sexta-feira, 25 de julho de 2014
Capítulo 16
“Nunca mais abra mão dessa chave”, avisei mais uma vez.
“E você, não se arrependa de ter dado essa chave para mim.” Ele colou sua
testa à minha. Senti o calor de sua respiração em minha pele e imaginei que ele
havia sussurrado algo, apesar de não ter conseguido entender o quê.
Mas não importava. Estávamos juntos. Depois de um dia longo e
tenebroso, nada mais importava.
*
O som da porta do meu quarto se abrindo interrompeu um sonho nada
memorável, mas foi o aroma tentador do café que de fato me acordou. Estiquei-me,
mas mantive os olhos fechados, deixando a vontade crescer.
Joseph sentou na beira da cama, e um instante depois senti seus dedos
percorrerem meu rosto. “Dormiu bem?”
“Senti sua falta. Esse café é pra mim?”
“Se você for boazinha.”
Abri bem os olhos. “Mas você gosta de mim safadinha.”
Seu sorriso provocava reações enlouquecidas em mim. Ele já estava
vestido com um de seus ternos absurdamente sensuais e aparentava estar se
sentindo bem melhor que na noite anterior. “Gosto de você safadinha comigo. E
esse show na sexta?”
“É de uma banda chamada Six-Ninths. É só isso que eu sei. Quer ir?”
“Não é uma questão de querer. Se você vai, eu vou também.”
Minhas sobrancelhas se ergueram. “Sério? E se eu não tivesse convidado você?”
Ele tateou à procura da minha mão e girou meu anel de compromisso.
“Então você não iria.”
“Como é?” Ajeitei os cabelos para trás. Ao notar a expressão que se desenhava
em seu lindo rosto, sentei. “Me dá esse café. Quero estar bem energizada
para acabar com você.”
Joseph sorriu e me passou a caneca.
“Não me olhe assim”, avisei. “Não estou nada contente com a ideia de você
me proibir de sair.”
“Estamos falando sobre um evento específico, um show de rock, e eu não
proibi você de ir, só disse que não pode ir sem mim. Sinto muito se não gosta,
mas é assim que as coisas são.”
“E quem disse que é rock? Pode ser música clássica. Pop. Ou celta.”
“O Six-Ninths acabou de assinar com a Vidal Records.”
“Ah.” A Vidal Records era dirigida pelo padrasto de Joseph, Christopher
Vidal, mas o proprietário era ele. Para mim, era impossível imaginar o que
levaria alguém a comprar uma empresa da própria família. Qualquer que fosse o
motivo, era mais uma das razões por que Christopher Jr., o meio-irmão de
Joseph, o odiava.
“Vi uns vídeos da época em que eles eram uma banda indie”, Joseph explicou.
“Não vou deixar você sozinha no meio daquele bando de malucos.”
Dei um gole caprichado no café. “Entendo, mas você não tem o direito de
mandar em mim.”
“Ah, não?” Ele pôs o dedo esticado na frente da minha boca. “Shh. Nada de
discussões. Não sou um tirano, mas tenho minhas preocupações, e você precisa
ter o bom senso de aceitar isso.”
Afastei sua mão. “E bom senso significa fazer o que você achar melhor?”
“Claro.”
“Quanta pretensão.”
Ele ficou de pé. “Não vamos brigar por causa de situações hipotéticas. Você
me convidou pra ir ao show na sexta e eu topei. Não tem motivo nenhum para
discutir.”
Deixei o café sobre o criado-mudo, saí de baixo das cobertas e levantei da
cama. “Preciso ter a minha vida também, Joseph. Se abrir mão da minha individualidade,
nunca vou conseguir me acertar com você.”
“Sim, e tenho que pensar na minha individualidade. Não posso ser o único
a fazer concessões.”
Senti o golpe daquelas palavras. Ele tinha lá sua razão. Eu podia defender
meu espaço, mas precisava entender que tipo de homem era Joseph. Precisava
me acostumar com o fato de que ele também tinha seus gatilhos emocionais. “E
se um dia eu quiser sair com minhas amigas?”
Ele pegou meu queixo com as duas mãos e beijou minha testa. “Você pode
usar a limusine e ir pra qualquer lugar de que eu seja dono.”
“Para você poder mandar os seguranças me espionarem?”
“Espionarem não, protegerem”, ele corrigiu, dando-me outro beijo. “Isso é
tão terrível assim, meu anjo? Eu não conseguir parar de pensar em você é um
fato imperdoável?”
“Você está distorcendo as coisas.”
Ele me largou e me encarou com uma expressão séria e determinada.
“Mesmo se você estiver na minha limusine ou em uma das minhas casas
noturnas, o fato de não estar em casa comigo vai me deixar maluco. E, se vou ser
obrigado a conviver com isso, você vai ser obrigada a conviver com minhas medidas
de precaução. É um acordo justo.”
“Como você consegue fazer os maiores absurdos parecerem razoáveis?”,
rosnei.
“É um dom.”
Dei um apertão em seu belo e firme traseiro. “Vou precisar de mais café
pra conseguir lidar com esse dom, garotão.”
*
Já havia se tornado quase uma tradição sair para almoçar com meu chefe e
seu companheiro às quartas-feiras. Quando Mark e eu chegamos ao pequeno
restaurante italiano, descobri que ele também havia convidado Shawna, o que
me deixou muito contente. Mark e eu tínhamos uma relação bastante profissional,
mas de alguma forma ele conseguia agregar um toque pessoal que para mim
significava muito.
“Que inveja do seu bronzeado”, comentou Shawna, ao mesmo tempo casual
e bem-vestida com jeans, uma blusinha bordada e uma echarpe. “Quando
tomo sol fico toda vermelha, e minhas sardas aparecem ainda mais.”
“Mas em compensação você tem esse cabelo lindo pra exibir”, ressaltei, admirando
sua coloração ruiva.
Steven passou a mão por seus cabelos, que tinham exatamente o mesmo
tom, e sorriu. “A gente abre mão de tanta coisa pra ficar bonito.”
“Como é que você sabe?” Ela deu um esbarrão no ombro do irmão e caiu
na risada, mas ele nem se mexeu. Shawna era magra e esguia, e Steven, grande e
forte. Mark já havia me contado que seu companheiro era um empreiteiro que
não fugia do trabalho pesado, o que explicava tanto sua constituição física como
suas mãos calejadas.
Entramos no restaurante e fomos logo para nossa mesa, já que eu havia
providenciado a reserva com antecedência. Era um lugar meio apertado, mas
muito charmoso. Janelas que iam do chão ao teto proporcionavam bastante luz
natural, e o cheiro da comida era de dar água na boca.
“Estou animadíssima para sexta.” Os olhos azuis de Shawna brilhavam de
empolgação.
“Ah, é. Ela vai com você”, comentou Steven, “e não com o irmão mais velho
dela.”
“O show não podia ser menos a sua cara”, ela rebateu. “Você odeia
aglomerações.”
“Gosto de um pouco de distância entre as pessoas, só isso.”
Shawna revirou os olhos. “Você pode ser chato em outro lugar.”
Aquela conversa sobre aglomerações me fez lembrar do lado superprotetor
de Joseph. “Tudo bem se eu levar o cara com quem estou saindo?”, perguntei.
“Ou você acha chato?”
“Claro que não. Ele pode convidar um amigo também.”
“Shawna.” Mark parecia incrédulo. E incomodado. “E Doug?”
“O que é que tem ele? Você nem me deixou terminar.” Ela virou para mim e explicou: “Doug é o meu namorado. Ele está na Sicília fazendo um curso de
culinária. É chef de cozinha”.
“Que legal”, comentei. “Adoro homens que sabem cozinhar.”
“Ah, sim.” Ela sorriu e lançou um olhar para Mark. “Ele é ciumento, e eu
sei disso, então se seu acompanhante tiver um amigo que esteja interessado em
ver o show, e não em arrumar uma mulher, pode ir também.”
Pensei imediatamente em Cary e abri um sorriso.
Mais tarde, porém, ao chegar ao apartamento de Joseph depois da academia,
mudei de ideia. Levantei do sofá em que estava tentando inutilmente ler
um livro e fui até o escritório.
Ele estava concentrado, com o rosto franzido, digitando rapidamente no
teclado. O brilho do monitor e a lâmpada sobre a colagem de fotos na parede
eram as únicas fontes de iluminação do recinto, o que deixava muita coisa oculta
nas sombras. Joseph estava sentado praticamente na penumbra, sem camisa e absolutamente senhor de si. Como sempre acontecia quando trabalhava, ele
parecia solitário e inatingível. Sua solidão se fazia sentir só de olhar para ele.
A combinação da falta de intimidade física provocada por minha menstruação
e a compreensível decisão de Joseph de dormirmos em quartos separados
despertou minhas inseguranças mais profundas, fez-me querer ficar mais perto
e tentar obter o máximo possível de sua atenção.
O fato de ele estar trabalhando em vez de dedicar seu tempo a mim não
deveria me incomodar — eu sabia que ele era um homem ocupado —, mas incomodava.
Estava me sentindo abandonada e carente, um sinal de que alguns velhos
hábitos estavam voltando para a minha vida. Em resumo, Joseph era a melhor
e a pior coisa que já havia acontecido na minha vida, e o mesmo valia para
mim em relação a ele.
Ele desviou os olhos da tela e me hipnotizou com seu olhar. Sua atenção se
voltou totalmente para mim.
“Estou deixando você de lado, não é, meu anjo?”, ele perguntou,
recostando-se na parede.
Fiquei vermelha. Queria que ele não fosse capaz de me decifrar tão facilmente.
“Desculpe interromper.”
“Você pode vir sempre que precisar de alguma coisa.” Ele empurrou a
gaveta com o teclado de volta para a mesa, bateu no tampo de madeira e empurrou
a cadeira de rodinhas para trás. “Vem sentar.”
A empolgação tomou conta de mim. Fui correndo, sem nenhuma preocupação
em esconder meu desejo de atenção. Pulei na mesa e abri um sorriso
quando Joseph aproximou a cadeira para se posicionar entre minhas pernas.
Deixando os braços apoiados sobre minhas coxas, ele me abraçou pelos
quadris e disse: “Eu deveria ter explicado que preciso adiantar algumas coisas
pra gente poder viajar no fim de semana”.
“Sério?” Passei os dedos por seus cabelos.
“Quero me dedicar somente a você por um tempo. E estou precisando
muito, muito mesmo, trepar longamente com você. Quem sabe o fim de semana
todo.” Ele fechou os olhos quando o toquei. “Sinto falta de estar dentro de você.”
“Você está sempre dentro de mim”, murmurei.
Ele abriu um sorriso malicioso e arregalou um pouco os olhos. “Você está
me deixando de pau duro.”
“E tem alguma novidade nisso?”
“Com certeza.”
Franzi a testa.
“A gente conversa sobre isso depois”, ele propôs. “Agora vamos tratar do
motivo que trouxe você até aqui.”
Hesitei, ainda sob o efeito de seu comentário misterioso.
“Demetria.” Seu tom de voz firme atraiu minha atenção. “Está precisando de alguma
coisa?”
“De uma companhia pra Shawna. Hã... não no sentido romântico ou sexual.
Ela tem namorado, mas ele está viajando. Acho que seria melhor se não
fôssemos só nós dois e ela.”
“E você não quer convidar Cary?”
“Eu pensei nele a princípio, mas já estou indo com uma amiga minha. Pensei
que você poderia querer convidar algum conhecido seu pra ir. Sabe como é,
pra equilibrar a dinâmica da coisa.”
“Tudo bem. Vou ver se encontro alguém disponível.”
Naquele momento, percebi que na verdade não esperava que ele fosse
concordar.
Isso deve ter transparecido na expressão do meu rosto, porque logo em
seguida ele perguntou: “Mais alguma coisa?”.
“Eu...” Como dizer o que eu estava pensando sem parecer uma cretina?
Sacudi a cabeça. “Não. Não é nada.”
“Demetria.” Seu tom de voz ficou bem sério. “Diga logo.”
“É bobagem minha.”
“Não estou pedindo, estou mandando.”
Senti um arrepio pelo corpo, como sempre acontecia quando ele adotava
aquele tom autoritário. “É que pensei que você limitasse sua vida social aos encontros
de negócios e a algumas trepadas ocasionais.”
Dizer aquilo não foi nada fácil. Por mais que fosse uma idiotice ter ciúme
das mulheres com quem ele tinha se envolvido no passado, era algo que eu não
conseguia controlar.
“Você acha que não tenho amigos?”, ele perguntou, claramente achando
aquilo tudo muito engraçado.
“Bom, você nunca me apresentou nenhum amigo”, eu disse com malícia,
mexendo na bainha da minha camiseta.
“Ah...” Seu divertimento com a situação cresceu ainda mais, e seus olhos
brilhavam em meio aos risos. “Você é meu segredinho, meu tesouro sexual. Não
sei onde estava com a cabeça quando quis que a gente fosse fotografado se beijando
em público.”
“Bom.” Meus olhos passaram para a colagem de fotos na parede, onde
aquela imagem podia ser vista, uma fotografia que tinha sido destaque nos sites
de fofocas durante dias. “Vendo a coisa dessa forma...”
Joseph soltou uma gargalhada, que provocou em mim uma onda de
prazer. “Você conheceu alguns dos meus amigos quando saímos juntos.”
“Ah.” Eu pensava que as pessoas a que tinha sido apresentada em eventos
fossem apenas parceiros de negócios.
“Mas manter você só pra mim também é uma ótima ideia.”
Olhei bem para ele e resolvi trazer de volta à tona meu argumento na discussão
que tivemos quando decidi ir para Las Vegas e não para Phoenix. “E por
que você não pode ficar deitado sem roupa, sempre à minha disposição?”
“Que graça isso teria?”
Dei um soco em seu ombro e ele me puxou para seu colo, aos risos.
Seu bom humor era algo quase inacreditável, e fiquei me perguntando qual
seria a razão daquilo. Quando bati o olho no monitor, só o que vi foi uma
planilha enorme e um e-mail pela metade. Mas havia algo diferente no ar. E eu
estava gostando.
“Seria um prazer”, ele sussurrou com os lábios colados à minha garganta,
“ficar deitado de pau duro o tempo todo, pra você cavalgar quando quisesse.”
Senti meu sexo se contrair ao visualizar aquela imagem na minha mente.
“Você está me deixando com tesão.”
“Que ótimo. Adoro deixar você assim.”
“Então”, provoquei, “se minha fantasia fosse dispor dos seus serviços vinte
e quatro horas por dia...”
“Pra mim seria uma maravilha.”
Dei uma mordidinha em seu queixo.
Ele grunhiu: “Está querendo me provocar, meu anjo?”.
“Quero saber qual é sua fantasia.”
Joseph me ajeitou melhor em seu colo. “Você.”
“É bom mesmo.”
Ele sorriu. “Em um clube de striptease.”
“Quê?”
“Em um show particular só para mim, Demetria. Em um daqueles balanços, com
sua bunda maravilhosa bem grudadinha no assento, os pés amarrados, as pernas
abertas e a sua bocetinha perfeita molhada e pronta pra mim.” Ele começou
a fazer movimentos circulares sedutores na base da minha coluna. “Totalmente
à minha mercê, incapaz de fazer qualquer coisa além de receber toda a porra que
eu quisesse despejar. Acho que você ia adorar.”
Eu o imaginei de pé no meio das minhas pernas, sem roupa e molhado de
suor, com os bíceps e os peitorais se flexionando enquanto me puxava para trás
e para a frente, entrando e saindo de mim com seu pau maravilhoso. “Você me
quer totalmente indefesa.”
“Quero você entregue e submissa. E não só em termos físicos. Tem que ser
uma coisa de dentro pra fora.”
“Joseph...”
“Se você acha que não aguenta, posso não ir até o fim”, ele prometeu, com
seus olhos brilhando de desejo à meia-luz. “Mas vou te levar até onde for
possível.”
Estremeci, tanto pela excitação como pela perturbação causada pela possibilidade
de me entregar daquela maneira. “Por quê?”
“Porque quero que você seja minha, quero ser seu dono. A gente chega lá.”
Ele enfiou a mão por baixo da minha camiseta e agarrou um dos meus seios,
apertando e torcendo de leve o mamilo, deixando meu corpo em chamas.
“Você já fez isso antes?” Perguntei, quase sem fôlego. “Esse negócio do
balanço?”
A expressão em seu rosto mudou. “Não me pergunte esse tipo de coisa.”
Ai, meu Deus. “Eu só queria...”
Ele me calou com um beijo. Mordeu meu lábio inferior, e então enfiou a
língua na minha boca, mantendo-me na posição em que queria agarrando meus
cabelos. O caráter dominante de seu gesto era inegável. O desejo surgiu dentro
de mim, uma necessidade que eu não conseguia controlar, à qual não podia resistir.
Gemi, sentindo uma pontada no peito ao pensar que ele já poderia ter investido
tanto tempo e esforço para obter prazer de outra pessoa.
Joseph meteu a mão no meio das minhas pernas e me apertou. Eu me encolhi,
surpresa com sua agressividade. Ele soltou um ruído para me tranquilizar
começou a me massagear, esfregando minha carne delicada com a habilidade
costumeira em que eu havia me viciado.
Ele interrompeu o beijo, apoiando a mão nas minhas costas para levar meu
peito até sua boca. Mordeu meu mamilo por cima do tecido, depois o envolveu
com os lábios, chupando-o com tanta força que a sensação ecoou no meu ventre.
Eu estava cercada. Meu cérebro entrou em curto-circuito quando o desejo
tomou conta de mim. Seus dedos ultrapassaram a barreira da minha calcinha
para tocar meu clitóris, e aquela sensação de pele contra pele era justamente do
que eu precisava. “Joseph.”
Ele ergueu a cabeça e me observou com os olhos cheios de furor enquanto
me fazia gozar. Gemi ao ser arrebatada pelos tremores, a liberação de toda a
tensão depois de dias de privação era quase insuportável. Mas ele não teve pena
de mim. Continuou acariciando meu sexo até eu gozar mais uma vez, até meu
corpo se sacudir violentamente e minhas pernas se fecharem para pôr um fim
àquela tortura.
Quando ele tirou a mão, eu relaxei, respirando profundamente. Aninhei-me
em seu colo, com o rosto encostado em seu pescoço, enlaçando os braços em
sua nuca. Meu coração parecia inchado dentro do peito. Tudo o que eu sentia
por ele, todo o tormento e o amor, veio à tona naquele momento. Eu o agarrei
com força, procurando uma proximidade ainda maior.
“Shh.” Ele me apertava tanto que ficava difícil respirar. “Você está questionando
tudo e enlouquecendo no processo.”
“Odeio isso”, murmurei. “Eu não devia precisar tanto assim de você. Não é
saudável.”
“É aí que você se engana.” Seu coração batia aceleradamente no meu
ouvido. “E eu assumo a responsabilidade. Assumi o controle sobre algumas
coisas e deixei outras por sua conta. É por isso que você está tão confusa e tão tensa. Peço desculpas por isso, meu anjo. Daqui para a frente as coisas vão ser
mais fáceis.”
Eu me inclinei para trás para poder encará-lo. Quase perdi o fôlego quando
nossos olhos se encontraram, e vi que ele me olhava com uma expressão impassível.
Foi então que entendi o que havia de diferente nele naquele dia —
Joseph estava absolutamente sereno e seguro. Ao notar isso, também me tranquilizei.
Minha respiração voltou ao ritmo normal, minha ansiedade começou a
se esvair.
“Assim está melhor.” Ele beijou minha testa. “Eu ia esperar até o fim de semana
pra falar sobre isso, mas podemos conversar agora mesmo. A gente vai
fazer um trato. Depois, não vai ser possível voltar atrás. Entendeu bem?”
Engoli em seco. “Estou tentando.”
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BOM GENTE DESCULPE A DEMORA, É QUE ACONTECEU UNS PROBLEMAS TIPO A QUE MINHA MÃE DESCOBRIU QUE EU ESTAVA POSTANDO ESTÓRIAS DE ROMANCE ERÓTICO E PIROU KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK FOI MUITO ENGRAÇADO,ENTÃO POR ESSE MOTIVO FIQUEI SEM POSTAR ESSE TEMPO TODO,E OUTRA COISA QUE EU QUERIA FALAR É QUE EU FIQUEI DE CASTIGO E SO VOU PODER POSTA NOS SÁBADOS APATIR DE HOJE,E MAS UMA COISINHA SIGAM E COMENTEM O BLOG POR FAVOR.BJS
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Capítulo 14 e 15
Minhas costas bateram no tatame com força suficiente para roubar o ar
dos meus pulmões. Aturdida, pisquei várias vezes olhando para o teto, tentando
recobrar o fôlego.
O rosto de Parker Smith apareceu no meu campo de visão. “Você só está
me fazendo perder tempo. Se veio até aqui, então se concentre no que está
acontecendo aqui. Seus pensamentos estão a milhões de quilômetros.”
Agarrei a mão que ele estendeu para mim e fui posta de pé em um puxão.
Ao nosso redor, mais de uma dezena de aprendizes de krav maga treinavam
duro. A academia no Brooklyn estava tomada por ruídos e atividade.
E ele tinha razão. Eu não conseguia pensar em mais nada além da reação
estranha da minha mãe na frente do Crossfire quando voltamos do almoço.
“Desculpe”, murmurei. “Estou com a cabeça meio cheia.”
Ele se movia como um relâmpago, acertando meu joelho e depois meu ombro
com golpes leves de mão aberta. “E você acha que um agressor não aproveitaria
um momento de distração como esse para atacar?”
Eu me agachei, fazendo força para tentar me concentrar. Parker fez o
mesmo, encarando-me com seu olhar atento e implacável. A pele morena de sua
cabeça raspada brilhava sob a luz das lâmpadas fluorescentes. A academia era
um antigo depósito, que não havia sido modificado nem decorado por razões tanto estéticas como práticas, criando assim uma atmosfera propícia ao exercício
da autodefesa. Minha mãe e meu padrasto, paranoicos como eles só, faziam
Clancy me levar às aulas. Aquela região estava sendo revitalizada, o que eu
achava ótimo, mas para eles era sinal de problemas.
Quando Parker veio para cima de mim de novo, consegui detê-lo. Ele
pegou ainda mais pesado depois disso, obrigando-me a esquecer qualquer outro
pensamento até bem mais tarde, quando eu já estava em casa.
Joseph apareceu mais ou menos uma hora depois e me encontrou na banheira,
cercada por velas aromáticas. Ele tirou a roupa para se juntar a mim,
apesar de seus cabelos molhados denunciarem que havia tomado banho depois
de se exercitar com o personal trainer. Eu o observei enquanto se despia, fascinada.
A movimentação dos músculos sob sua pele e a elegância com que se mexia
faziam uma sensação de bem-estar se espalhar pelo meu corpo.
Joseph se posicionou atrás de mim na banheira oval, suas longas pernas
envolvendo as minhas. Ele segurou meus braços e me levantou, pegando-me de
surpresa, e quando me dei conta estava sentada em seu colo.
“Encosta aqui em mim, meu anjo”, ele murmurou. “Preciso sentir você.”
Suspirei de prazer, soltando todo o meu peso e me aninhando sobre seu
corpo firme e rígido. Meus músculos doloridos relaxaram, ansiosos como
sempre para ser manipulados por seu toque. Momentos como aquele eram os
meus preferidos. O restante do mundo e nossos gatilhos emocionais se tornavam
uma coisa distante. Era quando eu sentia o amor que ele não ousava
confessar.
“Mais hematomas?”, ele perguntou com o rosto colado ao meu.
“Foi culpa minha. Minha cabeça não estava colaborando muito.”
“Estava pensando em mim?”, ele sussurrou, acariciando minha orelha com
o nariz.
“Quem me dera.”
Ele fez uma pausa antes de alterar o tom da conversa. “Me conte o que está
incomodando você.”
Eu adorava essa capacidade dele de me entender e mudar a abordagem de
acordo com minhas reações. Eu me esforçava para ser como Joseph. A flexibilidade
era um requisito indispensável em um relacionamento entre duas pessoas
complicadas.
Entrelaçando meus dedos aos dele, falei sobre o comportamento esquisito
da minha mãe depois do almoço.
“Por um momento achei que daria de cara com meu pai. Eu estava
pensando... O prédio tem câmeras viradas para a calçada, não tem?”
“Claro. Posso conseguir as imagens pra você.”
“Seriam no máximo dez minutos. Só quero tentar descobrir o que
aconteceu.”
“Por mim já está feito.”
Joguei a cabeça para trás e beijei seu queixo. “Obrigada.”
Seus lábios roçaram de leve meu ombro. “Meu anjo, eu faria qualquer coisa
por você.”
“Inclusive falar sobre seu passado?” Senti que ele se arrependeu do que
tinha dito. “Não precisa ser agora”, apressei-me em dizer, “mas algum dia. Você
decide quando estiver pronto.”
“Almoça comigo amanhã? Na minha sala?”
“Você vai me contar tudo durante o almoço?”
Joseph bufou. “Demetria.”
Virei o rosto e o soltei, decepcionada com a recusa. Agarrando as bordas da
banheira, preparei-me para levantar e sair de perto do homem com quem eu
tinha mais intimidade no mundo, mas que ainda assim parecia uma pessoa irremediavelmente
distante. Manter uma relação com ele significava andar sempre no fio da navalha, começar a duvidar de coisas das quais eu tinha certeza poucos
momentos antes. Começar e recomeçar o tempo todo.
“Pra mim já chega”, murmurei, apagando a vela mais próxima de mim. A
fumaça serpenteou pelo ar, intangível como o homem que eu amava. “Vou sair.”
“Não.” Ele agarrou meus seios, restringindo meus movimentos. A água
começou a respingar para fora da banheira, reflexo da minha agitação.
“Me larga, Joseph.” Eu o peguei pelos pulsos e afastei suas mãos de mim.
Ele enterrou o rosto no meu pescoço, segurando-me obstinadamente. “Eu
chego lá. Tudo bem? Só me dá... Eu chego lá.”
Eu me desarmei diante do pequeno triunfo que esperava obter logo de
cara, quando fiz a pergunta.
“Podemos deixar isso de lado só por uma noite?”, ele perguntou em um
tom de irritação, ainda com o corpo todo tenso. “Deixar tudo de lado? Só quero a
sua companhia, pode ser? Pedir alguma coisa pra jantar, ficar vendo tevê,
dormir abraçado... Podemos fazer isso?”
Percebendo que havia alguma coisa bem séria o incomodando, virei-me
para olhá-lo. “Aconteceu alguma coisa?”
“Só quero ficar um tempinho com você.”
Lágrimas brotaram dos meus olhos. Havia tanta coisa que ele não era
capaz de me dizer, tanta coisa. Nosso relacionamento estava se transformando
em um campo minado de palavras não ditas e segredos não compartilhados.
“Tudo bem.”
“Estou precisando disso, Demetria. Eu e você, sem nenhum drama.” Joseph passou
os dedos molhados pelo meu rosto. “Me faça esse favor. E me beije.”
Eu me virei, posicionei-me sobre seus quadris e agarrei seu rosto com as
mãos. Inclinei a cabeça até o ângulo perfeito e juntei meus lábios aos dele.
Comecei bem devagar, com sucções leves. Mordi sem muita força seu lábio inferior, depois me entreguei ao beijo para que todos os nossos problemas se esvaíssem
ao contato da minha língua com a dele.
“Me beija, porra”, ele rugiu, passando as mãos pelas minhas costas e se remexendo
sem parar. “Se você me ama, me beija.”
“Eu te amo”, garanti, sem separar nossas bocas. “Não posso evitar.”
“Meu anjo.” Agarrando com as mãos meus cabelos molhados, ele me
manteve na posição em que queria e se rendeu a um beijo apaixonado.
Depois do jantar, Joseph foi trabalhar na cama, com a cabeça encostada na
cabeceira e o laptop em uma mesinha portátil. Eu estava deitada de bruços,
vendo tevê e balançando os pés.
“Você sabe todas as falas desse filme?”, ele perguntou, desviando temporariamente
minha atenção de Os Caça-fantasmas para olhá-lo. Ele só estava
usando uma cueca boxer preta.
Adorava vê-lo daquela maneira relaxada, despojada e íntima. Perguntei-me
se Corinne já havia desfrutado da mesma visão. Em caso positivo, eu era
capaz de imaginar seu desespero para estar de novo diante daquela cena, com
base no meu desespero para nunca perder o privilégio.
“Talvez”, admiti.
“E precisa dizer todas em voz alta?”
“Algum problema, garotão?”
“Não.” Ele sorriu, e seus olhos deixavam claro que estava se divertindo.
“Quantas vezes você já viu isso?”
“Um zilhão.” Eu me virei e ergui as mãos e os joelhos. “Está bom pra
você?”
Ele levantou uma sobrancelha.
“Você é o porteiro?”, murmurei, aproximando-me.
“Meu anjo, com você me encarando desse jeito, aceito ser qualquer coisa.”
Virei para ele com os olhos semicerrados e sussurrei: “Você quer este
corpinho?”.
Sorrindo, ele pôs o computador de lado. “Vinte e quatro horas por dia.”
Montei em suas pernas e me inclinei sobre ele. Lancei meus braços sobre
seus ombros e grunhi: “Me beija, criatura inferior”.
“Ah, então é assim que as coisas funcionam? O que aconteceu com o deus
do prazer? Agora sou uma criatura inferior?”
Pressionei meu sexo contra a extensão rígida do pau dele e remexi os
quadris. “Você aceita ser qualquer coisa, esqueceu?”
Joseph me agarrou na altura das costelas e jogou a cabeça para trás. “E o
que você quer que eu seja?”
“Meu.” Dei uma mordida em sua garganta. “Todo meu.”
Capítulo 15
Eu não conseguia respirar. Tentei gritar, mas alguma coisa tapava meu
nariz... cobria minha boca. Um gemido agudo foi o único som a escapar. Meus
pedidos frenéticos de socorro estavam aprisionados dentro da minha mente.
Me larga! Para com isso! Não encosta em mim. Ai, meu Deus... por favor,
não faz isso comigo.
Onde estava minha mãe? Mãe!
A mão de Nathan cobria minha boca, bloqueando meus lábios. O peso de
seu corpo pressionava o meu para baixo, esmagando minha cabeça contra o
travesseiro. Quanto mais eu resistia, mais excitado ele ficava. Arfando como o
animal que era, Nathan investia contra mim, de novo e de novo... tentando me
penetrar. Minha calcinha estava no caminho, minha única proteção contra a dor
que eu já havia experimentado incontáveis vezes.
Como se estivesse lendo minha mente, ele rugiu na minha orelha: “Você
ainda não sabe o que é dor. Mas vai descobrir já, já”.
Fiquei paralisada. A consciência me atingiu como um balde de água fria.
Eu conhecia muito bem aquela voz.
Joseph. Não!
Minha pulsação acelerada ressoava nos meus ouvidos. Uma ânsia de
vômito se espalhou por minha barriga. Senti a bile subir até minha boca.
Era ainda pior, muito pior, quando o estuprador era alguém em quem você
confiava mais do que em qualquer outra pessoa no mundo.
O medo e a raiva se misturaram em uma dose potente de adrenalina. Em
um momento de lucidez, ouvi a voz de Parker gritando seus comandos e me lembrei
do básico.
Ataquei o homem que amava, o homem cujos pesadelos se misturavam
com os meus da maneira mais pavorosa possível. Éramos ambos sobreviventes
de abusos sexuais, mas nos meus sonhos eu ainda era a vítima. Nos de Joseph,
ele havia se tornado o agressor, furiosamente determinado a se vingar infligindo
a mesma agonia e humilhação que tinha sofrido a quem o atacou.
Meus dedos enrijecidos golpearam a garganta de Joseph. Ele recuou com
um palavrão e se virou, e eu aproveitei para dar uma joelhada no meio de suas
pernas. Dobrado sobre si mesmo, ele caiu para um dos lados. Rolei para fora da
cama e caí no chão. Aos tropeções, arremessei-me porta afora e cheguei ao
corredor.
“Demetria!”, ele gritou sem fôlego, acordado e ciente do que quase havia feito
enquanto dormia. “Meu Deus. Demetria. Espere!”
Continuei em frente e corri até a sala.
Encontrei um canto escuro, encolhi-me toda e, fazendo força para respirar,
chorei até meus soluços ressoarem pelo apartamento. Pressionei a boca contra o joelho quando vi a luz do meu quarto se acender e não fiz nenhum movimento
quando, uma eternidade depois, Joseph apareceu na sala.
“Demetria? Meu Deus. Está tudo bem? Eu... machuquei você?”
Parassonia sexual atípica, foi o nome que o dr. Petersen mencionou, uma
manifestação física do trauma psicológico profundo de Joseph. Para mim, o
nome daquilo era inferno. E ambos tínhamos sido arrastados para ele.
Sua linguagem corporal era de partir o coração. Sua postura normalmente
cheia de dignidade estava esmagada pelo peso do fracasso. Seus ombros estavam
caídos e sua cabeça, abaixada. Joseph estava vestido e segurava a mala
com suas roupas. Parou junto ao balcão. Abri a boca para falar, mas fui interrompida
pelo barulho de um objeto de metal contra o tampo de pedra.
Da outra vez, eu o detive; pedi para que ficasse. Agora, não estava disposta
a fazer o mesmo.
Agora, queria que ele fosse embora.
O ruído quase inaudível da chave entrando na porta reverberou pelo meu
corpo. Algo dentro de mim morreu. O pânico tomou forma. Senti sua falta no
mesmo momento em que ele partiu. Não queria que Joseph ficasse. Mas também
não queria que fosse embora.
Não sei quanto tempo fiquei ali encolhida naquele canto antes de reunir
forças para levantar e ir até o sofá. Notei distraidamente que a noite estava
começando a virar dia, e logo depois ouvi o som distante do toque do celular de
Cary. Pouco tempo depois, ele veio correndo até a sala.
“Demetria!” Ele chegou até mim em um segundo, agachando-se na minha
frente, apoiado sobre as mãos e os joelhos. “O que foi que ele fez?”
Pisquei, confusa. “Quê?”
“Jonas ligou. Ele contou que teve outro pesadelo.”
“Não aconteceu nada.” Senti uma lágrima quente deslizar por meu rosto.
“Está na sua cara que alguma coisa aconteceu. Você está...”
Eu o agarrei pelos punhos quando ele se levantou dizendo um palavrão.
“Estou bem.”
“Merda, Demetria. Nunca vi você tão assustada. Não dá pra continuar assim.”
Ele se sentou ao meu lado e me puxou para seu ombro. “Já chega. Está na hora
de acabar com isso.”
“Não posso tomar essa decisão assim, por impulso.”
“Você está esperando o quê?” Ele me forçou a encará-lo. “Se esperar demais,
não vai ser só mais um relacionamento fracassado, vai foder sua vida pra
sempre.”
“Se eu desistir de Joseph, ele nunca mais vai ter ninguém. Não posso...”
“Isso não é problema seu, Demetria... Puta que o pariu. Você não tem a
obrigação de salvar esse cara.”
“É que... Você não entende.” Com meus braços em torno dele e meu rosto
enterrado em seu pescoço, eu disse aos soluços: “É ele que está me salvando”.
Senti uma terrível ânsia de vômito ao ver a cópia da chave que havia dado
para Joseph em cima do balcão da cozinha. Quase não tive tempo de chegar até
a pia.
Depois de esvaziar o estômago, senti uma dor tão aguda que era quase
debilitante. Agarrei-me à beirada do balcão, suando frio e com dificuldade para
respirar, chorando tanto que não sabia como suportar os cinco minutos
seguintes, muito menos o restante do dia. Ou da minha vida.
Da última vez que Joseph me devolveu aquela chave, ficamos sem nos
falar durante quatro dias. Era impossível não pensar que a repetição daquele
gesto significava uma ruptura muito maior. O que eu tinha feito? Por que não
fora atrás dele? Por que não conversara com ele? Por que não impedira que
fosse embora?
Meu telefone emitiu o sinal de alerta de mensagem de texto. Arrastei-me
até a bolsa, torcendo para que fosse Joseph. Ele havia ligado três vezes para
Cary, mas não tinha tentado falar comigo.
Quando vi seu nome na tela, senti um aperto no peito.
Vou trabalhar em casa hoje. Angus vai passar aí e te levar para o trabalho.
Senti meu estômago embrulhar de novo, dessa vez de medo. Tinha sido
uma semana dificílima para nós dois. Seria compreensível se ele desistisse de
vez. Essa compreensão, porém, vinha revestida de um pânico tão pavoroso que
senti um arrepio subir por meus braços.
Meus dedos tremiam enquanto eu digitava a resposta.
Nos vemos hoje à noite?
Depois de uma longa pausa, a ponto de eu quase escrever de novo, ele enfim
se manifestou.
Não conte com isso. Tenho consulta com o dr. Petersen e um monte de
coisas para fazer.
Agarrei o telefone com força. Precisei recomeçar três vezes antes de reunir
forças para escrever: Quero ver você.
A resposta demorou mais do que nunca. Já estava quase ligando, em estado
de pânico, quando a mensagem chegou: Vou ver o que posso fazer.
Meu Deus... Eu mal conseguia enxergar as letras em meio às lágrimas. Ele
tinha desistido. Meu coração dizia isso, era o que eu sentia no fundo da alma.
Não fuja. Eu não vou fugir.
Ele respondeu depois do que pareceu uma eternidade: Mas deveria.
Pensei em ligar para o trabalho e dizer que estava doente, mas acabei
mudando de ideia. Eu já havia passado por aquilo antes. Se fizesse isso, o passo
seguinte seria retomar os antigos hábitos autodestrutivos com os quais eu costumava
lidar com a dor. Perder Joseph seria terrível, mas me perder poderia ser
pior.
Eu precisava aguentar firme. Seguir em frente. Manter o controle. Um
passo de cada vez.
E então lá estava eu, à espera do Bentley no horário de sempre. Apesar de a
expressão sorridente de Angus ter me deixado ainda mais apreensiva, coloquei-me
no modo piloto automático que me ajudaria a superar o restante daquele dia.
O expediente passou numa espécie de estupor. Trabalhei bastante e me
concentrei no que precisava fazer, uma forma de impedir que acabasse enlouquecendo.
Mas meu coração não estava lá. Passei a hora do almoço perambulando
pelas ruas, incapaz de pensar em comer ou conversar com quem quer que
fosse. Quando saí, pensei em faltar à aula de krav maga, mas acabei indo e me
dedicando da mesma forma que com o trabalho. Era preciso seguir em frente,
por mais desesperadores que fossem os rumos que as coisas estavam tomando.
“Hoje você está melhor”, comentou Parker durante uma pausa entre os exercícios.
“Ainda está distraída, mas está melhor.”
Concordei com a cabeça e limpei o rosto com a toalha. As aulas de Parker a
princípio eram apenas uma alternativa mais dinâmica às aulas de ginástica convencionais,
mas, depois da noite anterior, percebi que a defesa pessoal era muito
mais que um mero benefício adicional.
As tatuagens tribais que envolviam seus bíceps se encolheram quando ele
levou a garrafa de água à boca. Como Parker era canhoto, sua aliança saltou aos
meus olhos nesse momento. Lembrei-me do meu anel de compromisso na mão
direita e olhei para ele. Recordei o momento em que Joseph me presenteou com
aquele anel, dizendo que as cruzes incrustadas de diamantes ao redor da joia
representavam nossos dedos entrelaçados. Imaginei se ele ainda pensava assim.
Nesse caso, eu ainda estava disposta a tentar. E muito.
“Pronta?”, perguntou Parker, descartando a garrafa na lata de lixo
reciclável.
“Até demais.”
Ele sorriu. “Agora sim.”
Parker ainda levava a melhor sobre mim no corpo a corpo, mas não por
falta de esforço da minha parte. Eu me dediquei a cada minuto, descarregando
minhas frustrações de maneira saudável, através de exercícios físicos intensos.
As poucas vezes em que superei meu instrutor me deram força para tentar lutar
com o mesmo afinco pelo meu namoro tão tumultuado. Estava disposta a investir
tempo e esforço para ficar com Joseph, para fortalecer a mim mesma e conseguir
superar as nossas dificuldades. E era isso o que eu ia dizer para ele.
Quando a aula terminou, tomei um banho, despedi-me dos colegas, saí
porta afora e encontrei um início de noite ainda bem quente. Clancy já estava à
minha espera, encostado no carro, mas só um imbecil imaginaria que ele estava
ali de bobeira. Apesar do calor, ele estava de paletó, escondendo a arma pendurada
na cintura.
“Como estão indo as aulas?” Clancy se endireitou e abriu a porta para mim.
Desde que o conhecia, ele mantinha seus cabelos loiros escuros em um corte
militar, aprofundando ainda mais a impressão de ser um homem sério e
circunspecto.
“Estou me esforçando.” Instalei-me no banco de trás e pedi que me levasse
à casa de Joseph. Eu tinha a minha própria chave, e planejava usá-la.
No caminho, fiquei curiosa para saber se Joseph havia de fato comparecido
à consulta com o dr. Petersen ou se tinha cancelado. Ele só concordou em
fazer terapia por minha causa. Se tivesse desistido definitivamente de mim, poderia
não ver mais motivo para continuar.
Passei pelo sóbrio e elegante saguão do prédio e me identifiquei na portaria.
Apenas quando estava no elevador privativo comecei a ficar nervosa de verdade.
Ele havia me incluído entre as pessoas com acesso ao apartamento algumas
semanas antes, um gesto com um significado muito especial, já que a casa
de Joseph era seu santuário, um lugar onde as visitas eram presença raríssima.
Eu era a primeira mulher a dormir com ele ali, e a única pessoa a ter a chave do
apartamento além dos empregados. No dia anterior, tinha a certeza de ser bem
recebida, mas naquele momento...
Saí do elevador para um pequeno hall com piso de pedra branco e preto e
uma mesinha antiga com um arranjo de lírios brancos. Antes de abrir a porta,
respirei bem fundo, reunindo forças para me preparar para quando o encontrasse.
Na vez anterior em que havia me atacado durante o sono, ele havia ficado
arrasado. Era impossível não temer as consequências da repetição daquele fato.
Eu estava morrendo de medo de que a parassonia fosse o motivo que acabaria
nos separando.
Assim que entrei no apartamento, porém, percebi que ele não estava em
casa. A energia que preenchia aquele espaço quando Joseph estava lá era bem
diferente.
Os sensores acionaram as luzes quando entrei na luxuosa sala, e fiz um esforço
para tentar me sentir em casa. Meu quarto ficava logo ali, depois de um
corredor, e foi para lá que me dirigi, parando um pouco na porta para digerir
melhor o fato de que era uma reprodução exata do quarto no meu apartamento.
Era uma réplica perfeita, da cor das paredes às roupas de cama, mas sua existência
ali era um tanto perturbadora.
Joseph o havia criado como um quarto de segurança para mim, um espaço
ao qual eu pudesse recorrer sem me afastar dele quando precisasse ficar sozinha.
Era o que eu estava fazendo naquele momento, de certa forma, mantendome
por perto, mas no meu próprio espaço.
Deixei minha bolsa e a mala da ginástica sobre a cama, tomei um banho e
vesti uma das camisetas das Indústrias Jonas que ele havia separado para mim.
Tentei não ficar pensando no motivo de ele não estar em casa. Tinha acabado de
pegar uma taça de vinho e de ligar a televisão da sala quando meu celular tocou.
“Alô?”, atendi, perguntando-me se conhecia o número no identificador de
chamadas.
“Demetria? É Shawna.”
“Ah, oi, Shawna.” Tentei não parecer muito decepcionada.
“Você pode falar ou quer que eu ligue outra hora?”
Olhei para a tela do celular e percebi que eram quase nove horas. O ciúme
se misturou à preocupação. Onde ele podia estar? “Posso falar, sim. Estou à toa,
vendo tevê.”
“Desculpa não ter atendido ontem quando você ligou. Sei que é um convite
meio repentino, mas queria saber se você está a fim de ir comigo no show do
Six-Ninths na sexta.”
“No show de quem?”
“Six-Ninths. Você nunca ouviu falar? É uma banda indie. Bom, pelo menos
era, até o ano passado. Conheço os caras há um bom tempo, ajudei na divulgação
deles no começo, então ganhei uns ingressos. E é aquela coisa, todo
mundo que conheço só gosta de hip-hop e dance. Não diria que você é minha última
esperança, mas... você é minha última esperança. Me diz que gosta de rock
alternativo, vai.”
“Eu gosto de rock alternativo.” Ouvi um bipe no telefone. Uma nova chamada.
Quando vi que era Cary, deixei cair na caixa de mensagem. A conversa
com Shawna não seria das mais longas, eu poderia ligar para ele logo em
seguida.
“Bem que eu imaginei!” Ela riu. “Tenho quatro ingressos, então se você
quiser levar alguém... A gente pode se encontrar às seis e sair pra comer alguma
coisa. O show começa às nove.”
Joseph chegou no exato instante em que respondi: “Está combinado”.
Ele passou pela porta com o paletó pendurado no braço, o primeiro botão
da camisa aberto e uma pasta na mão. Sua máscara estava lá, impedindo que suas emoções transparecessem ao me ver deitada em seu sofá, usando sua camiseta,
com uma taça de vinho sobre sua mesa de centro e sua televisão ligada. Ele
me olhou de cima a baixo, mas seus lindos olhos não diziam nada. Comecei a me
sentir desconfortável, como se não fosse bem-vinda.
“Depois te falo sobre o ingresso extra”, eu disse para Shawna, sentando-me
lentamente para não ter que encará-lo. “Obrigada por se lembrar de mim.”
“Estou feliz por você ter aceitado o convite! A gente vai se divertir muito.”
Combinamos de conversar no dia seguinte e desliguei. Nesse meio-tempo,
Joseph havia posto a pasta no chão e largado o paletó em uma das poltronas em
volta da mesa de vidro.
“Faz tempo que você está aqui?”, perguntou, afrouxando ainda mais o nó
da gravata.
Fiquei de pé. Estava com as mãos suadas, morrendo de medo de que ele
me mandasse embora. “Não muito.”
“Já comeu?”
Sacudi a cabeça. Não tinha conseguido comer direito o dia inteiro. Só
sobrevivi à aula com Parker graças a uma vitamina que havia tomado na hora do
almoço.
“Peça alguma coisa.” Ele passou por mim na direção do corredor. “Os
cardápios estão na cozinha, na gaveta ao lado da geladeira. Vou tomar um banho
rápido.”
“Você vai querer comer também?”, perguntei para as costas dele.
Joseph não parou para responder. “Vou. Ainda não comi.”
No fim, decidi pedir uma sopa de tomate e baguetes fresquinhas de um
lugar ali perto, algo que meu estômago não teria dificuldades para digerir, mas
meu celular tocou de novo.
“Oi, Cary”, atendi, sentindo um desejo de estar em casa com ele, e não à
beira de um rompimento doloroso.
“Oi. Jonas acabou de passar aqui procurando por você. Mandei ele ir para o
inferno e não voltar nunca mais.”
“Cary.” Suspirei. Não era culpa dele — eu faria a mesma coisa para
protegê-lo. “Obrigada por me avisar.”
“Onde você está?”
“Na casa dele. Joseph acabou de chegar. Mas devo ir embora daqui a
pouco.”
“Você vai dar um pé na bunda dele?”
“Acho que quem vai fazer isso é ele.”
Cary soltou o ar com força. “Sei que não é isso que você quer, mas é a melhor
coisa que poderia acontecer. Você precisa ligar para o doutor Travis o
quanto antes. Conversar com ele. Pôr as coisas nos seus devidos lugares.”
Tive que engolir em seco, apesar do nó na garganta. “Eu... Talvez.”
“Está tudo bem?”
“Pelo menos tudo vai terminar com uma conversa cara a cara, de uma
forma civilizada. Já é alguma coisa.”
O celular foi arrancado da minha mão.
Joseph não tirou os olhos de mim enquanto dizia “Tchau, Cary”, desligava
o telefone e o deixava sobre o balcão. Seus cabelos ainda estavam molhados, e
ele vestia uma calça de pijama preta de cintura baixa. Fiquei abalada ao olhar
para ele, o que me fez lembrar tudo o que tinha a perder quando não estivéssemos
mais juntos — a ansiedade e o desejo de tirar o fôlego, o carinho e a intimidade,
aquela sensação efêmera de que éramos perfeitos um para o outro e que
fazia tudo valer a pena.
“Com quem você vai sair?”, ele perguntou.
“Hã? Ah, com Shawna, cunhada de Mark. Ela tem ingressos sobrando pra
um show na sexta-feira.”
“Já decidiu o que quer comer?”
Fiz que sim com a cabeça, puxando para baixo a bainha da camiseta, envergonhada
por estar com tão pouca roupa.
“Me dê uma taça disso aí que você está bebendo.” Ele estendeu o braço por
trás de mim e apanhou o cardápio que eu tinha deixado sobre o balcão. “Pode
deixar que eu peço. O que você quer?”
Foi um alívio sair de perto dele para ir pegar a taça. “Sopa. E pão fresco.”
Tirei a rolha da garrafa e servi o merlot que havia aberto pouco antes.
Joseph ligou para a delicatéssen e começou a fazer o pedido com sua voz firme e
rouca que eu adorava desde a primeira vez que tinha ouvido. Ele pediu sopa de
tomate, o que me fez sentir mais um aperto no peito. Sem que nada fosse dito,
Joseph havia pedido o que eu queria. Era mais uma daquelas pequenas coisas
que sempre me faziam sentir que éramos feitos um para o outro, que estávamos
destinados a ficar juntos para sempre se conseguíssemos acertar nossos
ponteiros.
Entreguei a taça a ele e o observei dar o primeiro gole. Ele parecia cansado,
o que me fez pensar que não havia dormido depois do acontecido, assim como
eu.
Joseph baixou a taça e lambeu os resquícios de vinho em seus lábios. “Passei
na sua casa pra falar com você. Cary deve ter dito.”
Passei a mão sobre o peito para aliviar uma pontada de dor. “Desculpe...
Sobre isto aqui e...” Apontei para a roupa que estava usando. “Que droga. Eu não
estava preparada pra isto.”
Ele se encostou no balcão e cruzou os tornozelos. “Como assim?”
“Pensei que você estivesse em casa. Eu devia ter ligado primeiro. Quando
vi que não estava, devia ter esperado você chegar em vez de ir me instalando.”
Esfreguei os olhos, que estavam ardendo. “Eu... não sei direito o que está
acontecendo. Estou confusa.”
Ele inspirou profundamente, fazendo seu peito se expandir. “Se você está
esperando que eu termine com você, nem espere mais.”
Apoiei-me sobre a pia da cozinha para não perder o equilíbrio. Será que
tudo estava indo por água abaixo mesmo?
“Não consigo fazer isso”, ele disse sem rodeios. “Não consigo nem dizer
que você já conhece o caminho da rua, se veio aqui para terminar comigo.”
O quê? Franzi o rosto, confusa. “Você deixou sua chave na minha casa.”
“E agora quero de volta.”
“Joseph.” Fechei os olhos, e as lágrimas correram pelo meu rosto. “Você é
um idiota.”
Virei as costas e tomei o caminho do meu quarto com passadas um tanto
inseguras e cambaleantes, mas que tinham pouca relação com a quantidade de
vinho que eu havia bebido.
Quando abri a porta do quarto, fui agarrada pelo cotovelo.
“Não vou entrar aí”, ele disse asperamente, bem perto do meu ouvido.
“Prometi a você. Só vou pedir pra você ficar, conversar comigo. Ou pelo menos
me ouvir. Você veio até aqui...”
“Tenho uma coisa pra você.” Essas palavras saíram da minha garganta a
muito custo.
Ele me soltou, e eu corri até minha bolsa. Quando me virei para ele, perguntei:
“Quando você deixou sua chave no balcão, estava pensando em terminar
comigo?”.
Ele ficou parado na porta. Seus braços estavam abertos e seus dedos agarravam
os batentes, como se estivesse fazendo força para não entrar. Era uma
posição que revelava seu corpo de maneira magnífica, definindo o contorno de
cada músculo, deixando o elástico de sua calça pendurado por um fio sobre os
quadris. Eu o desejava com todas as forças que tinha.
“Eu não estava pensando no longo prazo”, ele esclareceu. “Só queria que
você se sentisse segura.”
Apertei com força o objeto que estava segurando nas mãos. “Você partiu
meu coração, Joseph. Nem imagina o que senti quando vi aquela chave largada
ali. O quanto aquilo me magoou. Você não faz ideia.”
Ele fechou os olhos lentamente e baixou a cabeça. “Eu não sabia o que
pensar. Achei que estava tomando a única atitude possível diante...”
“Pode parar com essa conversa. Não venha me falar de cavalheirismo ou de
qualquer outro nome que você dê pra essa merda toda.” Levantei a voz. “Vou te
dizer uma coisa, uma coisa muito séria, mais séria do que tudo que já disse
antes: se você me devolver essa chave de novo, está tudo acabado entre nós. É
fim de papo. Entendeu bem?”
“Entendi, claro. Só não sei se você tem certeza do que está falando.”
Soltei um suspiro trêmulo e fui até ele. “Me dê sua mão.”
A mão esquerda dele continuou agarrada ao batente, mas a direita veio em
minha direção.
“Na verdade, nunca te dei a chave da minha casa, você simplesmente
pegou.” Deixei meu presente na palma da mão dele. “Agora estou dando.”
Dei um passo atrás e o observei enquanto ele olhava para o chaveiro reluzente
com a chave do meu apartamento. Foi a melhor maneira que encontrei
para mostrar a ele que estava me entregando de corpo e alma, por livre e espontânea
vontade.
Joseph cerrou o punho, apertando o presente com força. Depois de longos
segundos de espera, olhou para mim com o rosto molhado de lágrimas.
“Não”, sussurrei, com o coração ainda mais apertado. Peguei seu rosto
entre as mãos, limpando suas bochechas com os polegares. “Por favor... não.”
Ele me abraçou e colou seus lábios aos meus. “Não sei como fazer isso.”
“Shh.”
“Só vou magoar você. Já estou magoando. Você merece coisa melhor...”
“Quieto, Joseph.” Agarrei-me e a ele e enlacei sua cintura com as pernas.
“Cary disse que você estava...” Seu corpo começou a tremer violentamente.
“Não sei se está se dando conta do que eu estou fazendo com você. Estou
acabando com sua vida, Demetria...”
“Não é nada disso.”
Ele se ajoelhou no chão e me apertou com força. “A culpa é toda minha.
Você sabia desde o começo, mas agora está se negando a acreditar... Você sabia
que não deveria se envolver comigo, mas não deixei você fugir.”
“Não estou mais fugindo. Estou mais forte agora. Você me tornou uma
pessoa mais forte.”
“Meu Deus.” O desespero em seus olhos era visível. Ele sentou, esticou as
pernas e me puxou para mais perto. “Já temos traumas demais, e eu faço tudo
errado. Vamos acabar nos matando desse jeito. Destruindo um ao outro até não
sobrar mais nada.”
“Cala a boca. Não quero ouvir nem mais uma palavra desse papinho de
merda. Você foi ver o doutor Petersen?”
Ele apoiou a cabeça na parede e fechou os olhos. “Claro que fui.”
“Contou pra ele sobre ontem à noite?”
“Contei.” Joseph cerrou os dentes. “E ele disse a mesma coisa da semana
passada. Que estamos envolvidos demais. Acha que precisamos de um tempo, ir
mais devagar, dormir cada um na sua casa, passar mais tempo com outras pessoas
e menos tempo sozinhos.”
Seria o melhor a fazer. Melhor para nossa saúde mental, melhor para
nosso relacionamento. “Espero que ele tenha um plano B.”
Joseph abriu os olhos e me encarou. “Foi isso que eu respondi. De novo.”
“E daí que a gente é traumatizado? Todos os relacionamentos têm
problemas.”
Ele deu uma risada irônica.
“Estou falando sério”, insisti.
“Mas não vamos dormir mais juntos. Isso é certo.”
“Em quartos separados ou cada um na sua casa?”
“Em quartos separados. Mais que isso não aguento.”
“Tudo bem.” Suspirei e deitei a cabeça no ombro dele, feliz por estar de
novo em seus braços, por estarmos juntos novamente. “Isso eu aceito. Por
enquanto.”
Joseph engoliu em seco. “Quando cheguei em casa e encontrei você aqui...”
Ele me abraçou com força. “Nossa, Demetria. Pensei que fosse mentira de Cary que
você não estava em casa, pensei que não quisesse me ver. Depois achei que você
tinha saído... que estava querendo me esquecer.”
“Não é assim tão fácil esquecer você, Joseph.” Eu nunca o esqueceria. Ele
era parte de mim. Endireitei-me para poder olhar em seus olhos.
Joseph pôs a mão sobre meu coração, a mão que segurava a chave.
“Obrigado.”
domingo, 20 de julho de 2014
Capítulo 13
Quando
fui trabalhar na segunda-feira, senti que as coisas enfim estavam voltando à
época pré-Corinne. Joseph e eu tínhamos que lidar com minha menstruação, algo
que nunca havia sido problema em nenhum dos nossos relacionamentos anteriores,
mas o sexo era nossa forma de expressar os sentimentos. Ele dizia com o corpo o
que não conseguia transformar em palavras, e meu desejo era uma forma de provar
que acreditava nele, algo indispensável para estabelecer a proximidade entre
nós.
Eu
podia dizer que o amava o quanto quisesse, e isso tinha lá seu efeito, mas
Joseph precisava da entrega total do meu corpo — uma prova de confiança com um
significado todo especial, por causa do meu passado — para acreditar de fato
nisso.
Como
ele me disse certa vez, não era a primeira vez que ouvia “Eu te amo”, mas, como
a frase nunca vinha acompanhada de uma demonstração de honestidade, confiança e
sinceridade, nunca havia sido levada a sério. Essas palavras não significavam
muita coisa para Joseph, e por isso ele se recusava a dizê-las. Era uma coisa
da qual teria que abrir mão para ficar com ele.
“Bom
dia, Demetria.”
Sentada
à minha mesa, olhei para cima e vi Mark de pé ao meu lado. Ver seu sorriso
ligeiramente torto era sempre uma alegria para mim. “Oi. Estou pronta pra
começar quando você quiser.”
“Primeiro
um café. Você quer?”
Peguei
minha caneca vazia de cima da mesa e fiquei de pé. “Pode apostar.”
Fomos
para a máquina.
“Você
está toda bronzeada”, comentou Mark, olhando para mim.
“Pois
é, tomei um solzinho no fim de semana. Foi legal ficar à toa, sem fazer nada.
Aliás, é uma das coisas que mais gosto de fazer.”
“Que
inveja. Steven não aguenta ficar muito tempo sem fazer nada. Está sempre me
arrastando pra algum lugar pra fazer alguma coisa.”
“O
amigo que mora comigo é igualzinho. Fico cansada só de vê-lo sempre correndo de
um lado para o outro.”
“Ah,
antes que eu me esqueça.” Ele fez um gesto para que eu entrasse primeiro.
“Shawna pediu pra você ligar. Ela tem ingressos para um show de uma dessas
bandas novas de rock e perguntou se você não gostaria de ir.”
Lembrei-me da garçonete ruiva bonita que
conhecera na semana anterior. Era irmã de Steven, o companheiro de longa data
de Mark. Os dois se conheceram
na faculdade e estavam juntos desde então. Eu adorava Steven. E tinha quase certeza de que
adoraria Shawna também.
“Tudo bem se eu sair
com ela?”, fui obrigada a perguntar, já que era a cunhada
do meu chefe.
“Claro. Não esquenta.
Não tem problema.”
“Legal.” Sorri e
desejei que ela logo se tornasse mais uma aquisição para minha lista de amigas
em Nova York. “Valeu.”
“Agradeça com um café”,
ele disse, pegando um copo da pilha e entregando para mim. “O seu sempre fica
melhor que o meu.”
Lancei um olhar um
tanto incrédulo para ele. “Meu pai sempre diz isso.”
“Então deve ser
verdade.”
“Deve ser um golpe
masculino”, rebati. “E como é que você e Steven dividem
a tarefa de fazer o
café?”
“Não precisamos fazer
isso.” Ele sorriu. “Tem um Starbucks na esquina de
casa.”
“Tenho certeza de que
existe uma boa explicação pra chamar isso de golpe, mas meu nível de cafeína
ainda está baixo demais para pensar a respeito.” Entreguei um copo cheio para
ele. “O que provavelmente é um bom motivo pra não mencionar a ideia que acabei
de ter.”
“Pode falar. Se for
muito ruim, posso usar isso contra você para sempre.”
“Puxa. Valeu.”
Segurei minha caneca com as duas mãos. “Não seria melhor tentar vender o tal
café com sabor de blueberry como se fosse um chá? Sabe como é, numa xícara de
porcelana chique, com pires e um potinho de creme ao fundo? Para dar uma ideia
de coisa sofisticada, tipo chá das cinco? Com um cara lindo e meio britânico
dando um golinho?”
Mark contorceu um
pouco os lábios enquanto pensava. “Acho que gostei da ideia. Vamos falar com o
pessoal da criação.”
“Por que você não me
contou que ia para Las Vegas?”
Suspirei em silêncio
ao ouvir a voz aguda e irritadiça da minha mãe e posicionei melhor o telefone
no ouvido. Mal tinha posto a bunda na cadeira quando ele tocou. Desconfiei que,
se pegasse meus recados, ia encontrar um ou dois dela. Minha mãe é o tipo de
pessoa que, quando fica preocupada, não descansa
enquanto não receber
notícias.
“Oi, mãe. Desculpe.
Eu ia te ligar na hora do almoço e contar tudo.”
“Adoro Las Vegas.”
“É mesmo?” Pensei que
ela detestasse qualquer coisa relacionada a jogatina.
“Não sabia.”
“Pois saberia, se me
perguntasse.”
Havia um tom de
queixa e mágoa na voz sussurrada dela que me fez estremecer.
“Desculpe, mãe”, eu
disse mais uma vez, pois desde criança tinha aprendido que pedir desculpas
sempre funcionava com ela. “Eu precisava passar um tempo sozinha com Cary. Mas
a gente pode marcar uma viagem para Vegas qualquer dia, se você estiver a fim.”
“Não seria divertido?
Eu bem que gostaria que passássemos um tempo juntas, Demetria.”
“Eu também gostaria.”
Olhei para a foto dela e de Stanton que havia na minha mesa. Ela era linda, uma
mulher que irradiava um tipo de sensualidade vulnerável que parecia
irresistível aos homens. Sua vulnerabilidade não era uma coisa fingida — minha
mãe era uma pessoa frágil em diversos sentidos —, mas ela sabia muito bem
conseguir o que queria. Os homens não se aproveitavam
dela; era ela que
tirava o que queria deles.
“Você já tem planos
para o almoço? Posso fazer uma reserva em algum lugar e passar aí para pegar
você.”
“Tudo bem se eu levar
uma colega?” Megumi havia me chamado para almoçar quando cheguei, prometendo
contar tudo sobre seu encontro às escuras.
“Ah, eu adoraria conhecer seus colegas de
trabalho!”
Abri um sorriso de
afeto genuíno. Minha mãe era capaz de me enlouquecer, mas no fim das contas seu
único defeito era me amar demais — uma característica que, combinada à sua
neurose, era absurdamente irritante, porém motivada pela melhor das intenções. “Certo.
Você pode passar aqui ao meio-dia. E a gente só tem uma hora de almoço, então
tem que ser uma coisa rápida em um
lugar não muito longe
daqui.”
“Pode deixar que eu cuido de tudo. Estou tão
animada! Até daqui a pouco.”
Minha amiga e minha
mãe se deram muito bem. Reconheci no rosto de Megumi o olhar de deslumbramento
que havia visto tantas vezes ser despertado
por ela ao longo dos anos. Monica Stanton era uma mulher lindíssima, o
tipo de beldade clássica que deixa todos embasbacados por encarnar um ideal de
perfeição.
Além disso, a
poltrona roxa que ela havia escolhido para sentar era a ideal para realçar a
beleza de seus cabelos loiros e seus olhos azuis.
Já minha mãe ficou
encantada com o bom gosto que Megumi exibia ao se vestir. Enquanto eu pendia
mais para o trivial, privilegiando a praticidade, Megumi preferia se arriscar
nas cores e combinações, assim como a decoração do café localizado perto do Rockefeller
Center a que minha mãe nos levara.
O lugar me fez
lembrar de Alice no País das Maravilhas,
com os veludos em cores berrantes que revestiam a mobília de formatos exóticos.
A poltrona de Megumi tinha um encosto exageradamente curvado, e a da minha mãe
tinha gárgulas entalhadas nos pés.
“Fiquei pensando no
que ele tinha de errado”, Megumi ia dizendo. “Eu olhava e não entendia nada. Um
cara como aquele não tinha por que se rebaixar a topar um encontro com alguém
que nem conhecia.”
“Ele não estava se
rebaixando”, discordou minha mãe. “Com certeza estava pensando que tinha tirado
a sorte grande com você.”
“Obrigada!” Megumi
sorriu para mim. “Ele era um gato. Não chegava a ser um Joseph Jonas, mas era
um gato!”
“Aliás, como vai
Joseph?”
Não era uma
perguntinha inocente. Minha mãe sabia que eu tinha contado para Joseph do abuso
sexual que havia sofrido quando menina, e não gostou nem um pouco da ideia. Era
a coisa da qual ela mais se envergonhava na vida — ter ciência de que aquilo
aconteceu em sua própria casa —, e seu sentimento de culpa era terrível, apesar
de nem um pouco justo. Ela não ficara sabendo do que ocorria porque eu escondia
tudo. Nathan me fizera ameaças horrorosas, que me deixaram morrendo de medo de
abrir a boca. Ainda assim, minha mãe não se sentia confortável com o fato de Joseph
saber de tudo. Eu torcia para que em algum momento ela compreendesse que ele
também não a culpava pelo que havia acontecido.
“Ele anda trabalhando
bastante”, respondi. “Você sabe como é. Tomei bastante tempo dele no começo, e
agora está tendo que compensar isso.”
“Você vale a pena.”
Dei um gole na minha
água e senti uma vontade irrefreável de contar que meu pai ia me visitar. Ela
poderia ajudar a convencê-lo de que os sentimentos de Joseph por mim eram
verdadeiros, mas esse era um motivo egoísta demais para abrir a boca. Eu não
tinha como saber de que modo ela reagiria ao fato de Victor ir para Nova York,
mas era bem possível que ficasse aborrecida, o que tornaria a vida de todos um
inferno. Por alguma razão, minha mãe preferia não manter nenhum tipo de contato
com ele. Não havia como ignorar o fato de que, desde que eu crescera o
suficiente para me comunicar com meu pai sem precisar da ajuda dela, eles nunca
mais tinham se falado.
“Vi uma foto de Cary
num anúncio na lateral de um ônibus ontem”, ela
comentou.
“Sério?” Eu me
ajeitei na poltrona. “Onde?”
“Na Broadway. Era um
anúncio de jeans, acho.”
“Eu também vi”,
acrescentou Megumi. “Mas nem prestei atenção no que
estava vestindo.
Aquele homem é demais.”
A conversa me fez
sorrir. Minha mãe era uma admiradora da beleza masculina.
Era um dos motivos
por que os homens gostavam tanto dela — ela os fazia se sentir bem. E, quando
se tratava de expressar sua admiração por caras bonitos, Megumi também era uma
especialista.
“Ele está sendo
reconhecido na rua”, contei, feliz por ser em conseqüência dos anúncios, e não
de fotos ao meu lado nos tabloides. O mercado da fofoca considerava um material
de primeira a notícia de que a namorada de Joseph Jonas morava com um modelo
lindo de morrer.
“Mas é claro”, disse
minha mãe, com uma pontinha de reprovação. “E teria como ser diferente?”
“Sempre torci por
isso”, deixei bem claro. “Para o bem dele. É uma pena que o mercado de modelos
masculinos não seja tão grande.” Ainda assim, eu achava que Cary ia se dar
muito bem. Ou seria doloroso demais para ele. Cary dava tanto valor à sua
aparência que um fracasso nesse ramo provavelmente teria um efeito devastador.
Um dos meus maiores medos era que sua carreira se tornasse um fantasma com o
qual nenhum de nós fosse capaz de lidar.
Minha mãe sorveu mais
um pequeno gole de sua água San Pellegrino.
Aquele café era
especializado em pratos com cacau, mas ela sempre tomava o cuidado de não
ingerir todas as calorias diárias recomendadas em uma única refeição.
Já eu não tinha esse
cuidado. Pedi uma sopa, um sanduíche e uma sobremesa que me custaria uma boa
hora a mais de esteira. Desculpei-me pelo deslize com um lembrete mental de que
estava menstruada, o que para mim significava carta branca para o consumo de
chocolate.
“E então”, Monica
sorriu para Megumi, “você vai ver o rapaz do encontro às escuras de novo?”
“Espero que sim.”
“Querida, não dê
chance ao acaso!”
Quando minha mãe
começou a expor seus conhecimentos sobre como lidar com homens, eu me recostei
e apreciei o espetáculo. Ela era irredutível em sua crença de que toda mulher
merecia um homem rico para mimá-la e, pela primeira vez na vida, seus conselhos
não eram dirigidos a mim. Eu estava em
dúvida se meu pai e
Joseph iam se dar bem, mas com minha mãe essa preocupação não existia. Ambas
sabíamos que ele era o cara ideal para mim, apesar de acreditarmos nisso por
razões diferentes.
“Sua mãe é demais”,
comentou Megumi quando Monica foi até o banheiro se arrumar antes de sairmos. “E
você é muito parecida com ela, sua sortuda.
Imagina que estranho seria se a sua mãe fosse
mais bonita que você...”
Dei risada e disse: “Você
tem que sair com a gente mais vezes. Foi divertido”.
“Eu adoraria.”
Quando chegou a hora
de voltar ao trabalho, vi Clancy ao lado do carro estacionado no meio-fio e
decidi que seria melhor andar e queimar algumas calorias antes de voltar ao
trabalho. “Acho que vou a pé”, eu disse a elas. “Comi demais.
Vocês duas podem ir
sem mim.”
“Vou com você”, disse
Megumi. “Preciso de um pouco de ar fresco. O ar
condicionado do
escritório resseca demais a minha pele.”
“Eu vou também”,
disse minha mãe.
Dei uma olhada
desconfiada para os sapatos dela, mas logo lembrei que minha mãe não usava nada
além de salto alto. Para ela, caminhar com aquele tipo de calçado era a mesma
coisa que andar de tênis para mim.
Dei uma olhada
desconfiada para os sapatos dela, mas logo lembrei que minha mãe não usava nada
além de salto alto. Para ela, caminhar com aquele tipo de calçado era a mesma
coisa que andar de tênis para mim.
Voltamos ao Crossfire
no ritmo habitual de caminhada em Manhattan, ou seja, em passadas largas e
decididas. Apesar de os obstáculos representados pelas pessoas que vinham em
sentido contrário nunca deixarem de ser um problema, tudo se tornou mais fácil
com minha mãe abrindo caminho. Os homens
davam passagem a ela
com todo o prazer, para depois acompanhá-la com o olhar.
Com seu vestidinho
azul simples e sexy, ela parecia fresca e tranquila em meio ao calor e à
umidade.
Quase na esquina do
Crossfire, ela parou de maneira tão repentina que Megumi e eu batemos nela.
Minha mãe se desequilibrou e foi lançada para a frente. Foi por muito pouco que
consegui agarrá-la pelo cotovelo e impedir que caísse.
Olhei para o chão à
procura do motivo por que ela havia parado, mas não
encontrei, e olhei em
seu rosto. Ela observava o Crossfire, perplexa.
“Meu Deus, mãe”, eu a
afastei do fluxo de pedestres. “Você está branca. É
por causa do calor?
Está passando mal?”
“Quê?” Ela pôs a mão
sobre a garganta. Seus olhos continuavam vidrados
no prédio.
Virei a cabeça para tentar descobrir o que a
estava deixando naquele
estado.
“O que foi que vocês viram?”, perguntou
Megumi, franzindo a testa.
“Senhora Stanton.” Clancy se aproximou, abandonando
o carro com o qual nos seguia a uma distância discreta porém segura. “Está tudo
bem?”
“Você viu...?”, ela esboçou uma pergunta,
virando-se para ele.
“Viu o quê?”, eu quis saber, enquanto ele
percorria a rua com seus olhos
treinados. A expressão implacável de seu rosto
me deu um frio na espinha.
“Levo
vocês até lá”, ele disse.
A entrada do Crossfire era
literalmente do outro lado da rua, mas o tom de
voz de Clancy não dava
margem a questionamentos. Nós entramos, e minha
mãe se sentou no banco da
frente.
“O que aconteceu?”, Megumi
perguntou depois que saímos do carro, já no interior refrigerado do edifício. “Parecia
que sua mãe tinha visto um fantasma.”
“Não faço a menor ideia”,
eu disse, sentindo-me muito mal.
Alguma coisa havia deixado
minha mãe com medo. Eu enlouqueceria se
não descobrisse o que era.
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