sexta-feira, 4 de julho de 2014

Capítulo 5

Saquei meu telefone, liguei a câmera e tirei uma foto. Com a aproximação do zoom, pude ver que ela estava retocando o batom, que estava meio borrado.
Na verdade, completamente borrado. Como depois de um beijo apaixonado. O semáforo ficou verde. Megumi e eu seguimos a multidão, chegando cada vez mais perto da mulher com quem no passado Joseph prometera se casar. Angus desceu do Bentley, foi até ela e disse algumas poucas palavras antes de abrir a porta para que entrasse. A sensação de estar sendo traída — por Angus e por Joseph — era tão intensa que perdi o ar. Minhas pernas fraquejaram.
“Ei!” Megumi me pegou pelo braço e me ajudou a me equilibrar. “Aquelas margaritas nem tinham álcool! Que fracote!”
Vi a silhueta elegante de Corinne se instalar no assento traseiro do carro de Joseph com uma elegância toda ensaiada. Cerrei os punhos, e a raiva tomou conta de mim. Com os olhos nublados pelas lágrimas de ódio, vi o Bentley se afastar do meio-fio e desaparecer na cidade.
Quando Megumi e eu entramos no elevador, apertei o botão do último andar.
“Se alguém perguntar, volto em cinco minutos”, avisei quando ela entrou no hall da Waters Field & Leaman.
“Dá um beijo nele por mim, tá bom?”, ela disse enquanto fingia se abanar com as mãos.reagiria no seu lugar.”
Consegui abrir um sorrisinho antes que as portas se fechassem e o elevador continuasse a subir. Quando chegou ao último andar, dei um passo à frente e me vi em um hall com uma decoração de muito bom gosto, inegavelmente masculina. Nas paredes de vidro opaco lia-se a inscrição INDÚSTRIAS Jonas,
uma visão amenizada pela presença de vasos de samambaias e lírios.
A recepcionista de Joseph, uma ruivinha que não costumava ser muito simpática comigo, liberou o acesso antes que eu chegasse à porta e deu um sorriso
amarelo que me irritou ainda mais. Sempre tive a impressão de que ela não gostava de mim, então não acreditei na sinceridade daquele sorriso nem por um
segundo. Ainda assim, acenei e disse “oi”. Afinal, eu não fazia o tipo barraqueira — a não ser que tivesse um bom motivo para isso.
Entrei no longo corredor que levava ao escritório de Joseph, passando antes por uma segunda recepção, onde Scott, seu secretário, controlava o acesso
à sua sala.
Ele ficou de pé quando cheguei. “Oi, Demetria”, cumprimentou, já apanhando o telefone. “Vou avisar que está aqui.”
A parede de vidro que separava o escritório de Joseph do restante do andar era transparente, mas ele podia torná-la opaca ao toque de um botão.
Naquele momento estava assim, o que fez crescer ainda mais minha inquietação.
“Ele está sozinho?”
“Sim, mas...”
Parei de prestar atenção ao que ele dizia quando atravessei a porta de vidro e adentrei os domínios de Joseph. Era uma sala enorme, com três ambientes
diferentes, cada um deles maior que o escritório inteiro do meu chefe. Ao contrário de seu apartamento, que tinha uma elegância aconchegante, seu escritório era decorado com uma paleta de cores frias — preto, cinza e branco —, quebrada apenas pela presença dos decanters de cristal colorido que decoravam a parede atrás do balcão do bar.
Pelas janelas que ocupavam três das quatro paredes, era possível ver os dois lados da cidade. A única parede sólida ficava atrás de sua enorme mesa, e era coberta de monitores sintonizados em canais de notícias do mundo inteiro.
Percorri a sala com os olhos e encontrei uma almofada caída no chão. Além disso, havia rugas no tapete, o que mostrava que o sofá havia sido deslocado de
seu local de costume — na verdade, parecia ter sido arrastado aos solavancos.
Meu coração acelerou, e senti minhas mãos começarem a suar. A terrível ansiedade que vinha sentindo até então se intensificou.
Só percebi que a porta do banheiro estava aberta quando Joseph apareceu, deixando-me sem fôlego com a beleza de seu tronco nu. Seus cabelos estavam molhados, como se tivesse acabado de sair do chuveiro, e seu pescoço e seu peito estavam vermelhos, o que indicava que ele havia feito uma boa dose de esforço físico.
Joseph ficou paralisado quando me viu, e seu olhar perdeu o brilho por um instante enquanto assumia a expressão perfeita e implacável que costumava demonstrar em público.
“Não é uma boa hora, Demetria”, ele disse, vestindo a camisa que estava pendurada em uma banqueta do bar... uma camisa diferente daquela que tinha vestido de manhã. “Estou atrasado pra uma reunião.”
Agarrei minha bolsa com força. Ser exposta a seu corpo me fez lembrar do tamanho do meu desejo por ele. Eu o amava enlouquecidamente, precisava da sua companhia como precisava respirar... o que tornava mais fácil entender
como Magdalene e Corinne se sentiam, e perceber que fariam qualquer coisa para tirá-lo de mim. “Por que você não está vestido?”
Não havia como evitar aquela pergunta. Meu corpo reagia instintivamente à visão, o que tornava ainda mais difícil conter minhas emoções. Sua camisa aberta e bem passada revelava a pele dourada que revestia seu abdome musculoso e seu peitoral perfeitamente definido. Os pelos de seu peito estreitavam à medida que desciam pelo corpo, indicando o caminho para seu pau, que naquele
momento estava escondido debaixo da calça e da cueca boxer. Só de pensar nele dentro de mim, fiquei louca de vontade.
“Sujei a camisa.” Joseph começou a se recompor, e vi seu abdome se flexionar enquanto ele se inclinava sobre o balcão do bar, onde estavam suas abotoaduras. “Preciso ir. Se precisar de alguma coisa, fale com Scott que ele resolve. Ou então espere até eu voltar. Não devo demorar mais de duas horas.”
“Por que você está atrasado?”
Ele não olhou para mim para responder: “Tive que marcar uma reunião de última hora”.
Como assim? “Você tomou banho de manhã.” Depois de fazer amor comigo durante uma hora. “Por que precisou tomar outro?”
“Por que o interrogatório?”, ele reagiu.
Eu precisava de respostas, então fui até o banheiro. A umidade lá dentro era opressiva. Ignorando a voz na minha cabeça dizendo para não buscar problemas com os quais não seria capaz de lidar, procurei sua camisa no cesto de
roupas sujas... e vi o batom vermelho estampado como uma mancha de sangue
em um dos punhos. Senti uma dor opressiva no peito.
Larguei a camisa no chão, dei meia-volta e saí. Precisava ficar o mais longe
possível de Joseph. Antes que eu vomitasse ou começasse a chorar.
“Demetria!”, ele gritou quando passei por ele. “O que foi que deu em você?”
“Vai se foder, seu filho da puta.”
“Como é?”
Minha mão já estava na maçaneta da porta quando ele me alcançou e me puxou pelo cotovelo. Eu me virei e dei um tapa na cara dele com força suficiente para virar sua cabeça e deixar a palma da minha mão ardendo.
“Puta que o pariu”, ele grunhiu antes de me agarrar pelos braços e começar a me sacudir. “Nunca mais faça isso!”
“Tira a mão de mim!” A sensação do toque de suas mãos na minha pele era mais do que eu podia suportar.
Ele deu alguns passos para trás e se afastou. “Que porra é essa?”
“Eu vi que ela estava aqui, Joseph.”
“Quem estava aqui?”
“Corinne!”
Ele franziu a testa. “Do que você está falando?”
Saquei meu celular e esfreguei a foto na cara dele. “Tenho provas.”
Os olhos de Joseph se estreitaram quando ele viu o que estava na tela, e sua testa voltou ao normal. “Provas de que, exatamente?”, ele perguntou com calma até demais.
“Ah, vai à merda.” Eu me virei para a porta e joguei o telefone dentro da bolsa. “Não vou te dar essa satisfação.”
Ele espalmou a mão contra o vidro, mantendo a porta fechada, cercou-me com o corpo e se agachou para murmurar no meu ouvido. “Vai, sim. Você vai me
dizer exatamente o que está acontecendo.”
Fechei os olhos e me dei conta de que aquela posição me lembrava da primeira vez em que estivera ali. Ele me encurralara daquela mesma maneira, seduzindo-me com maestria, o que nos levara a uma sessão de beijos apaixonados naquele mesmo sofá que estava fora de sua posição habitual.
“Uma imagem não vale mais do que mil palavras?”, eu disse entre os dentes.
“Então quer dizer que Corinne andou beijando alguém. O que isso tem a ver comigo?”
“Você está de brincadeira? Me deixa sair.”
“Não estou achando a menor graça nisso. Na verdade, nunca fiquei tão puto com uma mulher antes. Você chega aqui fazendo um monte de acusações sem pé nem cabeça, sem a menor razão...”
“Com toda a razão!” Eu me virei e me agachei para passar debaixo do braço dele, estabelecendo uma distância entre nós. Ficar perto dele era doloroso demais. “Eu nunca trairia você! Se quisesse trepar com outras pessoas, terminaria
primeiro!”
Joseph se apoiou na porta e cruzou os braços. Sua camisa estava para fora da calça, aberta no colarinho. O visual era tentador, o que só me deixou ainda mais irada.
“Você está achando que eu te traí?”, ele perguntou num tom de voz duro e implacável.
Respirei profundamente para conseguir suportar o sofrimento que senti ao imaginar Corinne naquele sofá. “O que ela estava fazendo no Crossfire pra sair naquele estado? E por que seu escritório está nesse estado? E por que você está nesse estado?”
Ele olhou para o sofá, para a almofada no chão e depois para mim. “Não sei por que Corinne estava aqui, nem por que saiu naquele estado. Não falo com ela desde ontem à noite, quando você estava comigo.”
Aquela noite parecia distante na minha memória. Queria que tudo aquilo nunca tivesse acontecido.
“Mas você não estava comigo”, argumentei. “Ela fez um charminho e disse que queria te apresentar para alguém, e você me largou lá sozinha.”
“Ai, meu Deus.” Os olhos dele faiscavam. “Vai começar tudo de novo.”
Enxuguei com raiva uma lágrima que deslizou por meu rosto.
Ele bufou. “Você acha que fui com ela porque sou incapaz de resistir e estava morrendo de vontade de me livrar de você?”
“Não sei, Joseph. Foi você que me deu as costas. Você é que precisa dizer.”
“Você me deu as costas primeiro.”
Fiquei boquiaberta. “Eu não!”
“Não o cacete. Assim que a gente chegou, você sumiu. Tive que ficar te procurando feito um idiota. Quando encontrei, você estava dançando com aquele imbecil.”
“Martin é sobrinho de Stanton!” Como Richard Stanton era meu padrasto, eu considerava Martin um membro da família.
“Nem que ele fosse um padre. Ele quer comer você.”
“Ai, meu Deus. Que absurdo! Pode parar de mudar de assunto. Você estava falando de negócios com seus sócios. Eu estava totalmente perdida ali.”
“Perdida ou não, seu lugar é do meu lado.”
Joguei a cabeça para o lado como se ele tivesse me batido. “Como é que é?”
“Como você se sentiria se no meio de um evento da Waters Field & Leaman eu desaparecesse só porque o tema da conversa era uma campanha publicitária?
E, quando me encontrasse, eu estivesse dançando agarradinho com Magdalene?”
“Eu...” Hummm... Eu não tinha pensado daquela forma.
Joseph parecia tranquilo e inabalável com seu corpo imponente encostado à porta, mas dava para sentir a raiva pulsando sob aquela superfície impassível.
Ele estava sempre inquieto, e ainda mais quando fervilhava de paixão. “Meu lugar é ao seu lado, apoiando você, e às vezes só servindo de enfeite mesmo. É um direito, um dever e um privilégio, Demetria, e o mesmo vale pra você.”
“Pensei que estava fazendo um favor deixando você sozinho.”
Ele se limitou a arquear sarcasticamente as sobrancelhas em resposta.
Cruzei os braços. “É por isso que você saiu de braço dado com Corinne?Pra me castigar?”
“Se eu quisesse castigar você, Demetria, daria uns bons tapas na sua bunda.”
Estreitei os olhos. Nem pensar.
“Sei o que você está pensando”, ele disse, curto e grosso. “Não queria que você ficasse com ciúmes de Corinne antes que pudesse me explicar. Precisava ter certeza de que ela soubesse que a coisa entre nós é séria, e que eu gostaria muito que você tivesse uma noite agradável. Só por isso fui falar com ela.”
“Você pediu pra ela não dizer nada sobre a história de vocês, né? Pra não demonstrar nenhuma intimidade. Pena que Magdalene estragou tudo.”
Talvez tenha sido justamente isso que Corinne e Magdalene tinham planejado. Corinne conhecia Joseph bem o suficiente para antecipar suas reações; não teria sido muito difícil prever como ele se comportaria ao vê-la aparecer inesperadamente em Nova York. Isso lançou uma nova luz sobre o que Magdalene havia dito ao telefone
pouco antes. Ela e Corinne estavam conversando no Waldorf quando Joseph e eu as vimos. Duas mulheres que queriam um homem que estava com uma terceira.
Nada poderia acontecer enquanto eu estivesse na jogada, e e por isso não dava para descartar a hipótese de que estivessem trabalhando juntas.
“Eu queria que você ouvisse tudo da minha boca”, ele disse, resoluto.
Resolvi deixar esse assunto de lado e me concentrar no que estava acontecendo no momento. “Acabei de ver Corinne entrar no seu carro, Joseph. Pouco
antes de subir aqui.”
Ele fez uma expressão de surpresa. “É mesmo?”
“É. Você pode me explicar isso?”
“Não, não posso.”
A mágoa e a raiva tomaram conta de mim. Não suportava mais olhar para ele. “Então sai da minha frente. Preciso voltar ao trabalho.”
Ele não se moveu. “Queria esclarecer uma coisa antes: você acha mesmo que eu trepei com ela?”
Ouvi-lo dizer aquilo me deixou arrepiada. “Não sei no que acreditar. As provas mostram que...”
“Não interessa se as supostas provas incluírem uma imagem de nós dois pelados na cama.” Ele desencostou da porta e foi chegando mais perto com
tamanha naturalidade que dei um passo atrás, surpresa. “Quero saber se você acha que trepei com ela. Se acha que eu faria isso. Que eu seria capaz. Você acha?”
Comecei a bater o pé no chão, mas não recuei nem mais um passo. “Explique por que sua camisa está manchada de batom, Joseph.”
Ele cerrou os dentes. “Não.”
“Quê?” Aquela recusa tão convicta me deixou sem reação.
“Responda minha pergunta.”
Observei bem seu rosto e o que vi foi a máscara à qual ele recorria quando estava em público, mas que até então nunca havia usado comigo. Joseph estendeu
a mão como se fosse acariciar meu queixo com os dedos, mas desistiu no último momento. Naquele exato instante ouvi seus dentes rangerem, como se ele estivesse fazendo um grande esforço para não me tocar. Sofrendo como eu
estava, fiquei aliviada por isso.
Preciso que você me explique”, sussurrei, enquanto me perguntava se tinha visto mesmo uma expressão de desespero aparecer em seu rosto. Às vezes eu fazia tanta força para acreditar em algo que acabava me agarrando a qualquer coisa para ignorar a dolorosa realidade.
“Nunca dei motivo pra você duvidar de mim.”
“Está dando agora, Joseph.” Soltei o ar com força, desanimada. Derrotada.
Ele estava bem na minha frente, mas era como se estivéssemos a quilômetros de distância. “Entendo que você precise de um tempo pra conseguir se abrir completamente comigo e abordar coisas que são dolorosas. Também já me senti assim, sabendo que precisava contar o que havia acontecido comigo, mas sem me sentir pronta. É por isso que tento não apressar nada e nem arrancar nada de você. Mas o problema é que seu segredo está me magoando, e isso muda tudo.
Você não entende?”
Soltando um palavrão bem baixinho, ele segurou meu rosto com as mãos frias. “Faço de tudo pra que você não tenha motivos pra ter ciúmes, mas gosto quando isso acontece. Gosto que lute por mim. Gosto que se importe comigo a
esse ponto. Quero que seja louca por mim. Mas possessividade sem confiança é sinônimo de inferno. Se não confia em mim, não temos por que ficar juntos.”
“A confiança não é uma via de mão única, Joseph.”
Ele respirou fundo. “Não me olhe assim.”
“Estou tentando descobrir quem você é. Onde está aquele homem que disse sem mais nem menos que queria me comer? O homem que não hesitou em dizer que não desistiria de mim quando as coisas ficaram ruins entre nós? Pensei que você fosse sempre assim sincero. Estava contando com isso. Agora...” O nó na minha garganta não permitiu que eu dissesse mais nada.
Ele estreitou os lábios, mas ficou em silêncio.
Agarrei seus punhos e tirei suas mãos de cima de mim. Eu estava desmoronando por dentro. “Não vou fugir desta vez, não precisa vir atrás de mim. Acho que você precisa pensar um pouco.”
Saí da sala. Joseph não me impediu.

Um comentário:

  1. Posta mais um hj!!! Ai meu Deus, conta o segredo logo joeee eu e demi estamos curiosas

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