentei conversar com Christopher de todas as 
maneiras. Já tentei dar dinheiro pra ele. Já tentei ameaçar meu irmão. Ele nunca mostrou o menor sinal de mudança. Percebi há muito tempo que o máximo que posso fazer é amenizar as consequências dos atos dele. E manter você à maior distância possível.” 
 “Agora que sei disso, vou fazer de tudo pra ficar longe.” 
 “Ótimo.” Ele deu um gole no vinho, olhando-me por cima da taça. “Você não me 
perguntou como foi a consulta com o doutor Petersen.” 
 “Não é da minha conta. A não ser que você queira contar.” Olhei bem pra ele, na 
esperança de que fizesse isso. “Estou aqui pra ouvir o que você quiser falar, mas não vou 
ficar insistindo. Quando estiver pronto pra se abrir comigo, fique à vontade. Mas adoraria 
saber se você gostou dele.” 
 “Por enquanto.” Joseph sorriu. “Ele me faz falar várias vezes a mesma coisa. 
Poucas pessoas são capazes de me convencer disso.” 
 “Verdade. Ele faz a gente repensar e ver as coisas por outro ângulo, faz a gente 
refletir sobre por que não pensou naquilo antes.’” 
 Os dedos de Joseph subiam e desciam pela haste da taça. “Ele me receitou um 
remédio para tomar antes de ir pra cama. Comprei no caminho pra cá.” 
 “Como você se sente a respeito de tomar remédios?” 
 Ele me olhou com os olhos sombrios. “Acho que é algo necessário. Preciso de você 
e quero mantê-la segura, custe o que custar. O doutor Petersen disse que esse medicamento, combinado a terapia, tem ótimo resultado no tratamento de casos de parassonia sexual atípica. Não tenho por que duvidar disso.” 
 Eu me inclinei para a frente e apertei sua mão. Tomar remédios era um grande 
passo, principalmente para alguém que tinha evitado encarar o problema por tanto tempo. 
“Obrigada.” 
 Joseph retribuiu o aperto com força. “Ao que parece existe um monte de gente com 
esse problema em grupos de estudos do sono. Ele me contou sobre um caso documentado 
de um homem que atacou a esposa durante o sono por doze anos antes de procurar ajuda.” 
 “Doze anos? Minha nossa.” 
“Eles demoraram tanto assim porque pelo jeito o cara transava melhor dormindo 
que acordado”, Gideon complementou, sarcástico. “Se isso não é motivo para destruir o ego de alguém, não sei o que é.” 
 Olhei bem nos olhos dele. “Que merda.” 
 “Pois é.” O sorriso irônico desapareceu de seu rosto. “Mas não quero forçar você a 
dormir comigo, Demetria. Não existe remédio milagroso. Posso dormir no sofá ou ir pra casa, apesar de preferir o sofá. Meu dia fica melhor quando vamos juntos pro trabalho.” 
 “O meu também.” 
 Joseph pegou minha mão e a levou aos lábios. “Nunca imaginei que teria isso na 
minha vida... Alguém que sabe tanto sobre mim como você. Alguém que consegue 
conversar sobre meus traumas durante o jantar porque me aceita como sou... Muito 
obrigado por você existir, Demetria.” 
 Meu coração quase parou, e uma dor gostosa se espalhou por meu peito. Ele sabia 
mesmo como dizer coisas bonitas, perfeitas. 
 “Sinto a mesma coisa por você, figurão.” E talvez mais, porque eu o amava. Mas 
não disse isso em voz alta. Algum dia ele chegaria lá. Eu não desistiria enquanto ele não 
fosse absoluta e irrevogavelmente meu. 
  Com os pés descalços sobre a mesa de centro e o computador no colo, Joseph 
parecia tão à vontade e relaxado que eu não conseguia prestar atenção na tevê. 
 Como chegamos até aqui?, perguntei-me mentalmente. Esse homem absurdamente 
sexy e eu? 
 “O que você está olhando?”, ele murmurou sem tirar os olhos da tela do laptop. 
 Mostrei a língua para ele. 
 “Está se insinuando sexualmente pra mim, senhorita Lovato?” 
 “Como você consegue me ver enquanto está vidrado aí no computador?” 
 Ele desviou sua atenção da tela. Seus olhos azuis irradiavam poder e tesão. “Vejo 
você o tempo todo, meu anjo. Desde que nos encontramos pela primeira vez. Não tenho 
olhos pra mais nada além de você.” 
  A quarta-feira começou com o pau de Joseph me penetrando por trás, meu novo 
jeito favorito de acordar. 
 “Ora, ora”, eu disse com a voz rouca, esfregando os olhos para espantar o sono 
enquanto seu braço envolvia minha cintura e me puxava para mais perto de seu peito 
quente e forte. “Você está animadinho esta manhã.” 
 “E você está linda e gostosa todas as manhãs”, ele murmurou, mordendo meu 
ombro. “Adoro acordar ao seu lado.” 
 Comemoramos a noite ininterrupta com uma bela sessão de orgasmos. 
  Bem mais tarde naquele dia, fui almoçar com Mark e seu companheiro Steven em 
um restaurante mexicano delicioso escondido sob o nível da rua. Ao descer apenas alguns 
degraus de cimento, encontramos um restaurante surpreendentemente espaçoso e 
iluminado, com garçons e garçonetes muito bem vestidos. 

 “Você precisa vir aqui qualquer dia com seu namorado”, comentou Steven, “e pedir para ele te pagar uma margarita de romã.” 
 “É boa?”, perguntei. 
 “Ô, se é.” 
 Quando a garçonete veio tirar nosso pedido, começou a paquerar descaradamente 
Mark, usando e abusando de seus olhos com cílios longos de fazer inveja. Mark entrou na 
dela. À medida que o tempo passava, a ruiva exuberante — cujo crachá informava que se 
chamava Shawna — foi ficando mais ousada, acariciando os ombros e a nuca dele toda vez que passava pela mesa. Ao mesmo tempo, as respostas de Mark foram ficando mais 
sugestivas, a ponto de olhar para Steven e ver seu rosto ficar vermelho e sua expressão 
mudar. Remexendo-me o tempo todo na cadeira, eu estava contando os minutos para que 
aquela refeição carregada de tensão terminasse logo. 
 “Vamos sair juntos hoje à noite”, Shawna disse para Mark ao trazer a conta. “Uma 
noite comigo e você está curado.” 
 Prendi a respiração. Não podia acreditar no que estava ouvindo. 
 “Às sete horas está bom pra você?”, perguntou Mark em um tom de voz sedutor. 
“Vou acabar com você, Shawna. Você nem imagina quanto tempo faz que...” 
 Engasguei com a água e comecei a tossir. 
 Steven levantou correndo e foi até o outro lado da mesa bater nas minhas costas. 
“Que coisa, Demetria”, ele falou, aos risos. “Estamos só brincando com você. Não precisa se matar por nossa causa.” 
 “Quê?”, perguntei quase sem fôlego, com os olhos cheios de lágrimas. 
 Sorrindo, ele passou por trás de mim e abraçou a garçonete. “Demetria, essa é minha irmã Shawna. Shawna, Demetria é aquela que eu falei que está facilitando a vida de Mark.” 
 “Que ótimo”, disse Shawna, “já que você não facilita a vida dele em nada.” 
 Steven piscou para mim. “É por isso que ele não me larga.” 
 Vendo os irmãos lado a lado, enfim captei a semelhança, que até então havia 
passado despercebida. Recostei-me na cadeira e estreitei os olhos para Mark. “Isso foi 
golpe baixo. Pensei que Steven fosse ter um ataque.” 
 Mark levantou as mãos em sinal de rendição. “Foi ideia dele. Steven adora um 
drama, você sabe.” 
 Ele sorriu e rebateu: “Ora, Demetria, você sabe que Mark é o mentor intelectual do nosso relacionamento...”. 
 Shawna tirou um cartão de visitas do bolso e entregou para mim. “Meu número está 
no verso. Dê uma ligadinha pra mim quando puder. Conheço os podres desses dois. Você 
pode dar o troco em grande estilo.” 
 “Traidora”, acusou Steven. 
 “Ei”, Shawna encolheu os ombros. “As mulheres precisam se unir.” 
 Depois do trabalho, Joseph e eu fomos à academia dele. Angus nos deixou bem na 
frente e, quando entramos, o lugar estava bombando; até o vestiário estava lotado. Eu me troquei, guardei minhas coisas e encontrei Joseph no corredor. 
 Acenei para Daniel, o instrutor com quem havia conversado na primeira visita à 
CrossTrainer, e levei um tapa na bunda por isso. 
 “Ei”, protestei, devolvendo o tapa na mão repressora de Joseph. “Pare com isso.” 
 Ele puxou meu rabo de cavalo, forçando minha cabeça para trás, e marcou seu 
território me dando um beijo profundo e lascivo.
O jeito como ele puxou meu cabelo me deixou toda arrepiada. “Se essa é sua ideia 
de reprimenda”, sussurrei com os lábios bem próximos dos dele, “fique sabendo que parece mais um incentivo.” 
 “Estou disposto a pegar mais pesado, se necessário.” Ele mordeu meu lábio inferior. 
“Mas sugiro que você não teste meus limites dessa maneira, Demetria.” 
 “Não se preocupe. Tenho outras maneiras de fazer isso.” 
 Joseph foi correr na esteira primeiro, proporcionando-me o prazer de ver seu corpo 
brilhando de suor... em público. Por mais que eu o visse assim o tempo todo em particular, era sempre uma visão e tanto. 
 E, minha nossa, como ele ficava lindo com o cabelo todo para trás... Seus músculos 
flexionados sob a pele levemente bronzeada... A graciosidade poderosa de seus 
movimentos... Ver aquele homem elegantérrimo tirar o terno e mostrar seu lado animal me deixava cheia de tesão. 
 Eu não conseguia parar de olhar, e ainda bem que não precisava. Ele era meu, afinal 
de contas, uma constatação que fez um calor subir por meu corpo. Além disso, as outras 
mulheres da academia estavam fazendo o mesmo. Quando ele trocava de aparelho, dezenas de olhos admirados o seguiam. 
 Quando ele me surpreendia nesses momentos, eu lançava um olhar sugestivo e 
passava a língua pelos lábios. Sua sobrancelha erguida e seu meio-sorriso perverso me 
provocaram um frio na barriga. Não me lembro de algum dia ter tido tanta disposição para malhar. Uma hora e meia passavam voando. 
 Quando voltamos para o Bentley a caminho da cobertura, eu não conseguia parar 
quieta no assento. Lançava olhares e mais olhares insinuantes para Joseph. 
 Ele segurou minha mão. “Você vai ter que esperar.” 
 Tomei um susto ao ouvir aquilo. “Quê?” 
 “Você ouviu muito bem.” Ele beijou meus dedos e teve a cara de pau de abrir um 
sorriso pervertido. “Vamos prolongar o estado de excitação, meu anjo.” 
 “E por que faríamos isso?” 
 “Imagine o quanto vamos estar malucos um pelo outro depois do jantar.” 
 Cheguei mais perto para que Angus não me ouvisse, apesar de saber que ele era 
profissional o bastante para ignorar nossas conversas. “A gente nem precisa prolongar a 
espera pra ficar maluco...” 
 Mas ele não cedeu. Em vez disso, deu início a um processo de tortura. Despimos um 
ao outro e entramos no chuveiro, acariciando as curvas e as reentrâncias de nossos corpos. 
Depois nos vestimos para o jantar. Ele estava todo formal, mas dispensou a gravata. Sua 
camisa imaculadamente branca estava aberta no colarinho, revelando um pouco de pele. O vestido que ele reservou para mim era um Vera Wang champanhe com bustiê sem alça, 
costas abertas e uma saia pregada que ia até um pouco acima dos joelhos. 
 Sorri quando ele olhou para mim, sabendo que ficaria maluco me vendo naquele 
vestido a noite inteira. Era maravilhoso e eu tinha adorado, mas foi feito para ser usado por modelos bem altas e magras, e não por mulheres baixinhas e cheias de curvas. Em um 
acesso de vergonha, eu havia deixado meu cabelo cair por cima dos seios, mas não tinha 
adiantado muito, conforme a expressão de Joseph indicava. 
 “Minha nossa, Demetria.” Ele se ajeitou dentro da calça. “Mudei de ideia sobre o vestido. Você não deveria usar isso em público.” 
 “Agora é tarde demais pra mudar de ideia.” 

 “Pensei que ele tivesse mais pano que isso.” 
Encolhi os ombros, sorrindo. “Não posso fazer nada. Foi você que comprou.” 
 “Mas eu me arrependi. Quanto tempo você demora pra tirar?” 
 Passando a língua pelo lábio, respondi. “Não sei. Por que você não tenta descobrir?” 
 Ele ficou sério. “Nós nem sairíamos de casa se eu fizesse isso.” 
 “Eu não ia reclamar.” Ele estava lindo, e eu — como sempre — morria de tesão. 
 “Não tem um casaco que você possa vestir por cima? Uma parca, talvez? Ou um 
sobretudo?” 
 Aos risos, peguei minha bolsinha de mão na gaveta e dei o braço para ele. “Não se 
preocupe. Vai estar todo mundo ocupado demais olhando pra você. Ninguém vai nem 
reparar em mim.” 
 Ele me olhou feio quando o arrastei para fora do quarto. “Estou falando sério. Seus 
peitos cresceram? Eles estão quase pulando pra fora da roupa.” 
 “Tenho vinte e quatro anos, Joseph”, eu disse, irônica. “Já parei de me desenvolver 
faz tempo. Você está me vendo como sou.” 
 “Sim, mas eu deveria ser o único a ver, já que sou o único que tem acesso liberado a 
você.” 
 Quando chegamos à sala, durante o tempinho mínimo que demoramos para ir até o 
elevador, admirei a beleza sóbria da casa de Joseph. Era deliciosamente acolhedora. O 
charme europeu da decoração em estilo antigo era para lá de elegante, além de muito 
confortável. A vista magnífica das janelas com arcadas complementava o ambiente, sem 
destoar dele. 
 A mistura de tons escuros de madeira e de pedra, cores vivas e toques vívidos de 
joias era claramente um luxo dos mais caros, assim como as obras de arte penduradas na 
parede, mas de muito bom gosto. Ali ninguém se sentiria temeroso de tocar nas coisas, ou 
pouco à vontade na hora de se sentar, com medo de estragar alguma antiguidade. A casa 
dele não era esse tipo de lugar. 
 Entramos no elevador privativo e Joseph me encarou quando as portas se fecharam. 
Ele foi logo tentando puxar meu vestido para cima. 
 “Se você puxar muito”, avisei, “logo mais o que vai aparecer vai ser minha 
calcinha.” 
 “Droga.” 
 “Isso pode ser divertido. Posso fazer o papel da loirinha piranha que só quer saber 
do seu pau e do seu dinheiro, e você pode fazer seu próprio papel — do playboy bilionário exibindo o brinquedinho novo. É só parecer entediado e tolerante enquanto eu me esfrego em você e fico tagarelando sobre suas imensas qualidades.” 
 “Isso não tem graça.” Logo depois seus olhos brilharam. “Que tal uma echarpe?” 
  Quando chegamos ao jantar em benefício da construção de um abrigo de 
emergência para mulheres e crianças vítimas de abuso, tivemos que passar por um tapete 
vermelho repleto de fotógrafos, o que me provocou uma crise de medo do excesso de 
exposição. Concentrei-me em Joseph, porque nada era melhor para me fazer esquecer de todo o resto do que ele. E, exatamente por estar prestando tanta atenção nele, pude ver quando o homem que me levou até ali se transfigurou em sua persona pública. 
 A máscara cobriu seu rosto com naturalidade. Seus olhos perderam o brilho, sua 
boca sensual ficou séria. Dava quase para sentir seu poder de isolamento envolvendo nós 

dois. Havia um escudo entre nós e o restante do mundo, simplesmente porque aquela era a vontade dele. Caminhando ao seu lado, eu sabia que alguém só teria coragem de se 
aproximar caso recebesse algum sinal de aprovação expressa. 
 Mas o aviso de “mantenha distância” não se estendia aos olhares. Joseph fez os 
pescoços se torcerem ao entrar no salão. Eu me contraí toda ao notar a atenção que ele 
estava atraindo, enquanto permanecia impassível. 
 Se eu tinha em mente ficar tagarelando sobre Joseph enquanto me esfregava nele, 
era melhor entrar na fila. No momento exato em que paramos de andar, fomos cercados por todos os lados. Eu me afastei para abrir espaço àquelas pessoas ansiosas por sua atenção e circulei por ali à procura de uma taça de champanhe. A Waters Field & Leaman tinha participado da campanha de divulgação do evento criando um anúncio, e eu vi por ali alguns rostos conhecidos. 
 Tinha acabado de tirar uma taça da bandeja de um garçom que passava por ali 
quando ouvi alguém chamar meu nome. Ao me virar, dei de cara com o sobrinho de 
Stanton e seu enorme sorriso, seus cabelos escuros e seus olhos verdes. Ele era mais ou 
menos da minha idade. Tínhamos nos conhecido em uma das visitas à minha mãe durante 
as férias da faculdade, e fiquei feliz em vê-lo. 
 “Martin!” Eu o cumprimentei com um rápido abraço. “Como vão as coisas? Você 
está um gato.” 
 “Eu ia dizer a mesma coisa.” Ele me olhou, apreciando meu vestido. “Ouvi dizer 
que você tinha se mudado pra Nova York e estava querendo te encontrar. Faz tempo que 
está aqui?” 
 “Não muito. Algumas semanas.” 
 “Termine seu champanhe e vamos dançar”, ele disse. 
 O espumante ainda estava borbulhando alegremente pelo meu corpo quando fomos 
para a pista de dança ao som de Billie Holiday cantando “Summertime”. 
 “E então”, ele começou, “está trabalhando?” 
 Enquanto dançávamos, contei sobre meu emprego e perguntei o que ele estava 
fazendo. Não fiquei nada surpresa ao ouvir que ele trabalhava no banco de investimentos de Stanton e estava se saindo muito bem. 
 “Adoraria ir até Manhattan um dia desses almoçar com você”, ele disse. 
 “Seria ótimo.” Dei um passo atrás quando a música terminou e acabei esbarrando 
em alguém. Suas mãos agarraram minha cintura para que eu não me desequilibrasse, e 
quando olhei sobre os ombros vi que era Joseph. 
 “Olá”, ele cumprimentou, lançando um olhar gelado para Martin. “Nos apresente.” 
 “Joseph, esse é Martin Stanton. Nós nos conhecemos há um bom tempo. Ele é 
sobrinho do meu padrasto.” Respirei fundo antes de continuar. “Martin, esse é o homem da minha vida no momento, Joseph Jonas.” 
 “Jonas.” Martin sorriu e estendeu a mão. “Sei quem você é, claro. Prazer em 
conhecer. Pelo jeito, em breve vou começar a encontrar vocês nas reuniões de família.” 
 Joseph apoiou o braço no meu ombro. “Pode contar com isso.” 
 Martin foi chamado por algum conhecido, e se inclinou para a frente para me dar 
um beijo na bochecha. “Eu ligo para combinar aquele almoço. Semana que vem, pode ser?” 
 “Claro.” Eu sentia toda a energia de Joseph pulsando bem ao meu lado, mas, 
quando me virei, ele parecia tranquilo e impassível. 
 Joseph me tirou para dançar ao som de “What a Wonderful World”, na voz de 
Louis Armstrong. “Não sei se gostei dele”, murmurou. 
 “Martin é um cara legal.” 
“Desde que ele saiba que você é minha...” Ele me deu um beijo na testa e 
posicionou sua mão no decote nas costas do meu vestido, pele com pele. Segurando-me 
daquele jeito, ninguém ousaria duvidar que eu pertencia a ele. 
 Gostei da oportunidade de ficar tão próxima de seu corpo maravilhoso em público. 
Respirando bem perto dele, deixei-me levar por sua conduta firme. “Adoro isso.” 
 Acariciando-me com o rosto, ele murmurou: “E é pra gostar mesmo”. 
 Uma enorme alegria. Durou o mesmo tempo que a dança. 
 Estávamos saindo da pista quando vi Magdalene parada em um canto. Demorei um 
tempo para reconhecê-la, porque ela havia cortado o cabelo curtinho. Estava elegante e 
cheia de classe em seu vestidinho preto, mas era totalmente eclipsada pela morena 
lindíssima com quem conversava. 
 Joseph hesitou diante delas, reduzindo um pouco o ritmo da passada antes de seguir 
adiante. Eu estava olhando para baixo, imaginando que havia algum obstáculo no chão, 
quando ele disse baixinho: “Preciso apresentar você a alguém”. 
 Voltei a prestar atenção ao lugar para onde nos dirigíamos. A mulher ao lado de 
Magdalene viu Joseph e se virou para olhá-lo. Senti seu antebraço se enrijecer sob meus 
dedos no instante em que seus olhares se encontraram. 
 Dava para entender por quê. 
 Fosse quem fosse, aquela mulher estava completamente apaixonada por ele. Isso 
estava estampado em seu rosto e em seus magníficos olhos azuis. Sua beleza era 
estonteante, quase surreal. Seus cabelos eram pretíssimos, grossos e lisos, e iam quase até a cintura. Seu vestido tinha o mesmo tom glacial de seus olhos, envolvendo seu corpo 
longilíneo de curvas perfeitas e sua pele dourada, bronzeada de sol. 
 “Corinne”, ele a saudou, e a rouquidão natural de sua voz se tornou ainda mais 
pronunciada. Ele me soltou e pegou as mãos dela. “Você não me disse que já estava de 
volta. Eu teria ido te buscar.” 
 “Deixei algumas mensagens no seu telefone”, ela disse, com o tom de voz tranquilo 
de uma pessoa culta e bem-educada. 
 “Ah, eu quase não parei em casa ultimamente.” Isso fez Joseph lembrar que eu 
estava ao seu lado, e ele a soltou e me puxou mais para perto. “Corinne, esta é Demetria Lovato. 
Demetria, Corinne Giroux. Uma velha amiga.” 
 Estendi a mão e ela me cumprimentou. 
 “Qualquer amiga de Joseph é amiga minha também”, ela disse com um sorriso 
ameno no rosto. 
 “Espero que isso se aplique a namoradas também.” 
 Ela me olhou como se já soubesse de tudo. “Principalmente a namoradas. Se você 
me permitir, gostaria de apresentar Joseph a uma pessoa.” 
 “Claro.” Minha voz soava calma e controlada, mas eu estava bem longe disso. 
 Ele me deu um beijo indiferente na testa e ofereceu o braço a Corinne antes de se 
afastar com ela, deixando-me embaraçosamente ao lado de Magdalene. 
 Senti pena dela, sinceramente. Parecia abandonada e desolada. “Seu cabelo ficou 
uma graça, Magdalene.” 
 Ela olhou para mim sem abrir a boca, mas depois atenuou a situação com um 
suspiro que me pareceu carregado de resignação. “Obrigada. Estava na hora de mudar. 
Muitas coisas, aliás. Além disso, não havia por que continuar imitando o visual dela agora 
que voltou.” 

 Franzi a testa, confusa. “Não entendi.” 
“Estou falando de Corinne.” Ela olhou bem para mim. “Ah, você não sabe. Ela e 
Joseph foram noivos por mais de um ano. Ela terminou tudo, casou com um ricaço francês 
e se mudou para a Europa. Mas o casamento não deu certo. Eles estão se divorciando, e ela voltou pra Nova York.” 
 Noivo. Senti meu rosto ficar pálido e meu olhar se dirigir para o homem que eu 
amava, ao lado da mulher que um dia ele havia amado, com as mãos na parte inferior de 
suas costas para conduzi-la enquanto ela se inclinava em sua direção aos risos. 
 Senti meu estômago se revirar de ciúme e de medo, e foi quando me dei conta de 
que nunca havia me perguntado se ele já havia tido uma relação romântica antes de mim. 
Idiota. Lindo como era, eu deveria ter imaginado. 
 Magdalene pôs a mão no meu ombro. “É melhor você se sentar, Demetria. Está pálida.” 
 Eu estava mesmo ofegante, com os batimentos cardíacos perigosamente acelerados. 
“Verdade.” 
 Sentei na primeira cadeira que encontrei. Magdalene se acomodou ao meu lado. 
 “Você está apaixonada por ele”, ela disse. “Eu não sabia. Desculpe. E desculpe pelo 
que disse a você no dia em que nos conhecemos.” 
 “Você também está apaixonada por ele”, respondi, sem nenhuma emoção, com os 
olhos fora de foco. “E naquela época eu não estava. Ainda não.” 
 “Isso não justifica o que eu fiz.” 
 Aceitei de bom grado uma taça de champanhe e peguei uma para Magdalene antes 
que o garçom se afastasse. Brindamos em um gesto patético de solidariedade feminina. Eu queria sumir dali. Queria levantar e ir embora. Queria que Joseph percebesse que eu tinha ido, e que fosse atrás de mim. Queria que ele sentisse a mesma dor que eu. Ideias idiotas, imaturas e dolorosas povoavam minha mente e faziam com que eu me sentisse a mais insignificante das mulheres. 
 Consolei-me com o fato de Magdalene estar ali comigo. Ela sabia o que significava 
ser apaixonada demais por Joseph. Senti que ela estava tão infeliz quanto eu, o que só 
confirmava o tamanho da ameaça representada por Corinne. 
 Ele estava sofrendo esse tempo todo por ela? Era por isso que tinha se fechado de 
tal forma para outras mulheres? 
 “Aí está você.” 
 Olhei para Joseph quando ele me encontrou. Obviamente, Corinne ainda estava 
pendurada em seu braço, e pude observar bem o efeito que causavam como um casal. Eles ficavam insuportavelmente maravilhosos juntos. 
 Corinne se sentou ao meu lado e Joseph acariciou meu rosto com os dedos. 
“Preciso ir falar com uma pessoa”, ele disse. “Quer que eu traga alguma coisa pra você na 
volta?” 
 “Stoli com suco de cranberry. Dose dupla.” Eu precisava de alguma coisa para me 
entorpecer. E muito. 
 “Certo.” Ele franziu a testa antes de se afastar. 
 “Estou tão feliz em te conhecer, Demetria”, disse Corinne. “Joseph falou muito sobre 
você.” 
 “Não pode ter sido tanto assim. Vocês mal tiveram tempo de conversar.” 
 “Conversamos quase todos os dias.” Ela sorriu, e não havia nada de falso ou 
malicioso em seu rosto. “Somos amigos há muito tempo.” 
 “Mais que amigos”, Magdalene fez questão de dizer. 

 Corinne olhou feio para Magdalene, e eu percebi que sua intenção era esconder essa informação de mim. Teria sido ideia dela ou de Joseph, ou dos dois em comum acordo? 
Por que omitir algo se não havia nada a esconder? 
 “Sim, é verdade”, ela admitiu, visivelmente relutante. “Mas já faz alguns anos.” 
 Eu me virei na cadeira para encará-la. “Você ainda é apaixonada por ele.” 
 “Bom, você não pode me culpar. Qualquer mulher que passa algum tempo com ele 
acaba apaixonada. Ele é lindo e inacessível. Uma combinação irresistível.” Seu sorriso 
arrefeceu. “Joseph me disse que você o encorajou a começar a se abrir mais. Agradeço por isso.” 
 Por pouco não respondi: Não fiz isso pra você. Foi quando uma dúvida insidiosa se 
instalou na minha cabeça, abrindo espaço para que uma de minhas vulnerabilidades 
tomasse conta de meu pensamento. 
 E se eu tiver feito isso para ela sem saber? 
 Eu girava sem parar a base da taça vazia de champanhe sobre a mesa. “Ele ia casar 
com você.” 
 “E foi o maior erro da minha vida ter terminado tudo.” Ela pôs a mão sobre a 
garganta. Seus dedos se mexiam sem parar, como se brincassem com um colar que na 
maior parte do tempo estava lá. “Eu era jovem, e em certas situações tinha medo dele. Era possessivo demais. Só depois de me casar descobri que a possessividade é melhor que a indiferença. Pelo menos pra mim.” 
 Olhei para o outro lado, lutando contra a ânsia de vômito que subia por minha 
garganta. 
 “Você está tão quieta”, ela comentou. 
 “O que ela poderia dizer?”, soltou Magdalene. 
 Estávamos todas apaixonadas por ele. E disponíveis para ele. No fim, Joseph teria 
que escolher uma de nós. 
 “Uma coisa você deve saber, Demetria”, recomeçou Corinne, lançando sobre mim seus 
olhos límpidos verde-azulados, “ele me contou o quanto te considera especial. Precisei de um tempo para tomar coragem de voltar e ver vocês juntos. Cheguei inclusive a cancelar a viagem umas duas semanas atrás. Liguei para Joseph no meio de um evento em que ele daria um discurso, coitadinho, pra dizer que estava voltando e precisava de ajuda pra me instalar aqui.” 
 Fiquei paralisada, sentindo-me frágil como uma taça de cristal rachada. Ela devia 
estar falando da noite em que Joseph e eu fizemos sexo pela primeira vez. Da noite em que estreamos sua limusine e ele imediatamente se retraiu todo, deixando-me sozinha logo depois. 
 “Quando ele me ligou de volta”, ela continuou, “disse que tinha conhecido alguém. 
Que queria me apresentar a você quando eu chegasse. Acabei me acovardando. Ele nunca 
havia me pedido pra conhecer uma mulher com quem estava.” 
 Ai, meu Deus. Dei uma olhada de relance para Magdalene. Joseph tinha me 
abandonado naquela noite por causa dela. De Corinne. 

Um comentário:

  1. Amando demais essa história!! Coloca pra anônimo comentar! Assim eu consigo comentar em todos os capítuloos ♥
    Já estou ansiosa pelo próximoo ♥
    Beijos

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