Passava um
pouco das seis da manhã quando saí do meu quarto. Estava
acordada
fazia algum tempo, vendo Joseph dormir. Era um prazer um tanto
raro, porque
eu quase nunca acordava antes dele. Naquele momento, podia
observá-lo à
vontade sem gerar nenhum constrangimento.
Caminhei
pelo corredor até chegar à sala grande e luxuosa do apartamento.
O fato de eu
e Cary morarmos em um imóvel amplo o bastante para abrigar
uma família
inteira no Upper West Side era um tanto ridículo, mas era impossível
tentar
argumentar com minha mãe e meu padrasto quando o assunto
era
segurança. Eles não aceitariam de jeito nenhum que eu morasse em outro
bairro, ou em um prédio sem
porteiro e segurança vinte e quatro horas por dia.
Se por um
lado eu precisava ceder, também podia aproveitar e conseguir maior
liberdade em
outros quesitos.
Eu estava na
cozinha esperando o café ficar pronto quando Cary apareceu.
Ele estava
lindo, vestindo uma calça de moletom da San Diego State University,
com os cabelos
castanhos amassados e a barba por fazer em seu queixo reto.
“Bom dia, gata”, murmurou,
dando um beijo na minha testa.
“Acordou
cedo, hein?”
“Olha só
quem fala.” Ele pegou duas canecas no armário e o leite na geladeira,
trouxe tudo
até mim e ficou me observando. “Está tudo bem?”
“Tudo bem. É
sério”, insisti quando vi a expressão de ceticismo no rosto
dele. “Joseph
cuidou de mim.”
“Legal, mas
você sabe que é por causa dele que está estressada a ponto de
ter pesadelos, né?”
Enchi as
duas canecas de café, acrescentando açúcar à minha e leite às
duas. Contei
a ele sobre Corinne e o jantar no Waldorf, além da discussão com
Joseph sobre sua atitude
suspeita no Crossfire.
Cary estava
apoiado contra o balcão, com as pernas cruzadas na altura do
calcanhar e
um dos braços sobre o peito. Deu um gole no café. “Ele não quis
explicar?”
Sacudi a
cabeça, percebendo como estava incomodada com aquele silêncio
da parte de
Joseph. “E você? Como estão as coisas?”
“Vai mudar
de assunto mesmo?”
“Não tenho
mais o que dizer. Agora só depende dele.”
“Você já
parou pra pensar que Joseph pode guardar segredos pra sempre?”
Franzindo o
rosto, baixei a caneca. “Como assim?”
“Ele tem
vinte e oito anos e é dono de quase metade de Manhattan. O pai
dele era um
notório trambiqueiro que cometeu suicídio.” Cary ergueu uma das sobrancelhas em
sinal de desafio. “Pense bem. Será que uma coisa não tem
mesmo nada a
ver com a outra?”
Baixei os
olhos para a caneca, dei um gole e preferi não dizer que já havia
pensado a
mesma coisa. A dimensão da fortuna e dos negócios de Joseph era atordoante,
principalmente
levando em conta sua idade. “Não acredito que
Joseph
esteja enganando as pessoas. Ele gosta de desafios, e conseguir algo
honestamente
é muito mais
desafiador.”
“Sabendo o
quanto ele faz questão de guardar segredos, você acha que o
conhece tão
bem assim a ponto de ter certeza disso?”
A lembrança
do homem com quem tinha passado a noite não permitia que
eu duvidasse
da minha resposta — pelo menos não naquele momento. “Acho.”
“Tudo bem,
então.” Cary deu de ombros. “Falei com o doutor Travis
ontem.”
Minha
atenção foi imediatamente atraída quando ele mencionou nosso
terapeuta da
época de San Diego. “É mesmo?”
“É. Pisei na
bola feio mesmo naquela noite.”
Pelo
nervosismo que demonstrou ao tirar a franja do rosto, percebi que estava
falando da
orgia que eu tinha flagrado.
“Jonas
quebrou o nariz de Ian e cortou o lábio dele”, Cary contou,
lembrando-me
da reação violenta de Joseph ao fato de o cara ter proposto que
eu me
juntasse a eles. “Encontrei Ian ontem, e parece que ele levou uma tijolada
na cara. Ele
perguntou quem foi que fez aquilo, pra poder abrir um processo.”
“Nossa.”
Prendi o fôlego por alguns instantes. “Puta merda.”
“Pois é.
Processar um bilionário é tirar a sorte grande. O que é que ele tem
na cabeça?”
Cary fechou os olhos e os esfregou. “Eu disse que não sabia quem
era, que
devia ser um cara que você conheceu por aí e levou pra casa. Jonas
apareceu do nada, então Ian não
viu porra nenhuma.”
“As duas
meninas deram uma boa olhada para Joseph”, constatei, mal-humorada.
“Elas saíram
por aquela porta” — Cary apontou para o outro lado da sala
como se a
porta tivesse acabado de ser batida — “que nem duas baratas tontas.
Não foram
com a gente até o pronto-socorro, e ninguém sabe quem elas são. Se
Ian nunca
mais cruzar com elas, está tudo certo.”
Senti um
frio na barriga, e meu estômago embrulhou de novo.
“Vou ficar
de olho nessa história”, ele me garantiu. “Aquela noite foi um
sinal de
alerta pra mim, e conversar sobre isso na terapia me fez entender algumas
coisas.
Depois fui ver Trey. Pra me desculpar.”
Ouvir o nome
do Trey me deixou triste. Eu estava torcendo para que sua
recém-iniciada
relação com aquele estudante de veterinária desse certo, mas no
fim, como sempre, Cary tinha
estragado tudo. “E como é que foi?”
Ele encolheu
os ombros de novo, mas de um jeito meio estranho. “Outro
dia ele
ficou magoado comigo porque fui um idiota. Dessa vez ele ficou magoado
comigo
porque tentei fazer a coisa certa.”
“Vocês
terminaram?” Estendi minha mão para apertar a dele.
“A coisa
esfriou bastante. Praticamente congelou. Ele quer que eu seja gay,
mas não vai
rolar.”
Era doloroso
saber que Trey queria que Cary fosse diferente, porque era
exatamente
isso que as pessoas tinham exigido dele durante toda sua vida. Eu
não entendia
por quê. Para mim, ele era maravilhoso. “Sinto muito, Cary.”
“Eu também,
porque ele é ótimo. Só que não estou a fim de encarar as
complicações
de um relacionamento sério. Estou trabalhando demais. Não estou
pronto pra
ter minha vida virada de cabeça pra baixo.” Ele sorriu. “Você devia
pensar um
pouco nisso também. A gente acabou de se mudar. Ainda temos um
monte de coisa pra resolver.”
Concordei com
a cabeça. Entendia o que ele queria dizer, mas não estava
disposta a
abrir mão de minha relação com Joseph. “Você conversou com Tatiana
também?”
“Não.” Ele
acariciou meus dedos com o polegar antes de soltar minha mão.
“Com ela é
tudo bem fácil.”
Dei uma
risadinha sarcástica e bebi um gole do meu café quase frio.
“Não foi isso que eu quis dizer”, ele se
corrigiu com um sorrisinho malicioso.
“É que ela
não espera nada, nem pede nada em troca. Desde que eu compareça
e ela goze
também, está tudo certo. A gente se dá bem, e não só porque
ela faz todo
tipo de maluquice na cama. É legal ficar com alguém que só quer se
divertir sem
dar dor de cabeça pra ninguém.”
“Joseph me
conhece. Ele me entende, e está tentando me ajudar com meus
traumas. Ele
está se esforçando, Cary. Pra ele também não é nada fácil.”
“Você acha que Jonas deu uma
rapidinha com a ex na hora do almoço?”,
ele
perguntou sem rodeios.
“Não.”
“Tem
certeza?”
Respirei
fundo, tomei mais um gole de café e admiti: “Quase. Não acho que
ele esteja
transando com ninguém além de mim. É sempre tão quente... Mas
essa mulher
tem algum tipo de poder sobre Joseph. Ele diz que é remorso, mas
isso não
explica a fixação por morenas”.
“Mas explica
por que você perdeu a cabeça e bateu nele... Você não suporta
a ideia de
que ela esteja por perto. E ele se recusa a dizer o que está acontecendo.
Isso não me
parece muito saudável.”
E não era.
Eu sabia disso. E não estava nem um pouco satisfeita. “A gente
falou com o
doutor Petersen ontem depois do trabalho.”
Cary ergueu as sobrancelhas. “E
como foi?”
“Bom, ele
não disse pra gente ficar o mais longe possível um do outro nem
nada do
tipo.”
“E se ele
disser? Você vai aceitar?”
“Dessa vez
não vou fugir quando a coisa ficar feia. Estou falando sério,
Cary.” Olhei
bem para ele. “Você acha que eu ainda estaria nessa se não fosse
capaz de
segurar a onda?”
“Gata, esse
Jonas é um tsunami.”
“Rá!” Dei
risada, mesmo sem querer. Cary era capaz de me fazer sorrir
mesmo quando
eu sentia vontade de chorar. “Pra dizer a verdade, se as coisas
não derem
certo com Joseph, duvido que eu consiga me acertar com alguém um
dia.”
“Você só está dizendo isso
porque a sua auto estima está lá embaixo.”
“Pelo menos
ele sabe como sou problemática.”
“Então tá
bom.”
Foi a minha vez
de erguer as sobrancelhas. “Então tá bom?” Ele tinha se
convencido
muito facilmente para o meu gosto.
“Eu não
entendo, mas respeito.” Cary pegou minha mão. “Agora vamos
pentear
esses cabelos.”
Abri um
sorriso de gratidão. “Você é o máximo.”
Ele bateu o quadril contra o
meu. “Não vou te deixar esquecer isso.”
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Pessoal, sei que não peço para seguir o blog nem comentar por que sei que é chato,mas queria saber a opnião de vocês sobre a estória se estão gostando e tal.
Bom, eu nao sigo o blog porque ate hoje nao tive tempo de entrar pelo computador, mas gosto muito da historia, e comendo sempre que da dmsnna
ResponderExcluirSera que rola mais um capitulo hoje?? Kkkkk
Por favoooor
Xoxo
Meu problema é o mesmo kkkk! Nunca entrei pelo computador pq no celular é mais prático kkkk. Amoooo a historia e sempre q posso comento!!
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